A historiografia a respeito da escravidão negra no Brasil possui larga tradição e é um dos campos de destaque nas pesquisas nacionais. Inúmeras páginas já foram escritas por pesquisadores que se debruçaram sobre o tema para tentar elucidar aspectos dessa terrível instituição que foi responsável, através do comércio transatlântico de cativos, pelo brutal sequestro de milhões de africanos. Apesar da grande quantidade de trabalhos sobre o tema, os indivíduos que estavam ligados ao comércio de gente e à utilização da mão de obra cativa, buscaram, com o passar do tempo, esconder seu envolvimento nesse odioso comércio que alimentava a terrível instituição escravista. Como uma forma de tentar contornar esse encobrimento, as fontes paroquiais surgem como um corpo de documentos que possuem dados e nomes de indivíduos que estavam ativos nessa prática e que ao batizar e enterrar seus cativos, deixavam seus rastros. Além disso, essas fontes também apresentam informações sobre os escravizados que são sepultados. Desse modo, através do levantamento e análise dos dados desses batismos e sepultamentos, esse trabalho busca compreender quem poderiam ser esses indivíduos que enterravam e eram enterrados

Em Alagoas, o movimento negro se organiza no final dos anos 1970, trilhando a sua trajetória nas terras palmarinas em meio à vigência da ditadura civil-militar (1964-1985). A Associação Cultural Zumbi (ACZ) buscou estratégias de intervenção para fortalecer a luta antirracista no estado, através de atividades políticas e pedagógicas, bem como nas articulações para o tombamento da Serra da Barriga. Esta pesquisa tem como objetivo analisar a atuação das militantes negras da ACZ no período 1980-1988, identificando suas principais bandeiras de luta e esferas de atuação. Nosso propósito foi promover um debate acerca do Movimento de Mulheres Negras, e de como ele foi fundamental tanto para a organização e mobilização negra em busca de justiça social, devido ao cerceamento de direitos, quanto como uma resposta do descontentamento feminino devido à secundarização de suas especificidades no movimento negro e feminista. Neste trabalho tomamos Kimberle Crenshaw (2004) como referencial teórico-metodológico ao propor a análise dos marcadores sociais enquanto vulnerabilidades interseccionais imbuídas das violências de raça, classe e gênero, categorias que atuam concomitantemente. Nesse sentido, analisamos as narrativas das militantes negras do movimento negro de Alagoas no período supracitado, suas experiências de vida, redes de apoio, estratégias de organização e seus contatos com o feminismo negro, tendo como suporte metodológico para a realização de entrevistas a História Oral. Verena Alberti (2005) é um referencial no que cerne as pesquisas que envolvem os relatos orais como um método de pesquisa. A História Oral trata-se da análise de diferentes contextos históricos experienciados por grupos sociais através da contribuição dos depoimentos de pessoas. Tomamos como corpus de análise, produções historiográficas que adotaram as categorias de raça, classe e gênero sob a perspectiva das mobilizações femininas nos eventos regionais e nacionais, relatos orais de militantes negras, documentações audiovisuais de encontros de mulheres negras e relatórios. A pesquisa nos fez perceber que o Movimento de Mulheres Negras no Brasil na década de 1980 foi um impulsionador para a articulação feminina desencadeando uma independência do Movimento Negro, pois, nascida do interior do MNU e de outras entidades negras, as militantes se propuseram tecer a sua própria entidade, não necessariamente desvinculada do Movimento Negro tendo em vista que a luta pela superação do racismo é a premissa de ambos movimentos, todavia, a busca pela visibilidade das opressões de raça, classe e gênero foi incentivo para a criação de uma nova mobilização. Ao nos voltarmos para o cenário alagoano, notamos a influência do feminismo negro para as militantes da ACZ, de modo que a realização da Jornada da Mulher Negra Alagoana em 1988, um evento preparatório para o I Encontro Nacional de Mulheres Negras, foi fundamental para ampliar o debate racial das alagoanas, considerando o gênero como umas das violências que perpassam mulheres negras.

Esta tese visa caracterizar e refletir a narrativa sobre o sertão e o sertanejo na obra memorialística de Ulysses Lins de Albuquerque (Um Sertanejo e o Sertão, Moxotó Brabo e Três Ribeiras). Temos como objetivo refletir sobre a construção da identidade narrativa de Ulysses Lins sobre o sertanejo e o sertão na sua obra memorialística, comparando com os conceitos de espaço, lugar, tempo, experiência (erfahrung), vivência (Erlebnis) e memória coletiva, a fim de provar que sua escrita é uma reconstituição de época baseado na experiência pessoal onde se desenvolve a ideia de que a memória se faz e traça sua identidade narrativa. A pergunta norteadora da pesquisa é: Como as suas memórias e as memórias de seus interlocutores impactaram na formação da identidade narrativa de Ulysses Lins sobre o sertanejo e o sertão, e, sobre suas representações sociais, culturais, históricas e geográficas do sertão? No caminho investigativo, utilizamos a hermenêutica fenomenológica de Paul Ricoeur (2007; 2010). Abordamos o caleidoscópio como uma representação da narrativa memorialística de UL. Nesta, a memória, seria o tubo preenchido pequenos fragmentos de vidro colorido (lembranças) e três espelhos (lugar, tempo e narrativa). Assim, a memória parte do local, do regional que não só estão em um lugar, em um espaço, como voltados para um lugar e um espaço. O fato de ele mesmo ter vivido muito dos acontecimentos que narra não é o que determina a sua posição como agente narrativo, mas a inteligência de fazer do relato uma travessia temporal.

Esta pesquisa tem como objeto de análise histórica a manifestação de tradição oral “histórias de Trancoso”, conceito êmico presente, principalmente, em áreas rurais do Nordeste brasileiro, onde contos orais de possível caráter educativos ou moralizantes são narrados de geração a geração. Inspirados nos contos escritos pelo escritor português do século XVI, Gonçalo Fernandes Trancoso, o fenômeno “contos de Trancoso” ou “histórias de Trancoso”, seja por narrativas escritas ou de forma oral, chega ao atual território brasileiro, através do processo de colonização portuguesa. Dessa forma, o objetivo principal desse trabalho é interpretar as representações de violência de gênero e resistência camponesa nas histórias de Trancoso, entre 1950-1990, em comunidades rurais do entorno do município de Caetés-PE. As histórias de Trancoso são um registro cômico que contêm caráter “subversivo”, de insatisfação com o lugar de exploração que ocupam os trabalhadores pobres em relação aos poderosos, geralmente representados na figura dos fazendeiros. Contudo, neste trabalho, problematiza-se o fato da narrativa quase sempre ofertar uma emancipação social aos homens camponeses por suas ações virtuosas interligadas à moralidade cristã, enquanto as mulheres camponesas permanecerem sendo exploradas e sem essa possibilidade de emancipação. Para isso, trabalhamos teoricamente a partir dos preceitos da História Cultural e as críticas à História realizadas por Paul Ricoeur, além de outros diversos autores críticos à colonialidade. Na metodologia, é feito uso do paradigma qualitativo interpretativo, com a produção das fontes orais e fazendo uso de fontes escritas de jornais e revistas ligadas à cultura popular. Por fim, a tese propõe pensarmos a partir da análise histórica a complexidade e contradições que envolve o fenômeno “histórias de Trancoso”, que preserva a estrutura de opressão patriarcal ao mesmo tempo que possibilita ser crítica a opressão de classe.

