Efeito das macrófitas como habitat na interação entre fitoplâncton- zooplâncton na presença de peixes planctívoros em reservatórios tropicais com diferentes estados tróficos.
Comunidade zooplanctônica, controle ―top-down‖, interações tróficas, macrófitas flutuantes e submersas.
A presente pesquisa teve como objetivo analisar a interação trófica entre o fitoplâncton,
zooplâncton e peixe na presença e ausência de macrófitas flutuantes e submersas em dois
reservatórios tropicais, localizados no Nordeste do Brasil, reservatório Cursaí e Cajueiro.
Amostragens trimestrais foram realizadas entre novembro/2018 e novembro/2019 para coleta
e análises do fitoplâncton, zooplâncton, peixes, macrófitas flutuantes e submersas, nutrientes e
outras variáveis abióticas. As coletas foram realizadas em nove pontos amostrais em cada
reservatório: três sem macrófitas, três em bancos de macrófitas flutuantes e três em bancos de
macrófitas submersas. O efeito das macrófitas sobre a diversidade taxonômica e funcional do
fitoplâncton foi avaliado através dos índices de diversidade taxonômica (riqueza,
equitabilidade e índice de Shannon) e funcional (riqueza - FRic, equitabilidade - FEve e
divergência - FDiv). Além do monitoramento de campo, um experimento in situ foi realizado
no reservatório Cursaí para avaliar o controle top-down e bottom-up promovido pelo peixe
Astyanax lacustris e analisar os efeitos da morfologia de macrófitas flutuantes e submersas na
interação trófica. O experimento teve duração de dez dias e consistiu em quatro tratamentos (n
= 3): um controle (C) sem peixes, e tratamentos com adição de peixes (+F), peixes +
macrófita flutuante (+FFM) e peixe + macrófita submersa (+FSM). Nos tratamentos com
macrófitas foram adicionadas plantas artificiais como refúgio para o zooplâncton e Chaoborus
(predador invertebrado). As macrófitas exerceram efeitos positivos na riqueza taxonômica,
índice de Shannon e FDiv em Cajueiro, e efeitos negativos na equitabilidade taxonômica e
FEve do fitoplâncton em Cursaí. A diversidade funcional do fitoplâncton foi influenciada
negativamente pela transparência da água e positivamente pelos sólidos totais dissolvidos, pH
e nitrato em locais com macrófitas. O fitoplâncton foi classificado em grupos funcionais com
base no tamanho e forma de vida e o zooplâncton com base no tipo de estratégias de
alimentação. As macrófitas favoreceram o aumento dos efeitos bottom-up sobre o
fitoplâncton e o zooplâncton no reservatório Cajueiro. Em águas abertas, o fitoplâncton
unicelular e flagelado foi influenciado positivamente pelo nitrato e fosfato inorgânico,
enquanto o fitoplâncton colonial, filamentoso, pequeno, médio e grande foi positivamente
influenciado pelo fósforo total e nitrito. O fitoplâncton colonial, representado principalmente
por cianobactérias filamentosas, esteve positivamente relacionado com o zooplâncton nas
áreas com macrófitas, e o fitoplâncton flagelado esteve negativamente relacionado nas áreas
de águas abertas. O experimento mostrou que A. lacustris exerceu efeito top-down no
zooplâncton e bottom-up no fitoplâncton, e o Chaoborus interferiu no funcionamento das
redes tróficas. As macrófitas submersas foram eficientes como refúgio para os copépodos e
Chaoborus, enquanto as macrófitas flutuantes favoreceram o aumento na biomassa das
cianobactérias, desmídeas e diatomáceas. As macrófitas flutuantes e submersas
desempenharam diferentes papeis nas interações entre as comunidades aquáticas e Astyanax
lacustris foi um modificador da rede trófica nos reservatórios estudados, assim como o
Chaoborus que aumentou para quatro os níveis tróficos no reservatório Cursaí. O nosso
estudo contribuiu para o entendimento do papel das macrófitas sobre as interações tróficas e
pode se tornar importante ferramenta para ações de biomanipulação em reservatórios
tropicais.