REPRESENTAÇÕES DAS IDENTIDADES CULTURAIS EM “GUPEVA” E “A ESCRAVA”, DE MARIA FIRMINA DOS REIS, NOS JORNAIS DO SÉCULO XIX
Maria Firmina dos Reis; Imprensa oitocentista; Literatura nos jornais; Representações; Identidades.
Maria Firmina dos Reis tem uma obra diversificada em gêneros literários, contudo, os seus textos em prosa têm a particularidade de tecer críticas às condições sociais que eram impostas as identidades divergentes a do homem branco detentor do poder. Sendo assim, a pesquisa tem como objetivo geral analisar as representações das identidades culturais nas obras “Gupeva” e “A escrava”, que foram veiculadas nos jornais do século XIX. O corpus da pesquisa é constituído pelas versões do romance-folhetim “Gupeva”, que circularam nos periódicos O Jardim das Maranhenses (1861), Porto Livre (1863) e Eco da Juventude (1865) e pelo conto “A escrava”, que foi publicado na Revista Maranhense (1887). Para isso, foram adotados os seguintes objetivos específicos: a) mapear as publicações das narrativas “Gupeva” e “A escrava” nos periódicos do século XIX; b) descrever o corpo editorial dos jornais em que foram veiculados tais textos; c) examinar as identidades dos personagens indígenas e brancos representados em “Gupeva” e d) analisar as representações de negros, pardos e brancos no conto “A escrava”. Deste modo, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, que foi realizada a partir de uma interlocução entre as teorias da História Cultural e dos Estudos Culturais, principalmente para a compreensão dos conceitos de Representação (Chartier, 2009; Hall, 2016) e de Identidade (Hall, 2006, 2014; Woodward, 2014; Silva, 2014). Posto isso, ao longo da investigação serão analisadas as seguintes categorias: a) Negro (Nascimento, 2021; Gonzalez, 2018; Souza, 2021; Fanon, 2020) a partir de uma compreensão do negro não apenas como corpo físico, mas também em termos sociopsicológicos; b) Indígena (Gonzaga, 2022; Potiguara, 2019; Krenak, 2020, 2022), considerando o que é ser indígena e os processos de violência colonial; c) Pardo (Schwarcz, 2012, Ribeiro, 2006; Carneiro, 2011) a fim de compreender a posição e trato para com as pessoas que não eram vistas como brancas ou negras, devido à miscigenação na constituição do brasileiro e d) Branquitude, (Bento, 2022; Schucman, 2014) para entender como se construiu as relações de poder entre pessoas brancas, negras e indígenas ao longo dos séculos. Os resultados da análise demonstram que a literatura produzida por Maria Firmina dos Reis não só entretia o público leitor do século XIX, como tinha interesse em denunciar o sistema escravocrata vigente, bem como evidenciar as relações de poder que eram estabelecidas entre povos de origem, gênero e etnia diferentes, ainda que, por vezes, a autora reforçasse determinados estereótipos que também circulavam nas obras literárias de seus contemporâneos.