Esta pesquisa tem por objetivo principal investigar em que medida o Ensino de história se encontra envolvido no paradigma adultocêntrico. Por adultocentrismo entendemos o conjunto de práticas que se baseiam no pressuposto de que a criança ou adolescente é imaturo biológica e cognitivamente, é inadequado para se relacionar socialmente e incapaz de agir individual e coletivamente em favor dos seus próprios interesses. Tal paradigma age de forma a deslocar os sujeitos infantoadolescentes para um não lugar, um espaço de silenciamento e invisibilidade. A perspectiva de Ensino de História que assumimos no contexto dessa investigação, dialoga intensamente com a teoria decolonial, uma vez que assumimos o entendimento de que as práticas adultocêntricas podem ser compreendidas no escopo da dominação colonial/moderna, inserida no contexto da exploração eurocêntrica. A forma como compreendemos o Ensino de História, parte do princípio de que a função precípua da história escolar é promover aprendizagens históricas capazes de mobilizar os estudantes a pensar historicamente, a partir da sua realidade específica, como menino ou menina latino-americano, atravessado pelas várias dimensões da interseccionalidade. Acreditamos através das categorias do pensamento decolonial é possível ao mesmo tempo identificar os traços do paradigma adultocêntrico nas práticas da história escolar e promover um diálogo com historiografias que a partir do lugar do subalternizado evidenciem elementos para a construção de narrativas histórico escolares que coloquem crianças e adolescentes como centro. Para alcançar esses objetivos, o presente trabalho adota a estratégia de trazer para o centro da investigação as vozes das próprias crianças e adolescentes, através da realização de entrevistas semiestruturadas com estudantes de três escolas do ensino médio, localizadas na cidade do Cabo de Santo Agostinho-PE. Para dar conta da representatividade necessária, essas escolas são de três dimensões sociais e educativas diferentes: técnica estadual de horário integral, estadual de turno único (regular) e particular.

Saída da guerra contra os holandeses, a câmara da Paraíba esteve em um período específico no que toca à sua atuação, relações institucionais e lugar político; especificidade que também esteve na própria vida política da capitania. Dessa maneira, estudamos a referida edilidade no pós-guerra, enfocando os anos entre 1654 e 1688, para os quais se evidenciou a dita especificidade. Assim, procuramos compreender como a municipalidade da Paraíba se encontrava politicamente configurada e qual o seu lugar político, o que toca a sua inserção social, enquadramentos no âmbito do império e de sua arquitetura de poderes; e sua posição nos quadros políticos e jurisdicionais do Estado do Brasil. Com isso, investigamos o grupo social dos camarários, a comunicação política tecida com os poderes centrais e as relações da instituição com outros poderes do Estado do Brasil. Para isso, recorremos à prosopografia, ao método onomástico, à análise quantitativa, análise serial, ao paradigma indiciário e comparações; partindo especialmente de fontes manuscritas, localizadas em alguns arquivos e fundos documentais.

A presente dissertação, ao analisar o processo de incorporação de hábitos de higiene do corpo no Recife imperial, buscou articular discursos, práticas e representações sociais acerca do asseio do corpo com o advento do pensamento higienista no século XIX. A partir da análise da Cultura Material relacionada às práticas de higiene corporal e cuidado com a aparência, recuperada em escavações realizadas no Sítio Arqueológico do Pilar, localizado no Bairro do Recife, percebeu-se a associação entre os objetos que a compõem, o processo de construção de representações a partir da apropriação do discurso médico higienista e a incorporação dessas práticas no cotidiano de grupos sociais da cidade do Recife. Este trabalho buscou demonstrar a adoção de uma nova postura frente aos problemas de saúde pública, especialmente aos corpos que adoeciam na capital da então província de Pernambuco, em um contexto de "melhoramentos materiais" norteados pelos ideais de civilização e progresso provenientes da Europa. Partindo de um levantamento bibliográfico sobre temáticas como corpo e cidade, da análise crono-estilística da Cultura Material selecionada para estudo e do cruzamento das informações obtidas na análise desses vestígios e em fontes históricas como relatos de viajantes, periódicos, leis, códigos de condutas e manuais de medicina, observou-se que a recorrência de vestígios associados a essas práticas no Sítio Arqueológico do Pilar mostra-se reveladora quanto à atenção destinada às funções corporais no oitocentos. Os resultados obtidos possibilitaram lançar como hipótese ter ocorrido a construção de um conjunto de representações acerca do corpo higiênico e da boa aparência que, resultando do discurso higienista, influenciou a adoção por parte de setores da sociedade recifense de uma Cultura Material destinada às práticas de asseio do corpo vinculada à medicina hipocrática, como forma de adesão aos pressupostos estabelecidos por uma "ideologia da higiene" em voga no período definido para análise.

A pesquisa “Parque Nacional do Catimbau: um patrimônio. E a comunidade?” procura
entender como se deu o processo de apropriação deste Patrimônio Cultural pelas comunidades
do entorno, a partir da formação do Parque aos dias atuais e perceber como o parque ajudou
nas mudanças para a qualidade de vida dessa população e verificar todo o envolvimento sócio,
cultural e econômico das comunidades atingidas pelos efeitos da patrimonialização da região.
Mesmo com a expansão das pesquisas, qual o significado delas para a comunidade local? Isso
porque a expansão das pesquisas e das instituições envolvidas com o tema não têm
significado a apropriação desse patrimônio pela sociedade. Avanços ocorreram, mas os
desafios também aumentaram. Esse aumento tem sido acompanhado por discussões acerca do
papel social das pesquisas acadêmicas, entre elas, as relacionadas ao patrimônio cultural.
Quando questiona-se: finalizada a pesquisa, o que realmente tem permanecido? As
indagações nutrem nossas pesquisas, com objetivos de entender esse processo promovendo e
melhorando a percepção de como a patrimonialização de grandes regiões podem interferir no
conjunto das pessoas das comunidades atingidas.

A pesquisa "Problematizando Gênero, Raça e Sexualidades: A Formação de Professoras/es na URCA (2013/2022)" tem como objetivo central a análise crítica das propostas pedagógicas curriculares do curso de História da Universidade Regional do Cariri (URCA). O estudo se concentra na investigação da presença ou ausência de discussões e produções de conhecimento relacionados a gênero, raça e sexualidade na formação de professores/as de História no período de 2013 a 2022, com ênfase na análise das ementas da disciplina optativa "História e Gênero" e do papel dos/as professores/as na construção de um currículo que aborde efetivamente essas temáticas no âmbito do curso de História. No que diz respeito à metodologia, o estudo busca enfatizar as abordagens teóricas latinas e decoloniais. A metodologia utilizada é a História Oral, envolvendo entrevistas com professores/as do curso de História da URCA. A análise das entrevistas é conduzida com base nos princípios da Análise de Discurso Crítica (ADC). As conclusões iniciais mostram que a inclusão de discussões sobre gênero, raça e sexualidades no currículo do curso de licenciatura em História tem o potencial de formar professores/as preparados/as para promover a reflexão crítica, desmontar estereótipos, preconceitos e discriminações.

A ocupação do rio Curimataú nas capitanias do Rio Grande e da Paraíba na segunda metade do século XVIIse relaciona com o projeto de expansão da Coroa portuguesa a partir de Pernambuco como centro irradiador de agentes e instituições para o interior das Capitanias do Norte. Trabalhamos com o cenário das Capitanias do Norte e o contexto militar que mobilizou a expansão sobre os territórios interiores da Bahia, Pernambuco, Itamaracá, Paraíba, Rio Grande, Siará-Grande e Piauí. A pesquisa trata de uma análise que enfoca processos políticos, econômicos e administrativos na conformação do território do Curimataú colonial entre os anos de 1659 e 1721. As principais fontes utilizadas foram cartas de sesmarias, títulos de nobreza, ofícios, cartas patentes e provisões de soldos dos sesmeiros do Curimataú disponíveis em arquivos digitais como a Plataforma SILB e no site do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU). O trabalho propõe recompor o contexto histórico da sedimentação da estrutura colonial ao longo do rio Curimataú, com foco em investigar e refletir sobre a ação de instituições, indivíduos e grupos sociais envolvidos nesse processo.

