VOZES-MÃES: NARRATIVAS MATERNAS EM CONTOS DE CONCEIÇÃO EVARISTO
Palavras-chave: representações; maternidade; mulheres negras; Conceição Evaristo; histórias de leves enganos e parecenças.
A maternidade, como uma experiência ligada à imagem feminina, está presente no imaginário humano e encontra-se representada em diversas expressões culturais. Por sua vez, as representações dessa vivência estão entrelaçadas com questões de gênero, raça e condição social, que, ao longo da história, fundamentaram uma série de estereótipos e idealizações acerca dos papéis maternos, especialmente quando relacionados às mulheres negras. Na literatura tradicional, podemos observar a invisibilidade atribuída às vivências, ao protagonismo e à história das mulheres-mães-negras como uma demonstração dessa realidade, pois essas mulheres raramente ocuparam um lugar de destaque nas páginas literárias, sendo frequentemente retratadas de maneira limitada pelos fragmentos patriarcais e racistas que são remanescentes da escravidão e do colonialismo. No entanto, em nossa contemporaneidade, a produção literária afro-feminina tem contribuído para a reformulação desse cenário. Em virtude disso, o objetivo geral deste estudo é investigar como a experiência da maternidade é configurada nos contos “O sagrado pão dos filhos”, “Fios de Ouro” e “A moça do vestido amarelo”, na obra *Histórias de leves enganos e parecenças* (2016), da referida autora. De modo específico, buscamos analisar como as imagens maternas, a partir das personagens, permitem novas incursões sobre a diversidade do papel materno-negro, em contraste com o reducionismo eurocêntrico, bem como de que modo elas convergem para a ressignificação da história das mulheres-mães-negras no Brasil, no tocante a estereótipos racistas e patriarcais.
A fim de construir uma visão mais ampla acerca do foco investigativo, duas vertentes teórico-críticas foram mobilizadas: os Estudos Culturais na pós-modernidade a partir das contribuições de Hall (2003, 2016) para tratar de questões inerentes aos fatores que incidem sobre as (re)formulações de representações, especialmente as que se relacionam com os processos de racialização e produção de estereótipos; os Estudos de Gênero, que se afirmam alinhados ao Feminismo Negro, subsidiados por Gonzalez (2018, 2020); Collins (2019); Oyěwùmí (2016, 2021) e Vasconcelos (2015) para abordar questões de gênero e raciais interseccionadas com a (res)significação imagética das mulheres-mães-negras, além de Duarte (2009, 2014) e Cuti (2010) no âmbito da crítica literária para nortear as reflexões referentes à literatura.