Avaliações subjetivas de estudantes de uma comunidade escolar da cidade do Recife-PE sobre usos emergentes e dissidentes advindos da linguagem inclusiva não-binária: entre o estranhamento e o reconhecimento
Sociolinguística; Avaliações subjetivas; Crenças; Atitudes; Linguagem disruptiva.
Trabalhos de base teórica variacionistalaboviana sobre percepção linguística e avaliação subjetiva têm sido apontados como necessários para a compreensão de fenômenos linguísticos que se instauram no corpo social e promovem a dinamicidade das línguas através dos usos. Assinaladas em contextos sociocomunicativos os mais diversos, as manifestações linguísticas das diferentes identidades de gênero como o uso dos pronomes generificados fora da binaridade “todes, todxs, tod@s”, bem como nomes e adjetivos tais como “maravilhoses”, “menines”, “alun(x)”, têm sido constantes, constituindo nosso objeto de estudo. Trata-se de uma proposta necessária do ponto de vista descritivo porque está alinhada a um paradigma de flexão de gênero hegemônico que tem sido atualizado e, na dinâmica com que se inscreve nos dizeres, em contextos diversos, opera por meio de forças linguísticas e sociais. A pesquisa propõe analisar as crenças e atitudes linguísticas sobre usos da linguagem disruptiva de gênero, não-binária, inclusiva ou neutra no contexto de uma comunidade escolar, observando sua compreensão e aceitação, verificada sob a ótica da sociolinguística variacionista (LABOV, 2008 [1972]). A pesquisa é de natureza quali-quantitativa, dividida em duas etapas: na primeira, a aplicação de um questionário para mapeamento do perfil sociolinguístico dos colaboradores e, na segunda, a coleta dos dados a partir de um questionário de perguntas objetivas para evidenciar as crenças e, um teste de percepção em escalas para aferir as atitudes. Na comunidade escolar, foram selecionados, na primeira etapa, 31 colaboradores, estudantes e membros de uma comunidade escolar do Recife-PE, divididos em duas variáveis de controle: escolaridade e idade; na segunda etapa, 35 estudantes divididos em duas variáveis: Gênero e participação Núcleo de Estudos de Gênero. Os resultados apontam que os usos linguísticos disruptivos estão acomodados aos contextos voltados para os estudantes, não havendo uso efetivo entre os demais entes da comunidade. Logo, a percepção e o entendimento do fato linguístico que marca tais usos numa determinada comunidade de fala não foi suficiente para sua efetivação entre todos os seus membros, ainda que entendido numa perspectiva linguística reflexiva e ideológica. Identificados majoritariamente nas redes sociais, não se efetivam nas práticas comunicativas da comunidade de fala em todos os contextos, evidenciando uma diferenciação dos grupos quanto ao seu acesso e acolhimento, sinalizando fatores sociais como responsáveis pelas divergências linguísticas entre subgrupos distintos em uma dada comunidade. No que se refere às crenças e atitudes evidenciadas pela leitura dos dados, membros do Núcleo de Gênero e colaboradores aitoidentificadas com o gênero feminino estão mais abertos a acolher as variantes em estudo. O reconhecimento da aplicabilidade no contexto de escolarização, evidenciada nos usos disruptivos ali instaurados, garante aporte de atitudes positivas advindas dos diversos segmentos avaliados, embora evidenciado pelos dados levantados, descritos e avaliados, que nem todos os foram receptivos, visto que são usos, entendidos por alguns, como não representativos, linguística ou ideologicamente.