O presente trabalho tem o objetivo de analisar a presença de indígenas durante e após o processo de extinção do aldeamento de Barreiros, entre os anos 1875-1920, percebendo a continuidade dessa população que após a extinção do aldeamento São Miguel de Barreiros permaneceram na região, associando ao processo de modernização da produção açucareira empreendido na região atualmente conhecida como Zona da Mata Sul de Pernambuco, mapeando as transformações ocorridas na região devido a economia da monocultura do açúcar.

Na segunda metade do século XVIII e início do século XIX as ideias liberais se espalharam pelo mundo sendo fundamentos para as críticas ao Antigo Regime e, chegando às Américas, tiveram fundamental importância influenciando as várias independências neste vasto e tão complexo continente. No Brasil esse processo de independência – que aqui delimitamos entre 1808 e 1824 - teve na então Provincia de Pernambuco um lugar de considerável relevo, o que nos faz entender que a compreensão deste processo passa por pensar a conjuntura política de Pernambuco no período em destaque. Pensar tal conjuntura é, necessariamente, trabalhar sobre a formação de uma cultura política constituída nos marcos de um pensamento que tinha no Seminário de Olinda um ponto irradiador e que acabou por reelaborar questões ilustradas por meio de uma relação umbilical com concepções caras ao Antigo Regime, aquilo que chamamos de reformismo ilustrado. Partimos de tais questões neste trabalho para mostrar, através de conceitos como o de visão de mundo do pensador franco-romeno Lucien Goldmann, como o Padre Francisco Muniz Tavares insere-se no que consideramos uma tradição pernambucana e como ele leva esta tradição para um espaço que se entende liberal que é as Cortes Gerais e Extraordinária da Nação Portuguesa (1821-1822). Assim sendo, nos foi importante elaborar sobre o que pensavam aos padres formados nesses marcos e como esta formação se manifesta no exemplo concreto de Muniz Tavares. Da fundação do Seminário de Olinda às intervenções de Francisco Muniz Tavares no soberano congresso e até sua produção intelectual e política posterior há um caminho que nos importa percorrer. Os intelectuais de uma época podem ser janelas privilegiadas para acessar o passado, mesmo que tal ideia deva ser levada com os cuidados necessários.

Na década de 1980, o Brasil estava dando os primeiros passos na busca por uma educação mais inclusiva, e foi nesse cenário que a professora Zélia Oliveira se destacou no município do Cabo de Santo Agostinho. Essa professora visionária foi um exemplo de dedicação e perseverança em sua missão de tornar a educação acessível aos/às estudantes com deficiência auditiva. Seu trabalho teve um impacto significativo na comunidade e deixou um legado que perdura até os dias atuais. No início da década de 1980, os educandos surdos não tinham sequer acesso à escola no município do Cabo de Santo Agostinho, eles eram deixados à margem do processo educacional. Foi nessa situação desafiadora que a professora Zélia Oliveira, motivada por questões religiosas, tornou-se pioneira ao assumiu a responsabilidade de mudar essa realidade. Assim, a professora Zélia Oliveira, após a mobilização com a comunidade para identificar e catalogar as pessoas surdas excluídas da escola se dedicou a aprender a Língua Brasileira dos Sinais – Libras, uma etapa fundamental para estabelecer uma comunicação eficaz com surdos. Sua determinação em aprender Libras e em desenvolver materiais didáticos visuais e interativos demonstrou seu compromisso com o ensino inclusivo.

O objetivo desta pesquisa é analisar a representação da série “Meninos do Recife”,
do artista plástico Abelardo da Hora da infância pobre e desvalida, isto é, o cenário
de vulnerabilidade social que crianças e adolescentes enfrentam em Recife na
década de 1960. Para tanto, primeiramente será contextualizado o cenário múltiplo
da cidade do Recife em que esses meninos viviam. Inclusive, a cidade, neste
período, entre seus avanços arquitetônicos, movimentos culturais, projeções de
modernização, mobilizações sociais, mudanças políticas e crescimento
demográfico, representa um capítulo de seu período republicano de verdadeira
efervescência histórica, política e sociocultural. Em seguida, será descrita a
trajetória política, cultural e profissional do artista plástico sob a premissa do ser
intelectual, a partir de diferentes cruzamentos em torno do conceito, mas, sobretudo,
na perspectiva de Gramsci (1991, 1995) e será analisada a produção e repercussão
da sua série, em Recife e no Brasil. Por último, serão feitas as análises do poema
de abertura da série e das 8 gravuras selecionadas. Escolhidas,
metodologicamente, pelo seu teor de representação (CHARTIER, 1990, 1991) da
infância pobre e desvalida, por que denunciam essas crianças nas mazelas sociais
da cidade do Recife, destacando, principalmente, a relação de ocupação, táticas,
estratégias e resistência dos meninos da cidade, além de compartilharem tons de
ludicidade da infância, apesar das violações vividas. Neste sentido, as gravuras
serão compreendidas a partir de sua dimensão simbólica e histórica e como elas
constroem consciência histórica a partir de uma educação estético-política
(GOMES, 2019) e do método iconológico (PANOFSKY, 1979). Dessa forma,
fundamentada na relação entre história, arte e política, a dissertação opera a partir
da História das Infâncias, trazendo uma perspectiva não-hegemônica e nem
adultocêntrica do ser e viver infância retratado nas telas do Abelardo da Hora.
Palavras-chave: Abelardo da Hora. Meninos do Recife. Desigualdade Social

Nesta dissertação, propomos compreender a partir do Museu de Ciências Naturais do
Parque Estadual de Dois Irmãos (MCNPEDI), a ideia de natureza produzida historicamente
e culturalmente pela instituição, alicerçado na análise de coleção do museu. Logo, esta
pesquisa também investiga a representação da natureza através da natureza “musealizada”.
Além disso, por meio do levantamento de fontes, esta pesquisa se debruça sobre a trajetória
da instituição. Como referencial teórico, utilizamos os teóricos Mutschler (2008),
Worster(1988), Pádua (2010), Souza (2019), Passmore (1995), Daston e Galison (2007)
para entendermos o que é a natureza e como esta pode ser representada. Tratamos
também sobre a relação museu e Estado a partir da ótica de Bourdieu (2014), Menezes
(2002) e Bennett (1995). Abordamos também o conceito sobre musealização por meio de
Brulon (2019), Desvallées e Mairesse (2013) e a musealização na perspectiva de museu de
ciências naturais com Landim e Soler (2017). Tratamos também sobre o conceito de
representação a partir de Chartier (1990). Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma
pesquisa documental, exploratória e descritiva com uma abordagem qualitativa, com
procedimentos de inferência, descrição e interpretação dos dados elencados por meio de
fontes primárias e orais. O resultado da investigação constatou que o MCNPEDI possui três
fases e que cada uma aborda a ideia de natureza de forma totalmente distinta. A primeira
fase possui a ideia e representação de natureza pautada numa narrativa mais amadora, já a
segunda fase parte de uma concepção e representação de natureza mais técnica, científica
e na última fase constata-se o desmonte do acervo. Por fim, a investigação permitiu concluir
que a relação museu e Estado é fundamental na permanência de qualquer instituição, pois a
trajetória do MCNPEDI evidencia a busca por essa legitimação e que o fato dela não se
suceder culmina no fim de seu valioso acervo.

