Historicidade e Variação: um estudo sobre os manuscritos culinários de Evelina Torres Soares Ribeiro e receitas culinárias dos séculos XIX, XX e XXI
Manuscritos Culinários, Tradição Discursiva, Historicidade, Diacronia.
Os manuscritos culinários ultrapassam o limite da instrução para a preparação dos alimentos. Eles são fontes históricas que possibilitam estudos em várias áreas de conhecimento, permitindo uma análise tanto linguístico-textual quanto social. Diante disso, neste trabalho, analisamos 63 receitas culinárias produzidas em três séculos, XIX, XX e XXI, em diferentes contextos sociais. Tendo como base os fatores linguístico e extra linguísticos tal como o viés sócio-histórico, temos por objetivo analisar o gênero textual receita culinária, investigando sua historicidade, evolução ao longo do tempo, verificando os traços de permanência e mudanças, como também investigar a relevância e a influência dos vários suportes por onde as receitas culinárias circulam. Assim, a escolha e o recorte desse corpus de investigação se justificam na necessidade de ampliação e investigações a respeito da historicidade do gênero textual receita culinária, bem como suas mudanças e transformações no decorrer dos séculos. Poucos são os estudos que investigam esse gênero textual ao longo de três séculos, além dessa análise diacrônica, também contêm, nessa análise, os inéditos manuscritos culinários de Evelina Torres Soares Ribeiro, o que torna essa pesquisa inédita. De tal modo, acreditamos que a investigação diacrônica desse gênero textual auxilia na compreensão nos traços de permanência e mudança em textos inscritos na época atual devido ao desenvolvimento tecnológico das mídias digitais em diferentes suportes. Para tal, esse trabalho sustenta-se no Modelo de Tradição Discursiva, desenvolvido pela filologia pragmática alemã, a qual se caracteriza pela historicidade e tradicionalidade dos elementos constitutivos do texto. Esse modelo de estudo auxilia no reconhecimento e na distinção do gênero, na identificação dos traços de mudança e de permanência do texto e da língua ao longo da história. As perspectivas teóricas de base na Tradição Discursiva são: Kabatek (2006; 2012), Longhin (2014) e Andrade e Gomes (2018). No que tange à variação linguística, Calvet (2002), Faraco (2005) e Paim (2019). Para investigação do gênero textual e dos suportes, Marcuschi (2003, 2009) e Bezerra (2009). Os resultados das análises apontam que o suporte é imprescindível para que o gênero circule na sociedade e deve ter alguma influência na natureza do gênero suportado, pois há casos complexos em que o suporte determina a distinção que o gênero recebe.