UMA LIGA CAMPONESA “COMPOSTA DE CABOCLOS DA SERRA”: OS XUKURU DO ORORUBÁ E A LIGA CAMPONESA CLEMENTINO DA HORA (PESQUEIRA-PE, 1948-1969)
Xukuru; Ditadura Civil-Militar; Ligas Camponesas; Pesqueira
No contexto inicial da Ditadura Civil-Militar no Brasil, foram instaurados inquéritos visando investigar atos considerados subversivos ou contrários ao considerado “regime democrático”. Nesse cenário, no início de maio de 1964, foi aberto o Processo de Investigação Sumária nª 85, no intuito de analisar a “invasão” ocorrida no ano anterior ao sítio Pedra d’Água, área pertencente ao antigo aldeamento de Cimbres, cedida pela Prefeitura de Pesqueira-PE à União. A questão central desta dissertação reside na associação de indígenas Xukuru do Ororubá à Liga Camponesa no ato investigado pelo Processo. Esta análise partiu de uma perspectiva da suposta “invasão” não como uma subversão, mas como uma retomada, ou seja, uma forma utilizada pelos indígenas para garantir os direitos sobre esse território. O estudo desse movimento torna-se mais importante a partir do entendimento de que a Liga foi batizada com o nome de um voluntário Xukuru na Guerra do Paraguai — Clementino da Hora —, e a área retomada pela organização trata-se de território com importância para a realização de rituais religiosos por estes indígenas. Apesar disso, as notícias e documentos oficiais sobre o tema raramente citam os Xukuru nessa movimentação. Ademais, tal intersecção entre as Ligas e os Xukuru se mostra bastante significativa para o entendimento prático do conceito de territorialização e para uma análise das formas de resistência e reivindicação adotadas por esses indígenas em sua relação com o Estado.