A presente pesquisa tem como objetivo analisar as relações interespecíficas entre
Homo sapiens (seres humanos), Vitis spp. (videiras) e Daktulosphaira vitifoliae
(filoxeras da uva) na Argélia entre 1885 e 1914. Este intervalo corresponde,
respectivamente, à primeira aparição registrada oficialmente do inseto no território e
o marco do fim da Belle époque, com o início da Primeira Guerra Mundial, que
também trouxe mudanças na relação colonial e no mercado global do vinho. Este
trabalho adota a perspectiva da História Ambiental e da História Mais-que-humana
para analisar como se deu a continuação da Guerra Filoxérica - que já ocorria na
Europa na segunda metade do século XIX - no palco da Argélia colonial como parte
da competição entre humanos e D. vitifoliae pela exploração dos recursos de Vitis
spp. Para isso, também serão abordados nesta pesquisa os temas da colonização
argelina pela França, a relação entre videiras e filoxeras, a aparição destas na
Europa, a implantação da cultura vitivinícola na colônia magrebina e os diversos
impactos econômicos, jurídicos, políticos, sociais, paisagísticos e culturais que a
presença do inseto representou na Argélia.

Boa parte do cotidiano religioso da América portuguesa esteve relacionado com a atuação das irmandades religiosas. Este modelo institucional, oriundo das corporações de ofício medievais, foi responsável por organizar as práticas necessárias para manutenção do culto divino incorporando grupos sociais distintos no espaço colonial. De acordo com as ordenações régia e episcopal essas instituições, organizadas em qualquer parte do império português, deveriam elaborar seus próprios estatutos e requerer aprovação eclesiástica ou secular. Dessa forma, observou-se que foram produzidos inúmeros corpos normativos que recebiam o nome de Compromisso. Nesse sentido, o presente estudo baseou-se em buscar compreender a atuação das irmandades na produção desses estatutos, o saber normativo que orientou essa produção e a circulação desses saberes no espaço colonial. Com esse propósito, conduzimos essa análise através dos elementos retóricos do pensamento jurídico moderno presente nestes estatutos particulares ao analisar o conceito de corporação e as categorias de lei e misericórdia para estas comunidades. Desse modo, priorizamos como recorte espacial de análise a cidade do Recife por ter concentrado diversos tipos de irmandades que chegaram a elaborar seus estatutos, sobretudo durante a segunda metade do século XVIII. Assim sendo, utilizamos como fonte os Compromissos elaborados pelas irmandades do Santíssimo Sacramento da Matriz de Santo Antônio, de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, de São José dos Quatro Ofícios, de São Pedro dos Clérigos e de Santa Ana. Além dos Compromissos, utilizou-se também os requerimentos para confirmação e contestação da aprovação dos estatutos. Portanto, o presente trabalho se insere no campo da investigação social a partir de uma perspectiva da História do Direito, no qual, objetiva-se destacar os aspectos morais estabelecidos através do vínculo instituído entre os irmãos associados que conduziram a construção normativa responsável por mediar essas relações.

A proposta dessa tese foi discutir as dinâmicas de mediação envolvendo os indígenas Funi-ô e o Padre Alfredo Pinto Dâmaso, entre 1918 e meados de 1950, a partir do processo de reconhecimento desse povo. A análise documental e de registros orais reforçou e ratificou que as relações entre indígenas e o mediador contribuíram para a consolidação de um movimento indígena organizado constituído a partir de redes forjadas pelos indígenas, apoiadas nas ações promovidas pelo mediador. Esse argumento se apoia no desencadeamento de novos processos de reconhecimento étnico no Nordeste, envolvendo povos indígenas em Pernambuco, Alagoas e Bahia. Buscarei discutir os protagonismos indígenas nesse processo, bem como as condições sociopolíticas possibilitando o acesso ao Serviço de Proteção aos Índios (SPI) e a construção do Posto Indígena Dantas Barreto, seguida de outros postos indígenas nos citados estados. Destacando ainda, a percepção do mediador sobre os processos narrados em documentação colecionada, arquivada e, também, produzida por ele. As discussões foram fundamentadas a partir das reflexões de diversos pesquisadores sobre os indígenas no Nordeste e dialogando com análises de fontes documentais e memórias orais.

Esta pesquisa, em âmbito de doutorado, tem por objetivo o estudo e a problematização da cultura material remanescente do período colonial edificada na Mata Sul de Pernambuco, a partir do recorte temporal estabelecido entre 1590 e 1780. Nesse propósito, buscaremos compreender a variedade de elementos arquitetônicos ali implantados e resultantes de uma acumulação contínua de elementos socioculturais, econômicos e arquitetônicos herdados do passado colonial na região. Com isso, desvelaremos o processo histórico resultante desses fenômenos sociais, analisando também os modos e os espaços sociais e geográficos em que aqueles monumentos eram implantados naquele período. Para tanto, serão bastante relevantes para a conclusão deste trabalho o uso integrado da pesquisa dos espaços onde aquelas edificações foram implantadas, a interpretação das fontes escritas, os aspectos ambientais da região e o contexto histórico e sociais em que tais fenômenos históricos ocorreram. Isso posto, entendemos que por ser um trabalho que transita no campo da Nova História Cultural, utilizaremos norteadores teóricos e metodológicos que favoreçam a utilização de diversos tipos de fontes documentais, além de empregarmos abordagens e discussões de outras áreas do conhecimento, como a Geografia, a Arqueologia, a Sociologia e, sobretudo, a História. Ventilando, ao longo desse processo, discussões propostas por autores cujos pensamentos servirão como aporte para o processo de construção epistemológica deste trabalho.

A pesquisa teve como objetivo analisar o processo de implantação da licenciatura em História, modalidade a distância da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), no período de 2009 a 2014. Este estudo enfocou o lugar das tecnologias digitais e do trabalho docente nas políticas educacionais para a Educação a Distância (EaD), na política institucional da UFRPE e na estruturação didático-pedagógica do curso de História. O período circunscrito da pesquisa contempla o ano de aprovação da primeira oferta do curso e o processo de reconhecimento junto ao Ministério da Educação. Como fontes, utilizamos como as entrevistas com egressos e professores do curso, leis, portarias, decretos, resoluções, relatórios, projeto pedagógico de curso, dentre outros documentos institucionais. O exame documental foi auxiliado pela interlocução entre as concepções teórico-metodológicas da ciência histórica e de outros campos do conhecimento, em especial da Sociologia, da Educação e da Linguagem. Escolhemos os conceitos de racionalidade técnica e diálogo como chaves para explorar o objeto de estudo. Para embasar teoricamente a pesquisa, construímos um arcabouço teórico interdisciplinar fundamentado, em pesquisadores como Nicolau Sevcenco (2001), Roger Chartier (1999; 2002),  Eucídio Arruda (2015; 2016; 2018),  Herbert Marcuse (1982), Paulo Freire (1986; 1997; 2000; 2011; 2014; 2019), Henry Giroux (1986; 1987), Margarida Dias de Oliveira (2003; 2008; 2019), Marieta de Moraes Ferreira (2014; 2019), Anita Lucchesi  (2019; 2020), Selva Guimarães, Daniel Mill (2010; 2014; 2018; 2020), Eni Orlandi (2007; 2015), entre outros estudiosos. Transitar por diferentes áreas de saber possibilitou examinar a formação de professores de História na EaD, em particular na UFRPE, de modo a abranger as dimensões legais, institucionais e pedagógicas envolvidas

