UM ARCO-ÍRIS DE SANGUE: ANÁLISE DISCURSIVA DE CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA PESSOAS TRANS EM TEXTOS JORNALÍSTICOS
Jornalismo; Análise crítica do discurso; Pesssoas trans; Violência
A partir do entendimento do jornalismo enquanto agente social que promove e repercute certas formas do senso comum e serve ao poder como mantenedor das estruturas sociais, este trabalho propõe-se a analisar de modo crítico a forma como os casos de violência e violações dos direitos humanos contra a população trans são divulgados nos jornais, a fim de entender/questionar as estratégias linguísticas usadas para anunciar tais crimes e as possíveis consequências do uso dessas estratégias para o debate do assunto na sociedade. Por meio da Análise Crítica de Discurso (ACD), foram examinadas 4 notícias veiculadas nos portais G1 e UOL, entre o período de 2017 a 2021, cenário de recrudescimento da LGBTfobia e de legitimação de discurso de ódio e violência, notadamente relacionado à narrativa político-eleitoral. Para nortear o percurso analítico, as reflexões aqui tecidas ancoram-se nos pressupostos teórico-metodológicos da Análise Crítica do Discurso (ACD), nas perspectivas de estudos sobre Gênero e Sexualidade, bem como teorias sobre o Jornalismo. Os resultados apontam que os discursos jornalísticos reproduzem relações de gênero e de poder hegemônicas que contribuem para invisibilizar a identidade das pessoas trans, através de mecanismos usados na produção de sentidos violentos na/pela linguagem, produzindo e reforçando estereótipos que podem ser responsáveis pela manutenção das desigualdades e preconceito. Acreditamos que este estudo se justifica diante de um cenário de violências e restrições de direitos e do boom de neoconservadorismos que estamos vivenciando, em que o gênero, como um dispositivo social de controle da maior importância, não ficou de fora. Portanto, torna-se imperativo ampliar as pesquisas relacionadas às noções engessadas acerca das identidades de gênero e sexualidade, mostrando a necessidade de discussões sobre a pluralidade de vivências de gênero e de sexualidades e do quanto ainda precisamos avançar nesse debate.