LITERATURA TRANSETÁRIA: LEITURAS PARA ALÉM DAS IDADES EM “CONTOS DE LUGARES DISTANTES”, DE SHAUN TAN
Literatura Transetária. Literatura Crossover. Crossover Fiction. Shaun Tan.
Dentre os livros indicados "para crianças", há uma bem-vinda infinidade de histórias que ultrapassam delimitações etárias. Histórias que nos dão a ler as infâncias não como uma idade, mas um modo de estar e um objeto cultural. Essas infâncias alargadas habitam as literaturas que vão além de um público previamente calculado e oferecem aos leitores uma “brecha” libertária, a de se encontrar (também) com os livros fora das rotas pré-programadas. Esta pesquisa busca retratar como a literatura transetária, isto é, que vai além do elemento etário, a partir da chamada crossover fiction (Beckett, 2009), pode ser identificada na obra “Contos de lugares distantes” (2012), do escritor e ilustrador australiano Shaun Tan. Na perspectiva metodológica de Minayo (2007), realizamos uma pesquisa exploratória de base bibliográfica analítica, dividida em três eixos: 1) A partir de um estudo da obra em análise, pensar os múltiplos destinatários de literaturas com potencial de recepção infantil, a partir do conceito de “leitor implícito”. Com apoio em pressupostos da Estética da Recepção, recorremos a Iser (1996 e 1999), Jauss (1994), e também à leitura crítica de Zilberman (2015). Dialogamos, também, com perspectivas contemporâneas a respeito das relações entre livro e leitor, tais como: Penelas (2023), Squilloni (2023) e Bajour (2018). 2) Revisitar produções teóricas a respeito de livros que não se subscrevem a audiências únicas. Para isso, partimos de uma revisão bibliográfica que explora diferentes visões sobre as questões do destinatário na literatura, sobretudo em Beckett (2009) e Andruetto (2012 e 2017); 3) Apresentar as percepções do escritor e ilustrador Shaun Tan, a partir de uma entrevista inédita realizada para esta dissertação. Utilizamos como corpus literário os contos "Eric", "Ressaca" e "Os gravetos". Nessas leituras, mapeamos o modo como cada texto – encontro entre verbal e visual – invoca múltiplos leitores, buscando em todo potencial leitor um diálogo possível com o elemento infância. Ao notar elementos associativos de universos etários plurais, enxergamos nos contos possibilidades de ampliar a mera associação criança-infância para encontrar infâncias que povoam literaturas transetárias. Na entrevista com Tan, revisitamos os preceitos da base teórica utilizada e também do livro de não ficção "Creature" (TAN, 2022b), a fim de oportunizar uma visão sobre literaturas transetárias a partir da dimensão da autoria. Esperamos contribuir com a produção científica deste campo em expansão que é a teoria e a crítica literária voltadas às produções para as infâncias, tendo em vista a relevância de colocar em cena seus múltiplos destinatários; um campo que se situa, cada vez mais, como um lugar de fronteiras paradoxalmente inclassificáveis, de transições e subjetividades, como o são os próprios sujeitos que a coabitam.