 Nos últimos anos, a natureza dos métodos e das abordagens em História e seu ensino se ampliaram cada vez mais. Nesse sentido, a tese faz uma análise conceitual da semiótica do Cinema Negro brasileiro e sua possível aplicabilidade no Ensino de História pelos docentes da Educação Básica. Com efeito, a pesquisa tem por objetivo criar mecanismos metodológicos no intuito de instrumentalizar o professor para o uso desse cinema em sala de aula, permitindo-o encontrar ao longo desse processo uma rica oportunidade de desenvolver temas relacionados à história africana, cultura afro-brasileira e educação antirracista. Por isso, a estratégia é abordar uma perspectiva interdisciplinar e complexa entre História, cinema, filosofia analítica (BEVIR, 2008), antropologia do cinema (CANEVACCI, 1984) e semiótica (AMONT, et al., 1995; BORDWELL e THOMPSON, 2013; CARDOSO, 1997; ECO, 1991; GARRONI, 1972; LOTMAN, 1978; METZ, 2010; PEIRCE, 1977; SANTAELLA e NÖTH, 1997; SORLIN, 1985; TURNER, 1997; VANOYE e GOLIOT-LÉTÉ, 1994) como uma saída importante para superar o isolamento de determinados campos do saber (BARROS, 2019). Entendendo que as fronteiras entre eles são móveis. Trata-se de ir além do cinema como uma forma de arte e experiência estética, levando o professor a problematizá-lo e dar-lhe significação, transformando-o numa potente ferramenta didática. Desse modo, apresentamos o potencial do multiculturalismo (CANEN, 2008; ADESKY, 1997; PINAR, 2009) para a discussão da diversidade e das identidades no Cinema Negro, uma vez que os corpos dos atores e das atrizes negras nos filmes carregam representações, simbologias e signos do passado e presente. Para tanto, utilizamos como objeto de análise histórica e semiótica os curtas-metragens Alma no Olho (BULBUL, 1973), Kbela (TAYNÁ, 2015) e Elekô (2015), produzido pelo Coletivo Mulheres de Pedra, buscando perceber como essas obras fílmicas podem atuar historicamente no Ensino de História e na formação docente. Esses curtas-metragens são importantes veículos de representatividade e referências negras para que professores e estudantes possam construir sentidos e significados diversos para as suas vidas práticas (RÜSEN, 2009). Portanto, os processos metodológicos desenvolvidos nesta tese contribuem para uma educação de combate ao racismo a partir de narrativas de cineastas negros e negras. Ao se apropriar dessas narrativas em diálogo com a semiótica e a História, o professor poderá criar estratégias e possibilidades para desconstruir e combater a naturalização de estereótipos raciais nas salas de aulas, abrindo novos horizontes em direção a uma educação antirracista, sempre aberta a incorporar novas reflexões e novos métodos.

Palavras-chave: Cinema Negro; Ensino de História; Metodologia; Prática Docente; Educação Antirracista.

Ao analisarmos os processos de tombamento dos sítios arqueológicos e das coleções arqueológicas tombadas no período inicial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ou seja, de 1937 em diante, ponderamos sobre o trato do IPHAN para com o patrimônio arqueológico nacional e constatamos alguns problemas referentes à preservação, valoração e classificação nos tombamentos dos sítios e coleções. Portanto, ao investigar o referido período, a presente pesquisa dá destaque à análise dos processos de tombamento de sítios arqueológicos - Sambaqui do Pindaí (MA), Itacoatiaras do Ingá (PB), Sambaqui Itapitangui (SP) e Gruta Lapa da Cerca Grande (MG) -, como também das coleções arqueológicas do Museu Paulista, Museu Júlio de Castilhos, Museu Paraense Emílio Goeldi, Museu da Escola Normal Justiniano de Serpa, Museu Coronel David Carneiro, Museu Paranaense e a Coleção arqueológica Balbino de Freitas (Museu Nacional). Entre as principais fontes utilizadas para a presente pesquisa destaco os já citados processos de tombamento, como também a utilização de diversos periódicos nacionais, selecionados em virtude de demonstrarem a relação entre o Museu Nacional e IPHAN, ou de alguma das referidas instituições com o patrimônio arqueológico nacional. Além de uma vasta revisão bibliográfica, inclusive de obras da própria época. Então, partindo do elencado, a presente tese tem por objetivo analisar o início da preservação institucionalizada do patrimônio arqueológico brasileiro por meio da relação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) com o Museu Nacional, em um período anterior à criação da principal lei de preservação dos monumentos arqueológicos brasileiros, a lei Nº 3.924, de 26 de julho de 1961. A tese tem como principal referencial teórico a perspectiva proposta por Pierre Bourdieu de campo científico, capital científico e autoridade científica, bem como suas noções acerca da ciência e do campo no geral, que foram fundamentais para compreender mais do que a relação entre duas instituições - Museu Nacional e SPHAN - mas também a atuação dos agentes que estavam delimitando fronteiras entre o campo científico e patrimonial em cada uma dessas instituições. Partindo da problemática de que no âmbito do campo científico, que girava em torno do patrimônio arqueológico, estava em construção o poder classificador e fiscalizador do SPHAN, instituição comumente ligada à capacidade técnica dos arquitetos. Compreendemos que houve um confronto com a autoridade científica dos que formavam o campo da arqueologia do Museu Nacional, era uma luta concorrencial que resultaria no protagonismo ou não do patrimônio arqueológico brasileiro nesses primeiros anos do SPHAN e na futura edição da Lei nº 3.924/61, gestada neste contexto e protagonizada pelos representantes do campo científico da arqueologia. Concluímos, portanto, que sem a ação do campo científico junto ao campo patrimonial no tocante a arqueologia, o patrimônio arqueológico nacional não haveria se consolidado na instituição do patrimônio nacional ainda em seu período inicial e nem se lograria o necessário dispositivo legal de proteção rigorosa dos bens arqueológicos para além do tombamento.

A pesquisa de doutoramento alude sobre a experiência de um lugar, localizado nos Inhamuns, região do sertão cearense, que no passado significou símbolo de poder e da ocupação, atrelada à atividade pecuária, a partir do núcleo familiar dos Feitosa, que se arvoram no papel de colonizadores do sertão dos Inhamuns e fundadores da cidade de Cococi, que é objeto deste trabalho. Nas movimentações do tempo, Cococi, de fazenda criadora de gado deu origem à Vila, século 18, e mais adiante foi elevada à cidade especificamente na década de 50 do século 20. Como urbe existiu por pouco tempo, sendo oficialmente extinta no início da década de 1970. Perante as circunstâncias, observa-se que foram estabelecidas diversas performances no/sobre o lugar, de modo que Cococi ficou conhecida por “cidade fantasma”, composta pelas habitações deterioradas, além das narrativas que a identificam com espaço mítico originário dos Feitosa até os dias atuais. As performances sobre Cococi são atualizadas frequentemente, através de um conjunto de práticas que envolvem, por exemplo, a realização da festa de N. Sra. da Conceição, catalisadora de frequentadores, entre antigos moradores e descendentes, assim como peregrinos religiosos e visitantes. Neste momento acontecem solenidades religiosas e eventos sociais como visitações à igreja da padroeira e ao cemitério (equipamentos preservados) e às ruínas. Apesar do lugar físico se configurar como algo interessante, as referências vão além, pois percebe-se que outras práticas alusivas a Cococi se manifestam, por exemplo, a partir da produção escrita e artística, dos conteúdos digitais e das interações nas redes sociais. Estas sinalizam no tempo presente que Cococi está em evidência em outras dimensionalidades, orquestradas e legitimadas por aqueles que externam seus vínculos de pertença e de família e nos usos do passado do lugar. Portanto, observa-se que a referida experiência é composta por uma rede de significados, sentidos, simbologias e práticas (performances), conferindo um interessante conjunto de elementos à reflexão de um lugar que apesar de abandonado continua ser praticado e ressignificado, envolto por questões sensíveis entre traços afetivos e de pertença, ao passo que ancora memórias. Tais observações puderam ser captadas à medida que nosso trabalho de campo foi ganhando corpo. E perante a complexidade irradiada da própria experiência de Cococi, coube-nos pensar numa lógica teórico-metodológica, pela guisa da história cultural, a destacar o subcampo das sensibilidades, que proveu a construção de uma reflexão que valorizou as ligações entre a história e antropologia, lançando-nos de procedimentos de averiguação de materiais escritos, museais audiovisuais/ midiáticos e as próprias ruínas do lugar. Sendo estes, vestígios, fragmentos, sinais, rituais e comportamentos sociais que imprimem leituras e atos de performatividade sobre a caleidoscópica Cococi.

