UMA ESCOLHA FEMININA? MULHERES E CONTRACEPÇÃO NA CIDADE DO RECIFE (1970-1979)
Contracepção; Mulheres; Pílula; Recife
O presente estudo busca analisar como ocorreu o debate sobre a contracepção feminina na cidade do Recife, sobretudo, da pílula anticoncepcional, a partir das edições dos jornais Diário de Pernambuco, Diário da Manhã e Jornal da Cidade, durante a década de 1970. O trabalho se insere em um contexto histórico caracterizado por mudanças no que se refere as atribuições das mulheres. Com a construção de um ideal feminino, ainda no início do século, os comportamentos e espaços definidos para as mulheres eram restritos. Foi a partir da década de 1960, com a repercussão da chamada Revolução Sexual e dos movimentos feministas, que isso foi se modificando no Ocidente. Entre as questões que contribuíram para uma transformação nas relações de gênero, pode-se destacar a popularização dos métodos contraceptivos modernos. A possibilidade de uma vida sexual não associada a procriação modificou não só as relações heterossexuais, mas também outros aspectos da vida cotidiana. Apesar disso, essas mudanças ocorriam de forma distinta dependendo da questão racial e da desigualdade social vivenciada pelas mulheres. No Brasil, esse processo fica marcado por um momento político autoritário, iniciado com o golpe civil-militar de 1964. Este cenário interferiu na forma como a pílula chegou ao país e na atuação dos movimentos feministas brasileiros. Nessa perspectiva, a partir dos trabalhos de teóricos como Michel Foucault e Paul Preciado e da documentação selecionada, são apresentados os principais temas relacionados à discussão desse contraceptivo moderno na capital pernambucana, trazendo como resultado um panorama geral sobre os comportamentos das mulheres na cidade do Recife, as disputas relativas ao corpo feminino e a presença de entidades de planejamento familiar no estado. Por meio dos jornais é possível compreender como se deu a construção do imaginário acerca da pílula e de seus efeitos colaterais e comportamentais, além da tentativa de silenciamento promovida pela imprensa sobre a relação da pílula com a liberdade sexual feminina, sendo fortalecida a associação entre contracepção e controle populacional, autorizada por discursos masculinos.