A FICCIONALIZAÇÃO DO REAL E AS REPRESENTAÇÕES DE MUNDO EM NARRATIVAS FANTÁSTICAS DE MURILO RUBIÃO
PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Insólito; Neofantástico; Mimese; Murilo Rubião.
Este trabalho consiste em uma investigação a respeito da concepção de realidade na literatura fantástica, a partir da análise de cinco contos de Murilo Rubião, publicados em edição que reúne todos os contos do escritor: Murilo Rubião – obra completa (2010). Além disso, averiguamos como o autor constroi a realidade ficcional e as estratégias utilizadas para manipular a verosimilhança e garantir a fantasticidade de sua obra. Para isso, partimos do conceito de realidade como algo não mais imutável, mas construído socialmente e sujeito às mudanças de contexto histórico – o que reverbera não apenas no julgamento do senso comum sobre o que caracteriza o real como também na concepção que a sociedade tem do que é fantástico. Em face disso, organizamos o estudo em três capítulos: 1) Rubião e as teorias do insólito e do fantástico: sobre o lugar de Rubião na literatura brasileira e as características de sua obra que a ligam às teorias do fantástico, sobretudo ao fantástico contemporâneo. 2) A mímesis e os conflitos com o fantástico: trata da problematização do termo realismo na ficção fantástica, assim como a causalidade e a construção da lógica no discurso fantástico. 3) A realidade fantástica nas narrativas de Rubião: dedicado à análise propriamente dita dos contos selecionados para este estudo, a saber: “A Diáspora” e “Os Dragões”. Para fundamentar as discussões, fez-se importante buscar respaldo em estudiosos que teorizam a respeito da mímesis, da verossimilhança e da ficção fantástica. Dentre eles, encontram-se Remo Ceserani (2024), Rosalba Campra (2008), David Roas (2014), Jaime Alazraki (1990), Luiz Costa Lima (1980). As narrativas Murilianas nos sugerem uma nova forma de concepção do real e, diferentemente do que propõe a teoria organizada por Todorov (1980), que caracteriza o fantástico pelo medo ou horror e a incerteza por parte do leitor, a ficção de Rubião aproxima-se muito mais da perplexidade ou inquietação provocadas pelo insólito das situações narradas - como defende Alazraki (1990) em sua conceituação sobre o neofantástico. A constatação de que a vida cotidiana, por vezes, está permeada por uma gama de situações estranhas, absurdas e não tranquilizadoras nos leva a crer que o fantástico pode ser tão real quanto a própria realidade que ele tenta subverter. Sendo assim, a concepção de realidade passa a ser mais complexa, já que o racional e o irracional coexistem juntos. O acontecimento insólito vem para demonstrar a anormalidade do mundo real.