VICUS IUDAEU: REDES DE COMÉRCIO JUDAICO NAS ALAGOAS NO PERÍODO NEERLANDÊS (1636 - 1646)
Alagoas. Presença judaica. Comércio colonial.
A presença judaica nas Alagoas, parte austral da Capitania de Pernambuco, é habitualmente abordada pela historiografia no que se refere à tolerância religiosa, às obras urbanísticas e aos feitos militares de Nassau. Em outros casos, Alagoas é retratada como um local de ações belicosas, uma área de disputa pela zona de produção de alimentos e de passagem de tropas durante as guerras luso-neerlandesas, sendo o Rio São Francisco um espaço de fronteira. Contudo, Alagoas ainda não havia sido estudada a partir dos aspectos econômicos da rede clientelista judaica estabelecida em seus espaços urbanos coloniais no século XVII. Desse modo, nossa pesquisa está centrada nessa rede clientelista judaica que vivia e comercializava nas três vilas das Alagoas: Porto Calvo dos Quatro Rios, Santa Maria Magdalena da Alagoa do Sul e Penedo do Rio São Francisco. Estas tinham como figura central Samuel Velho, um mercador sefardita. Nessa perspectiva, notamos que os judeus que migraram para o Brasil neerlandês não ficaram restritos apenas ao Recife; muitos se dirigiram para outros lugares da capitania, e tiveram participação ativa no comércio de escravizados, comércio de retalho, imobiliário e produtos coloniais. O ponto de partida para esse estudo foi o registro sobre a prisão de dez judeus pelos portugueses no Forte Mauritius. Estes eram membros dessa rede clientelista, e suas atividades foram relatadas nos processos inquisitórios, o que nos levou a investigar a organização dessa rede de comércio que havia nas Alagoas no período neerlandês. Para a pesquisa, foram utilizadas fontes provenientes do Arquivo da Companhia das Índias Ocidentais, como as Atas Diárias (Dagellijkse notulen), relatórios de funcionários da Companhia no Brasil, fontes oriundas do Arquivo da cidade de Amsterdã e Processos da Inquisição do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.