"Vidas em risco": o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e o combate ao extermínio de crianças e adolescentes em situação de rua (Recife, 1991 - 1998)
Movimento social; infâncias; extermínio.
O trabalho busca historicizar as mobilizações do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) contra o extermínio de crianças e adolescentes em situação de rua no Recife, entre os anos de 1991 e 1998. O MNMMR surge em 1985 no contexto da redemocratização do Brasil, da mobilização pela conquista e efetivação dos direitos das crianças e dos adolescentes e da reestruturação do atendimento às crianças e aos adolescentes em situação de vulnerabilidade social. O Movimento, desde a segunda metade da década de 1980, denuncia em publicações, pesquisas, relatórios, intervenções e passeatas o alto índice de meninos e meninas em situação de rua que eram exterminados nas grandes cidades brasileiras como o Recife, uma das capitais onde mais se exterminavam crianças e adolescentes em situação de rua no Brasil. O recorte temporal escolhido visa contemplar as mobilizações do MNMMR contra o extermínio entre a diligência realizada em Pernambuco pela Comissão Parlamentar de Inquérito (1991 – 1992) destinada a investigar o extermínio de crianças e adolescentes no Brasil, em setembro de 1991, e o V Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua, em novembro de 1998, onde o Movimento discute as várias violências que atingem os meninos e as meninas em situação de rua. Nossa metodologia de trabalho busca valorizar as experiências e os saberes advindos do movimento social, a partir do caminho traçado por Catherine E. Walsh (2019). Assim nossas fontes para a análise são “entrevistas temáticas” de História Oral realizadas com militantes do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e o jornal “O Grito do Meninos e Meninas de Rua”, publicação oficial do MNMMR em Pernambuco. Em nosso trabalho, das práticas e saberes do MNMMR, entendemos o extermínio não simplesmente como um assassinato, mas como um crime político que é planejado por um grupo pessoas visando a eliminação de determinados setores da sociedade, de “responsabilidade política” de toda a sociedade e como fruto da desigualdade socioeconômica que era latente no Recife no período. Compreendemos também que a vida das crianças e adolescentes em situação de rua era relegada por parte da sociedade à condição de “precariedade”, conceito desenvolvido por Judith Butler.