FRAGILIDADE NAS INTERAÇÕES ENTRE AVES E PLANTAS EM ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO
Cerrado, Dispersão de sementes, Ecologia de aves, Frugivoria, Mata Atlântica, Redes ecológicas
As angiospermas desenvolveram diferentes estratégias para garantir a dispersão das suas
sementes. Nas florestas tropicais, essa etapa reprodutiva é principalmente conduzida por
interações mutualísticas, que envolvem diversos grupos de animais. As aves
compreendem um dos mais importantes, devido à alta diversidade de espécies frugívoras
e a grande capacidade de deslocamento. Entretanto, no cenário atual de intenso
desmatamento e defaunação, interações bióticas estão entre as mais vulneráveis. A
presente tese tem como objetivo analisar os fatores que ameaçam o equilíbrio das relações
ecológicas envolvidas no processo de dispersão de sementes por aves em áreas prioritárias
para a conservação da biodiversidade. Buscamos atingir esse objetivo a partir de duas
abordagens. Inicialmente, avaliamos a influência da fragmentação ambiental. Os dados
foram coletados em duas áreas de Cerrado (stricto sensu) localizadas no estado de Goiás,
centro oeste do Brasil. Em uma segunda abordagem, avaliamos como a correlação
morfológica entre a capacidade de ingestão (largura de bico) das aves dispersoras e o
tamanho dos diásporos ornitocóricos (frutos e sementes dispersos por aves) pode
direcionar o processo de dispersão de sementes. Os dados foram coletados na Reserva
Biológica de Pedra Talhada, um fragmento de Mata Atlântica (cerca de 4.000,00 ha)
localizado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, nordeste do Brasil. Os dados estão
sendo mensurados por meio de métricas utilizadas na construção de redes de interações,
associadas a análises de observações empíricas do comportamento alimentar das aves. A
tese está estruturada em três capítulos. No primeiro, procuramos entender como a
fragmentação ambiental pode influenciar na composição da guilda de aves dispersoras,
bem como, nas interações envolvidas na dispersão de sementes, comparando uma área
preservada de Cerrado e uma área fragmentada (através de levantamento avifaunístico e
botânico, observações visuais dos eventos de frugivoria e construção de redes de
interações). No segundo capítulo, procuramos entender como o tamanho dos diásporos e
a capacidade de ingestão das aves pode ser um fator determinante para a dispersão
(através de levantamento avifaunístico e botânico, acompanhamento das interações em
campo, mensuração dos diásporos, mensuração bicos em coleções ornitológicas e
construção de redes de interações). No terceiro capítulo, trazemos um estudo caso, onde
a incompatibilidade morfológica entre a largura do bico de Hemithraupis guira
(Thraupidae) e o tamanho dos diásporos de Cupania oblongifolia (Sapindaceae), pode
atuar como uma pressão ambiental que favorece o uso de diferentes estratégias para
otimizar a alimentação.