CONTAMINAÇÃO POR RESÍDUOS PLÁSTICOS EM BOTO-CINZA (Sotalia guianensis) NO LITORAL DO CEARÁ, BRASIL
mamíferos marinhos, impactos antrópicos, sentinela, bioindicador, atlântico tropical.
Onipresentes nos ambientes aquáticos, os resíduos plásticos apresentam uma forte
ameaça à biodiversidade marinha. Como predadores de topo, os cetáceos estão expostos à
contaminação por diferentes vias: ingestão ativa, passiva e transferência trófica. O objetivo
deste estudo foi investigar a contaminação por macro (>5mm) e microplásticos (<5mm) em
botos-cinza encalhados mortos na costa do estado do Ceará (Oceano Atlântico Ocidental). Os
estômagos e/ou conteúdos estomacais de botos-cinza (n=40) foram coletados ao longo de uma
década (2011 a 2021). As partículas foram isoladas através de digestão em solução KOH 10%,
visualmente identificadas, quantificadas e caracterizadas de acordo com formato e cor. Uma
subamostra das partículas teve sua composição polimérica identificada pelo Infravermelho
Direto à Laser (LDIR). No total foram identificadas 325 partículas (0,018 a 13,744 mm),
correspondendo a 95% de contaminação entre os indivíduos analisados. A maioria das
partículas foram classificadas como microplásticos, enquanto apenas seis partículas eram
maiores que 5mm. Considerando os microplásticos, foram detectados 7.97 ± 1.33 (±erro
padrão) partículas por indivíduo, com um tamanho médio de 0.36 ± 0.03 mm. Não houve
diferença significativa em relação a sazonalidade, ontogenia e os setores da região costeira do
Ceará. Porém, no período chuvoso foram detectadas as partículas menores (p<0.05), assim
como no setor oeste do litoral (p<0.05). O trabalho revelou ameaça para o boto-cinza não
descrita previamente. Além disso reforça a viabilidade do uso de cetáceos como bioindicadores
dos ecossistemas aquáticos em relação a poluição plástica.