A mulher em tempos de guerra: um olhar à questão da figura feminina na obra A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
Campo e cidade; Personagem feminina; A Casa dos Espíritos; Isabel Allende.
Pensar no campo e na cidade para além dos seus aspectos físicos, é reverberar sobre as perspectivas sócio-históricas-políticas que nestes espaços se manifestam. Nesse sentido, as relações de poder e as construções de discurso de uma dada sociedade se destacam como fator responsável pelos desenvolvimentos dos espaços e pela criação de binarismos, tal qual o de gênero, que regulam o convívio social. À luz dessa convicção, o presente trabalho possui como objetivo analisar as personagens femininas da obra chilena A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende, com base nos espaços em que as personagens se encontram inseridas, isto é, o campo e a cidade. Para além desse objetivo, busca-se igualmente analisar os divergentes costumes entre os espaços do campo e da cidade para que, no decorrer da narrativa, se compreenda a formação de conduta e o posicionamento das campesinas e citadinas de diferentes classes sociais perante um contexto patriarcal, opressor e ditatorial. Em vista disso, para alcançar os objetivos propostos, o presente trabalho de caráter bibliográfico e abordagem crítico-analítica, está embasada nos pressupostos teóricos de Henri Lefebvre (1999) e (2001), Romero (2009) e Williams (1990), para compreensão acerca dos espaços campo/cidade e do processo de desenvolvimento urbano e suas consequências. Prado e Pellegrino (2022), Gazmuri (2012), Bauer (1991) e Scobie (1991), para entender sobre o funcionamento das cidades da América Latina e, especialmente, sobre os aspectos físicos, sociais e políticos que norteiam o Chile, uma vez que este se apresenta como o espaço da narrativa em análise. Beauvoir (2016), Foucault (1998) e (2022), Butler (2021), Kolontai (2011), Ferreira (2009) e Alves e Pitanguy (2003) para pensar sobre a construção cultural de gênero e sobre as consequências da dicotomia masculino/feminino no que tange ao papel social da mulher na coletividade. Garcia (2015), para refletir sobre a história das três ondas do movimento feminista, e Anzaldúa (2005), Cypriano (2013) e Dimenstein et al. (2020) para o aprofundamento acerca do feminismo latino-americano e sobre a perspectiva fronteiriça das mulheres da América Latina. E, por fim, Spivak (2010) e Bhabha (1998) a fim de refletir a respeito da subalternidade. Portanto, o presente trabalho possui como motivação o ato de investigar como as personagens femininas se posicionam e são posicionadas em um ambiente cercado por condutas opressoras e sexistas, seja no campo, seja na cidade. Trata-se de espaços que carregam consigo o patriarcado enraizado e, de maneira dialógica, representam uma sociedade que, de fato, existe para além da diegese.