MEMÓRIA E REPRESENTAÇÃO EM SONHADORA, DE ADRIANA LUNARDI
Personagem; Adriana Lunardi; Memória; Representação; Narrativa.
O presente trabalho objetiva discutir o conceito de memória nas perspectivas individual e coletiva, em “Sonhadora” (2002) de Adriana Lunardi, para observar como a voz feminina silenciada no enredo contribui com a reconstrução de uma memória social. Por meio da protagonista Júlia, busca-se perceber como suas lembranças e a de outras personagens se presentificam na narrativa representando valores e mentalidades de variados perfis da sociedade. Com vistas a problematizar como o texto transfigura o contexto dos estratos sociais presentes no conto, foram utilizados pressupostos teóricos de Jeagger (1994), Aristóteles (2008), Lukács (2009) e Antonio Candido (2014), de modo a registrar um panorama histórico sobre a configuração dos heróis e dos personagens ao longo do tempo. No que tange a memória foram consideradas as ideias de Weinrich (2001) sobre o lembrar e o esquecer; Bergson (1999) e sua perspectiva sobre memória individual; e, tratando-se da memória enquanto manifestação coletiva, foram seguidos os postulados de Halbwachs (1990) e Ecléa Bosi (1979; 2003). Esta pesquisa teve um caráter bibliográfico e uma abordagem qualitativa, e as análises permitiram perceber que duas histórias integram o conto: a narrativa lunardiana e a da protagonista. Na história de Júlia, foram identificados aspectos que se voltam para o processo de contação oral, bem como a importância do ato do narrar na transmissão das experiências. Tratando-se da memória individual, constatou-se que as lembranças da protagonista delineiam seu comportamento e servem de guia para o desenvolvimento de suas ações. Vivendo sem enxergar o mundo, as lembranças individuas funcionam como uma forma de manter o mundo e a memória vivas enquanto a morte se aproxima. Quanto à memória coletiva, as representações que cada mulher desempenha ao longo da narrativa rememoram condições de silenciamento e de falta de representação feminina na literatura, referenciando uma condição: que a memória das mulheres sofreu tentativas de apagamento ao longo da história. Dessa forma, a memória individual se converte em coletiva ao passo que propicia reflexões que se voltam para a representatividade de uma coletividade feminina.