FRAGILIDADES NAS INTERAÇÕES ENTRE AVES E PLANTAS EM ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO
Cerrado, Dispersão de sementes, Ecologia de aves, Frugivoria, Mata Atlântica, Redes ecológicas
A dispersão de sementes é um processo fundamental para o ciclo de vida das plantas. As
angiospermas desenvolveram diferentes estratégias para garantir o deslocamento dos seus
diásporos. Nas florestas topicais, a dispersão é realizada principalmente através de
interações com diferentes grupos de animais. As aves representam um dos mais
importantes. Entretanto, o cenário atual (Antropoceno) é caracterizado por um intenso
desmatamento e defaunação, e as interações ecológicas estão entre as mais frágeis. Um
grande esforço vem sendo empreendido para compreender os aspectos relacionados a
perda destas interações. Dentro deste contexto, o objetivo geral da tese foi investigar os
fatores que colocam em risco os processos de dispersão de sementes por aves em duas
áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade (hotspots). Inicialmente,
avaliamos a influência da fragmentação ambiental, através do acompanhamento das
interações em dois estados de conservação do Cerrado (stricto sensu): uma área
fragmentada e uma área contínua (conservada). Em seguida, avaliamos como a relação
morfológica entre a capacidade de ingestão (largura de bico) das aves dispersoras e o
tamanho dos diásporos ornitocóricos (frutos e sementes com atributos atrativos às aves)
pode direcionar os processos de dispersão em um fragmento de Mata Atlântica.
Interpretamos esses resultados à luz das métricas utilizadas na construção de redes de
interações e através de observações empíricas das interações. Verificamos que no
Cerrado, a fragmentação ambiental influencia negativamente na diversidade da guilda de
aves dispersoras e nas comunidades vegetais, além de provocar a homogeneização
funcional, direcionando a predominância de interações entre aves generalistas e plantas
com diásporos pequenos (≤ 10 mm). Nossos resultados também demonstram que em
fragmentos florestais a correlação entre o tamanho dos diásporos e a largura de bico das
aves atua como um filtro no processo de dispersão. Observamos que a resiliência
dispersiva é menor nas interações envolvendo diásporos maiores (≥ 15 mm). Também
trazemos um interessante estudo de caso, onde a incompatibilidade morfológica entre a
largura do bico de Hemithraupis guira (Thraupidae) e o tamanho das sementes de
Cupania oblongifolia (Sapindaceae), parece atuar como uma pressão (a nível individual),
favorecendo o desenvolvimento de traços comportamentais para otimizar o
forrageamento. Por fim, trazemos um artigo de divulgação científica, onde apresentamos
em uma linguagem acessível ao público em geral o tema da tese e parte dos resultados
encontrados nos capítulos anteriores. Em geral, nossos resultados demonstram que os
impactos antrópicos afetam a estrutura e a organização das redes de interações aves-
diásporos. A dependência mútua das espécies envolvidas se torna um grande desafio para
a conservação das interações.