A presente pesquisa procura compreender como os escravizados da vila/cidade de Bananeiras, localizada na província da Paraíba, agenciaram ao seu favor a legislação, especialmente, Lei de número 2.040 de 28 de setembro de 1871 e Lei de número 3.270 de 28 de setembro de 1885. Deste modo, a primeira criou quatros mecanismos importantes que possibilitaram outras experiências de liberdade estudados nesta tese: libertação do ventre da mulher escravizada, Fundo de Emancipação, legalização do pecúlio e matrícula dos escravos. Enquanto a segunda, paradoxalmente, demonstrava a força que a escravidão ainda tinha, mesmo que agonizando; já evidenciava seu desfalecimento e seu desfecho em 1888. Destacamos, que isto só foi possível em virtude das ações de resistências organizadas pela população escravizada no Brasil, em particular, a localizada em Bananeiras. Nossa documentação é composta por um corpus documental variado como as doações de sesmaras, inventários post-mortem, listas de matrículas, testamentos, ações de liberdades, documentos avulsos do Fundo de Emancipação, assentos de paroquiais, jornais, relatórios de presidente de província e do ministério da agricultura que permitiram conhecer a respeito de Bananeiras-PB, cenário de atuação dos nossos personagens, sobretudo, os escravizados e suas movimentações em busca de experiências de liberdades. Para isto, dialogamos com as referências teóricas-metodológicas da História Social da Escravidão e que tem grande contribuição as reflexões do inglês Edward Palmer Thompson. Para isto, recuamos em alguns momentos para a segunda metade do XVIII e primeira metade do século XIX para compreender o processo de colonização e produção econômica de Bananeiras, ou melhor, da Paraíba. Em outros situações, para entendermos as formas de obtenção da liberdade anteriormente a 1871, analisamos os testamentos ou inventários que faziam menção a conquista da liberdade jurídica por algum escravizado. Portanto foi possível identificarmos que a alforria foi registrada em variada documentação com a sua devida indenização como testamentos, inventários, ações de liberdade, listas do Fundo de Emancipação etc. Diante disto, apresentamos o cenário de distribuição de sesmarias a partir da “força” do gado na região que era Bananeiras na virada do século XVIII para o XIX. Destacamos que durante o Oitocentos outras culturas agrícolas foram inseridas como a cana-de-açúcar, algodão, mandioca e café dividiam espaço com o criatório. É neste cenário de economia diversificada que a população escravizada vai estar inserida, agenciando ao seu favor e de seus familiares possibilidades para comprar a sua liberdade jurídica ou de parentes através dos diversos caminhos apontados antes e depois da Lei de nº 2.040 de 1871. Desta forma, além de situar este trabalho no campo da História Social da Escravidão na qual pensa as ações coletivas, valoriza, também, o agenciamento singular de homens e mulheres escravizados que atuam politicamente de acordo com as suas experiências e processo histórico que estão inseridos.

O objetivo central desta tese é pensar o impacto do testemunho na sala de aula, tendo como foco o testemunho de sobreviventes do Holocausto, defendemos que a valorização de múltiplas vozes como ferramenta de ensino é capaz de gerar a ampliação da visão de mundo e de reconhecimento da alteridade, no sentido do que coloca o filósofo Lévinas, mais do que respeitar o outro, é preciso ter responsabilidade por ele, e recoloca a empatia, aqui no sentido LaCapriano, na pesquisa histórica. Dividida em quatro partes, a tese se estrutura da seguinte forma: i. Discussão crítica do campo historiográfico, levando em consideração o impacto que a temática do Holocausto provocou na escrita da História, especialmente a partir do abalo, ou ampliação, da noção de representação; ii. No segundo momento, buscamos analisar a construção da categoria de testemunho inserida em seus contextos. Partindo do pressuposto que o testemunho é uma categoria social e politicamente construída, discutimos os momentos chave em que o sobrevivente de um evento traumático encontrou espaços para comunicar o vivido, ressaltando assim a estreita relação entre memória e esquecimento; iii. Na parte três, buscaremos encontrar os “índices comuns” e suas variações nas memórias de 2º e 3º geração, filhos e netos de sobreviventes da Shoah que vieram para o Brasil nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, o corpus documental, foi definido a partir do projeto “Milhões de vozes: testemunho, Shoah e o ensino de história do tempo presente”; iv. Por fim, objetivamos defender que o Ensino de História por meio das histórias de vida, isto é, a valorização da voz no trabalho cotidiano da sala de aula, em sua diversidade de conteúdos, completa “buracos” no ensino que a historiografia sozinha não dá conta e mantém a memória viva e em permanente construção. Esta tese tem como corpus documental, arquivos do YadVashem – museu israelense para memória do Holocausto, acervo do Museu do Holocausto de Curitiba, fontes de arquivo privado dos sujeitos entrevistados, os vídeos-animações produzidos no âmbito do Projeto Milhões de Vozes, e os formulários e entrevistas produzidas pela autora da pesquisa.

O presente trabalho tem como objetivo desenvolver uma análise das mulheres através da literatura grega clássica. Buscando identificar a pluralidade de manifestações sociais femininas e os contextos em que estavam inseridas. Para que isso ocorra, a pesquisa se ancora no que concerne às fontes, na investigação do Discurso contra Neera de Apolodoro, nos Mimos de Herondas e nos poemas de Safo de Lesbos. As diferenças tipológicas dos escritos, somadas às diversidades de contextos, nos permitirá ter um olhar mais amplo acerca da sociedade em geral. Partindo desses pressupostos, busca-se perceber também quais os caminhos podem ser traçados para a inserção desse feminino grego dentro de sala de aula. Além disso, somadas as teorias atuais da neurociência, o propósito desta pesquisa é desenvolver metodologias de inserção dessa temática para o Ensino de História no 6° ano do fundamental.

Este trabalho tem como objetivo analisar as ações e contribuições do Grupo Mulher Maravilha (GMM), entre os anos de 1975 a 1988, para a redemocratização do Brasil, especialmente no período da Assembleia Nacional Constituinte 1987-88. O Grupo Mulher Maravilha, situado no bairro de Nova Descoberta, Recife-PE, foi fundado oficialmente em 1975 por mulheres que não se conformaram com a situação de opressão que viviam diariamente, uma realidade que, naquele período, refletia sobre todo o povo brasileiro. Assim, essa pesquisa está ancorada nos debates desenvolvidos pela historiografia sobre Ditadura civil-militar, redemocratização, movimentos sociais, movimentos periféricos urbanos, estudos de gênero e movimentos feministas. Do ponto de vista teórico-metodológico essa pesquisa se apoia em debates levantados por pesquisadoras como Joana Maria Pedro, Rachel Soihet, Rebecca Tarlau e Maria da Glória Gohn. No que se refere ao Grupo Mulher Maravilha, destacam-se dois atores externos que nortearam a criação e as ações do Grupo, a Igreja Católica e as organizações clandestinas. A pedagogia educacional de Paulo Freire também foi uma importante ferramenta para processo de ensino-aprendizagem e de construção coletiva do conhecimento desenvolvidos pelo GMM. Dessa maneira, para atender a proposta investigativa e aos objetivos traçados, essa pesquisa fez uso da abordagem qualitativa utilizando fontes orais, provenientes de entrevistas semiestruturadas com mulheres do Grupo, além da pesquisa documental, sustentada pelos materiais encontrados no acervo físico do GMM. Sendo assim, essa pesquisa evidencia a participação das mulheres do bairro de Nova Descoberta como atrizes de articulações sociais que buscavam o fim da Ditadura civil-militar, a redemocratização do país e a promulgação de uma nova Carta Constitucional que garantisse direitos civis, sociais e políticos para a mulheres.

