POR UM BURACO DA FECHADURA: a literatura pornográfica no jornal oitocentista brasileiro.
O Rio Nu: Belle Époque; Jornal Pornográfico: Romance folhetim; História da Literatura.
Os jornais do Brasil do século XIX e início do século XX demonstram uma sociedade em plena reestruturação e busca por uma nova identidade no pós-monarquia. Dentre vários periódicos que surgiram nesse período, um se destacou devido sua temática pornográfica e crítica, que foi O Rio Nu (1898-1916). Em suas páginas, ele tecia críticas à sociedade em seus aspectos políticos e morais por meio de anedotas, charges, crônicas, poemas, versos, romances folhetins, entre outros. O jornal foi um exímio divulgador de literatura, fortificando a comunidade leitora recémformada na época. O presente trabalho objetiva mostrar como o romance folhetim pornográfico O Buraco (1899) e seu autor, o alagoano José Ângelo Vieira de Brito, relacionaram-se com essa sociedade, de modo que possamos contribuir para a construção de uma história da literatura que considere tais romances. Para tanto, entendemos esse tipo de obra como uma literatura fantasma, aquela que é massivamente consumida, porém também esquecida/ignorada devido ao seu teor transgressor. Para realização dessa pesquisa foi necessário a busca e entendimento de alguns conceitos relevantes, como o auxílio da História Cultural, a partir de Chartier (2002; 2017; 2022), para compreendermos o jornal como um objeto cultural simbólico, que representa o período em que foi publicado; também fizemos uso dos estudos na área de História da Literatura de Silvo Romero (1888), Abreu (2003; 2014) e Candido (2000; 2011) para demonstramos o percurso da disciplina; no que corresponde aos estudos em pornografia/erotismo, baseamo-nos nas pesquisas de Alexandrian (1993), Goulemot (2000), Hunt (1999) e Maingueneau (2010) no contexto ocidental, bem como El Far (2004), Schettini (1997; 2020), Azevedo (2015), Azevedo e Brito (2021), no âmbito específico dos jornais pornográficos brasileiros; em se tratando da análise do romance folhetim, fizemos uso do conceito de sátira apresentado por Frye (2014) e alegoria destrinchado por Hansen (2006).