PAJUBO, LOGO EXISTO: o Pajubá como chave epistemológica na emergência das epistemologias travestis
Pajubá. Decolonialidade. Filosofia cartesiana. Travestilidade. Epistemologia.
Ao realizar um estado da arte acerca das produções sobre o Pajubá, muitos incômodos relativos à construção desses trabalhos me rodearam: o enfoque identitário dado à população gay, a concepção de língua dos/as pesquisadores/as e o terreno bastante comum de discussões envoltas, em sua grande maioria, em um mesmo ponto: o surgimento histórico do dialeto e a sua relação com as línguas de matriz africana. Contudo, todos esses incômodos logo se dissiparam quando, de encontro com as epistemologias travestis, fiz uma constatação interessante: para além desses trabalhos, o Pajubá também comparece como estratégia linguística e política nas produções da população T. Isto é: não necessariamente se apresenta enquanto objeto de pesquisa central, mas, sobretudo, como uma possibilidade de distensão da norma científica para a construção de novas epistemologias pautadas nas próprias experiências de mundo dessa população, tendo, dessa forma, o Pajubá como uma espécie de bussola teórica na orientação dessas produções. Nesse sentido, este trabalho objetiva analisar essa mobilização do Pajubá como chave epistemológica na construção do conhecimento científico de travestis acadêmicas. Parto da defesa de que esse acionamento não só desloca a lógica de produção de conhecimento ocidental pautada numa ciência cartesiana, como, sobretudo, orienta para uma nova direção/ética de ser e estar no mundo, guiada pelos afetos, pelas experiências vitais e pela atração da coletividade. Para isso, me volto especificamente à análise dos trabalhos de Amara Moira (2021), Dodi Leal (2018) e Sara Wagner (2020), ao manipularem o Pajubá como recurso linguístico, temático e conceitual-analítico, respectivamente. Faço isso pelas lentes teóricas da Decolonialidade e da Teoria Queer em contraste com a filosofia de René Descartes.