A persistência medieval no espaço-tempo e nas representações das mulheres da obra o remorso de baltazar serapião, de Valter Hugo Mãe
Idade Média; Espaço; Tempo; Mulheres; Condição Feminina; Valter Hugo Mãe; o remorso de baltazar serapião.
Na maioria das obras ficcionais de Valter Hugo Mãe o tema do feminino se faz presente e está frequentemente associado a uma visão da condição negativa do “ser mulher”. Além disso, a representação da condição feminina em suas obras está intimamente atrelada à dor e ao sofrimento, propondo diversas aparições de mulheres advindas de um ambiente familiar e religioso, muitas vezes, machista. Com base nisso, a atual pesquisa se propõe a investigar como a representação das mulheres na obra o remorso de baltazar serapião [2006]/(2018) apresenta o conjunto de desafios, questões e dificuldades específicas que as mulheres enfrentam em diferentes contextos sejam eles sociais, históricos, culturais, de modo a evidenciar a posição crítica do autor quanto à condição feminina carregada de um simbolismo negativo e pessimista a partir de um cenário marcado pela barbárie e alegórico à Idade Média. Para isso, investigamos os debates sobre o ser feminino e focalizamos a representação das personagens femininas a partir dos seus estereótipos, bem como os recursos e as estratégias narrativas na apresentação do enredo, atentando para o simbolismo que a escrita de Mãe elabora para criticar visões que ainda permanecem sobre as diferentes experiências do “ser mulher”. Em nossas discussões, para compreender a relação indissociável do espaço-tempo, trabalhamos com o conceito de cronotopia de Michael Bakhtin (2014) e heterotopia de Michael Foucault (2013). Quanto à temática da condição feminina, estão representados neste aporte teórico os estudos de Pierre Bourdieu (2024), Michelle Perrot (2005), George Duby (2011) e Duby e Perrot (1994). De tal maneira, para discutirmos a representação das mulheres, apoiamo-nos nas contribuições teóricas primeiramente de Stuart Hall (2016) com o conceito de estereotipagem e, posteriormente, com Duby e Perrot (1994) e José Rivair Macedo (2002), dentre outras autoras e autores. Para tratar da escrita de Valter Hugo Mãe, que compactua em sua própria tecitura textual com a representação do sujeito feminino, trouxemos para o escopo teórico os estudos sobre a obra das autoras Maria de Lourdes Pereira (2016), Isabel Cristina Mateus (2016) e Rafaella Teotônio (2016). Ao fim, nossa proposta é revelar, a partir do romance estudado, que o escritor desnuda e busca na literatura uma revisão que pretenda traçar os mecanismos de dominação patriarcal responsáveis por subjugar e oprimir as mulheres. Diante disso, propor um debate sobre a ótica masculina de Valter Hugo Mãe se justifica ao buscar entender as mulheres pela perspectiva da escrita masculina que configura um passado onde a literatura feita por homens sobre mulheres foi a que sempre prevaleceu.