O presente trabalho tem por objetivo historicizar as práticas de rapto ocorridas no cotidiano recifense entre os anos de 1944 e 1960 e, a partir delas, discutir as relações de gênero e as experiências afetivo-sexuais tecidas pelas camadas pobres. Para tanto, utilizamos como fontes os processos-crime de rapto, as notícias dos periódicos Diário de Pernambuco e Jornal Pequeno, e o texto jurídico “Comentários ao Código Penal de 1940”. Procuramos apreender as motivações que levaram a escolha do rapto, os meios pelos quais ele foi efetivado e de que formas ocorreu o seu desdobramento na justiça. Os discursos, as várias versões dos depoimentos e os usos da justiça operados pelos atores sociais e jurídicos nos ajudaram a refletir sobre os limites da moralidade e as subjetividades de homens e mulheres envoltos numa sociedade constituída a partir de códigos, normas e valores patriarcais, nos quais as convenções de gênero desiguais e binárias são mantidas por meio do discurso moral da honra e se engendram em diálogo com a raça e a classe. Neste cenário de tensões, irrompe como fogos de artifício no céu – de forma visível, sonora e colorida – as histórias de amor, luta, resistência, opressão e transgressão, que tanto caminham no sentido de reproduzir os padrões patriarcais dominantes quanto no sentido de obstruir os padrões esperados de família, relação amorosa e sexualidade. Desta forma, a relevância deste trabalho não se assenta apenas no fato de apontar as tecnologias de gênero que constituem identidades do feminino e masculino baseadas na desigualdade e hierarquia, mas também no fato de contestar tais identidades fixas e apontar as suas instabilidades a partir do processo de dar voz aos sujeitos pobres e mostrar, dentro de variados espaços, as agências femininas.

Este trabalho de dissertação intenta evidenciar – munido das concepções teórico-metodológicas características do campo que tem se consolidado no Brasil através do termo “Nova História Indígena”, especialmente a partir do conceito de agency – o processo de estruturação e funcionamento do sistema de aldeamentos coloniais vigente entre os anos de 1633 e 1645, nas Capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande sob o domínio holandês. Fazendo uso de documentação burocrática e narrativa, pretende-se perscrutar qual a contribuição e que interesses específicos de indivíduos e grupos indígenas estiveram presentes na concretização do projeto dos aldeamentos durante o Brasil Holandês, que aqui é tomado essencialmente como um processo histórico. No bojo desta análise, também se buscará devassar as tensões sociais entre índios e não-índios a respeito das diversas demandas – por mão de obra, conversão religiosa, atuação militar e proteção – que envolviam o aldeamento colonial no mencionado contexto.

A produção artesanal da cal foi uma atividade econômica importante em parte do Segundo Distrito de Caruaru durante quase todo o século XX, atraindo homens e mulheres de diferentes idades para explorarem os recursos naturais (calcário e lenha) que eram a base para transformações em cal nos fornos. A intensificação dessa atividade na vida das pessoas e das comunidades da região foi capaz de modificar um dos elementos mais característicos de um grupo social, a cultura, além de provocar mudanças de ordem natural, a paisagem. Dessa forma, buscamos analisar nas memórias a cultura que tenha se constituído em função do trabalho de fazer cal artesanal na região e, no ambiente perceber na paisagem os elementos que apresentem e demonstrem a interferência e a importância da produção no período entre as décadas de 1950 a 1980. Para isso, buscamos nos referenciar em autores como E. P. Thompsom (1981), que em suas análises mostra que a cultura é parte integrante, criada e validada pelos membros de uma sociedade, algo que seja modelado por suas experiências e necessidades – nos dando a oportunidade de enxergá-la pelo conceito de Cultura do Trabalho (Antunes, 2009 e Silva, 2003) a partir das memórias que reunimos através de entrevistas, buscamos promover uma aproximação com as ideias do sociólogo Halbwachs (1990), que afirma que essas Memórias são “coletivas” uma vez que foram tecidas pelo grupo e são lembradas pelos membros. Outro conceito importante para o trabalho é o de paisagem cultural (Menezes, 2002 e Ribeiro, 2007), moldada pela fome dos fornos, que motivaram o amplo consumo dos recursos naturais, e se tornando um dos resultados de todo processo de exploração e transformação em cal, pois a paisagem carrega marcas que também são memórias compartilhadas entre o homem e a natureza. Estas apreciações ajudam a interpretar e reconhecer parte da história do Povoado do Juá e comunidades vizinhas que trabalharam na produção artesanal da cal, – histórias de pessoas que nunca tiveram a oportunidade de serem reconhecidas pelas lentes da história, ou de outra ciência.

No século XVI, a expansão ultramarina ibérica acompanhou elementos relacionados à violência presente na interseção entre as guerras de conquista e o comércio. Não raro, agentes mercantis atuantes nessa interseção serviram como homens de armas e de negócios, visando penetrar nos espaços de além-mar, garantir suas posições em determinado circuito ou auferir lucros e bens materiais, provenientes dos espólios dos conflitos. Essas e outras características inerentes ao momento direcionaram essa pesquisa à intenção de compreender aspectos referentes à participação dos agentes mercantis nos contingentes de conquista, para o estabelecimento das capitanias da Paraíba (1585) e Sergipe (1590), através da trajetória de mercadores cristãos-novos vinculados às redes comerciais ultramarinas, que fizeram parte da gente de guerra desses confrontos. Seguindo o fio dos destinos individuais desses sujeitos, mediante os rastros que seus nomes deixaram na documentação do Santo Ofício e nas fontes referentes a essas campanhas, acredita-se ser possível analisar seus interesses, articulações, participações e butins, para melhor compreender a maneira como foram inseridos, como atuaram nesses processos e a relação estabelecida pelos sujeitos com os territórios, no rescaldo das conquistas.

Nossa pesquisa aborda as noções elaboradas sobre os espaços jurisdicionais não centrais, como o sertão colonial, sob a ótica do direito e do universo jurídico da Modernidade, durante os finais do século XVIII. Nos afastamos de uma ideia estereotipada do sertão colonial, que acaba por reduzi-lo a um espaço vazio de pessoas, instituições e justiça.  Defendemos o predomínio de uma estrutura de justiça presente no sertão de Pernambuco, a qual, assim como o Novo Mundo, demandou ações de acordo com suas especificidades. Portanto,  nossa abordagem reluz um espaço constituído pelo poder jurisdicional que atuou na constituição de um sertão judicial, moldável às circunstâncias e às necessidades, assim como moldável a seus limites demarcantes de poder. Nos acomodamos no seguimento de historiadores que referenciam a ideia de uma Nova Escola Ibérica, pautada por pensar o universo jurídico relacionado à religião e à Teologia Moral. Desta forma, acabamos por nos conectar com leituras que pautam o direito, a cosmovisão e a teologia moral, os casos e as circunstâncias, os juízes, o julgado e o arbítrio. Nos amparamos na tentativa não só de pensar espaços não centrais, mas contribuir para abordagens acerca das faces do direito predominante na América Ibérica, especialmente com parâmetros que fazem referência à Primeira Modernidade.

