DESENVOLVIMENTO DE FORMA FARMACÊUTICA À BASE DE Cannabis sativa L. E AVALIAÇÃO DE SUA ATIVIDADE
ANTIULCEROGÊNICA.
Cannabis; raiz; úlcera; etanol; N-trans-feruloiltiramina.
A utilização medicinal de Cannabis sativa L. acompanha a história da humanidade desde os seus primórdios. Entretanto, os efeitos psicoativos da planta fizeram com que ela fosse banida de diversos países, sendo o seu plantio, comercialização e utilização reprimidos por agências de segurança. Porém, nas últimas décadas esse quadro tem sido mudado paulatinamente, com países flexibilizando a legislação e oportunizando o desenvolvimento de pesquisas e medicamentos à base da planta. Nesse contexto, a utilização medicinal da cannabis também vem ganhando espaço, inclusive no Brasil, onde a planta até há pouco tempo classificada como de uso proscrito passou a ter a prescrição de seus derivados autorizada mediante controle especial. Com base nisso, o objetivo deste trabalho foi caracterizar quimicamente o extrato obtido a partir das raízes da planta, que é utilizada na medicina popular para o tratamento de diversos problemas de saúde. Além disso, os efeitos gastrointestinais desse extrato foram avaliados in vivo em modelo agudo de lesões gástricas induzidas por etanol. Para isso, um extrato (EAqCs) foi obtido a partir da decocção do pó das raízes em água ultrapura e posterior secagem por liofilização. O EAqCs foi submetido a análises por espectrometria de infravermelho com transformada de Fourier (FT-IR), ressonância magnética nuclear (RMN) de 1H e 13C, cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a detector de arranjo de diodos (CLAE-DAD) e cromatografia líquida acoplada a espectrometria de massas (CLAE-EM). Os dados obtidos por CLAE-EM foram submetidos a análise espectral no Global Natural Products Social Molecular Networking (GNPS), através do qual uma rede molecular foi criada para a identificação das substâncias presentes no extrato. Os resultados das análises químicas realizadas sugerem a presença de compostos fenólicos e nitrogenados no EAqCs. Pelo menos três amidas fenólicas foram constatadas no extrato através da análise espectral. Uma delas, a N-trans-feruloiltiramina, também teve sua presença confirmada no EAqCs através da CLAE-DAD. Entretanto, pelo menos na dose avaliada, 50 mg/kg, o EAqCs não apresentou atividade gastroprotetora frente às lesões induzidas por etanol. Mais estudos são necessários para aprimorar a extração de compostos que possam apresentar efeito gastroprotetor.