A ATUAÇÃO DE MULHERES NO MOVIMENTO NEGRO ALAGOANO (1980-1988): ENTRE ENCONTROS, MARCHAS E JORNADAS
Feminismo Negro; Redemocratização; Associação Cultural Zumbi; Mulheres Negras; Narrativas.
Em Alagoas, o movimento negro se organiza no final dos anos 1970, trilhando a sua trajetória nas terras palmarinas em meio à vigência da ditadura civil-militar (1964-1985). A Associação Cultural Zumbi (ACZ) buscou estratégias de intervenção para fortalecer a luta antirracista no estado, através de atividades políticas e pedagógicas, bem como nas articulações para o tombamento da Serra da Barriga. Esta pesquisa tem como objetivo analisar a atuação das militantes negras da ACZ no período 1980-1988, identificando suas principais bandeiras de luta e esferas de atuação. Nosso propósito foi promover um debate acerca do Movimento de Mulheres Negras, e de como ele foi fundamental tanto para a organização e mobilização negra em busca de justiça social, devido ao cerceamento de direitos, quanto como uma resposta do descontentamento feminino devido à secundarização de suas especificidades no movimento negro e feminista. Neste trabalho tomamos Kimberle Crenshaw (2004) como referencial teórico-metodológico ao propor a análise dos marcadores sociais enquanto vulnerabilidades interseccionais imbuídas das violências de raça, classe e gênero, categorias que atuam concomitantemente. Nesse sentido, analisamos as narrativas das militantes negras do movimento negro de Alagoas no período supracitado, suas experiências de vida, redes de apoio, estratégias de organização e seus contatos com o feminismo negro, tendo como suporte metodológico para a realização de entrevistas a História Oral. Verena Alberti (2005) é um referencial no que cerne as pesquisas que envolvem os relatos orais como um método de pesquisa. A História Oral trata-se da análise de diferentes contextos históricos experienciados por grupos sociais através da contribuição dos depoimentos de pessoas. Tomamos como corpus de análise, produções historiográficas que adotaram as categorias de raça, classe e gênero sob a perspectiva das mobilizações femininas nos eventos regionais e nacionais, relatos orais de militantes negras, documentações audiovisuais de encontros de mulheres negras e relatórios. A pesquisa nos fez perceber que o Movimento de Mulheres Negras no Brasil na década de 1980 foi um impulsionador para a articulação feminina desencadeando uma independência do Movimento Negro, pois, nascida do interior do MNU e de outras entidades negras, as militantes se propuseram tecer a sua própria entidade, não necessariamente desvinculada do Movimento Negro tendo em vista que a luta pela superação do racismo é a premissa de ambos movimentos, todavia, a busca pela visibilidade das opressões de raça, classe e gênero foi incentivo para a criação de uma nova mobilização. Ao nos voltarmos para o cenário alagoano, notamos a influência do feminismo negro para as militantes da ACZ, de modo que a realização da Jornada da Mulher Negra Alagoana em 1988, um evento preparatório para o I Encontro Nacional de Mulheres Negras, foi fundamental para ampliar o debate racial das alagoanas, considerando o gênero como umas das violências que perpassam mulheres negras.