A formação do Estado brasileiro imediatamente após a independência de Portugal
mostrou intensos debates para a consolidação das instituições administrativas, políticas
e fiscais. Estudar os aspectos ligados a fiscalidade permite um olhar plural na
construção social e na reordenação burocrática do Brasil, contribuindo para ampliação
dos saberes a respeito dos desempenhos e negociações entre os poderes central e local.
Desde a formação do primeiro Governo Transitório após a Convenção de Beberibe, em
1821, até o desenvolvimento de um certo caráter de permanência após a Confederação
do Equador, Pernambuco buscou e tomou para si, não só a administração política da
Província, mas também uma maior autoridade sobre suas finanças. Uma sequência de
eventos contribuiu para o aumento deste comando fiscal, a abdicação de D. Pedro I e
seus desdobramentos, a regência, Ato Adicional e a criação das Assembleias
Provinciais. Para a tesouraria nacional, do ponto de vista burocrático, todos estes novos
delineamentos trouxeram necessidades de adaptações que mexeram profundamente com
seu cotidiano, com suas atribuições. Para a tesouraria provincial as novas legislações
permitiram a formação e consolidação de suas atividades de maneira mais segura que a
nacional, dando a Província de Pernambuco maior conhecimento e controle sobre a
arrecadação e situação dos cofres público. Apesar de uma grande diminuição inicial dos
repasses do governo central para Pernambuco, e, em contrapartida, dos crescentes
envios de recursos para outras províncias e Corte, a criação da Tesouraria Provincial
mostrou-se positiva para a Província, pois além de permitir um maior domínio dos
recursos, conhecimento daquilo que era arrecadado através da fiscalidade e
extrafiscalidade, como de seus gastos. Estas informações pautaram decisões financeiras
das autoridades fiscais da Província de Pernambuco, por vezes aumentando, por vezes
diminuindo as ações de repugnâncias tão comuns nos períodos de crises locais.

Bajado ou Euclides Francisco Amâncio, foi um pintor, desenhista e cartazista que nasceu em Maraial, no ano de 1912 e faleceu em Olinda em 1996. A construção da sua identidade visual, enquanto artista é configurada pela influência da História em Quadrinhos e do Cinema, linguagens que consumiu intensamente durante toda sua infância e adolescência na Zona da Mata pernambucana. Bajado, pintou para-lamas de caminhões, paredes e cartazes para estabelecimentos comerciais. Mas Bajado também pintou quadros, além de ter seu trabalho exposto em diversas exposições no Brasil e no exterior – uma verdadeira celebridade do seu tempo. Suas composições de cores planas e delineadas com linhas pretas, comunicava com clareza e objetividade, versando sobre festas populares como o Carnaval, Bumba Meu Boi, o São João – sem contar o futebol, a boêmia e narrativas associadas às tradições religiosas de diferentes naturezas. Um artista de grande representatividade no Sítio Histórico de Olinda, sendo referenciado em biografias, entrevistas, documentários, músicas e homenageado em eventos promovidos pelas iniciativas públicas e privadas. Por seu elevado Capital Simbólico e influência herdada da História em Quadrinhos e do Cinema no seu fazer artístico, a presente tese de doutorado narra as razões pelo qual um grupo de artistas assumiu Bajado como mito de origem para estimular a prática de produção de histórias em quadrinhos que se pretendeu registrar na memória da Cidade de Olinda. A partir de pesquisas e produções autorais realizadas por diferentes agentes locais, que tiveram início no Colégio Imaculado Coração de Maria – Bairro Novo/Olinda – desdobrando-se até a Universidade Federal de Pernambuco, vamos dialogar sobre os conceitos, as referências e o desdobramento do conjunto de intervenções artística nomeada como Movimento MangueGeek. Uma pequena História da arte pernambucana. Os resultados das intervenções estão expressos nas páginas da coleção de graphic novels: Contos dos Altos e Ladeiras (CHIARELLI; BORRE, 2017); Retalhos (CHIARELLI; PAIVA, 2023); Fastio (CHIARELLI; DOMINGOS, 2022); Lado B (CHIARELLI; PESSOA; FRANCO, 2022) e configuram inicialmente um modo específico de fazer História em Quadrinhos.

A guerra contra os palmaristas significou mais uma etapa da colonização do território da Capitania de Pernambuco, possibilitando a expansão do mundo colonial para o sertão, região até então pouco dominada pela administração portuguesa. Para tal empreitada, diferentes tipos de tropas foram recrutados para lutar nos muitos conflitos contra os palmaristas, e dentre as quais tropas constituídas por indígenas aldeados. A partir disso, buscou-se entender a importância dos aldeamentos e o envolvimento dos índios nessa guerra. Para isso, foi estudado o contexto de formação das aldeias e a maneira pela qual os indígenas eram arregimentados para os conflitos. O objetivo desse trabalho foi analisar a participação das tropas indígenas na Guerra de Palmares, entre 1660 e 1695, período em que ocorreu a maior parte das expedições destruindo os mocambos que constituíram o Quilombo dos Palmares.  A pesquisa foi realizada através de registros de caráter administrativo, encontrados nas principais coleções de documentação relativas ao período colonial do Brasil, como o a coleção Documentos Históricos da Biblioteca Nacional (DHBN), bem como de textos de cronistas do período.

O presente estudo se debruçou a analisar as provas de Literatura da Segunda Fase do
Vestibular COVEST-PE, entre os anos de 1996 e 2013. A proposta visa levantar a
presença da Literatura de Autoria Feminina na documentação selecionada, traçando um
paralelo a debates teóricos que se dividem entre estudo de políticas públicas para a
educação (LESSA, 2012); (GALIAN, 2014); (SAVIANI, 1999); (BOURDIEU;
PASSERON, 1992), debates de gênero, acesso das mulheres a espaços de instrução e
produção literária (DUARTE, 2003); (HOLLANDA, 1992); (SILVA, 2015); (BRITO,
2010); (SILVA, 2018); (SCOTT, 1995); cânone e as dinâmicas deste na sociedade
brasileira (MUZART, 1995); (CAIRO, 2001); (FREITAS, 2008); (CANDIDO, 1997).
A análise metodológica engloba um cruzamento de fontes que têm como foco
desenvolver uma análise comparativa dos resultados encontrados, incluindo a
construção de quadros e discussões complementares as provas. Entre estes foram
observados jornais, livros e manual do vestibular, esses que confirmam o resultado geral
do trabalho. Fora visto que em termos gerais essas provas representam um cânone
literário que é essencialmente masculino, branco e de determinado grupo social

O presente estudo busca analisar como ocorreu o debate sobre a contracepção feminina na cidade do Recife, sobretudo, da pílula anticoncepcional, a partir das edições dos jornais Diário de Pernambuco, Diário da Manhã e Jornal da Cidade, durante a década de 1970. O trabalho se insere em um contexto histórico caracterizado por mudanças no que se refere as atribuições das mulheres. Com a construção de um ideal feminino, ainda no início do século, os comportamentos e espaços definidos para as mulheres eram restritos. Foi a partir da década de 1960, com a repercussão da chamada Revolução Sexual e dos movimentos feministas, que isso foi se modificando no Ocidente. Entre as questões que contribuíram para uma transformação nas relações de gênero, pode-se destacar a popularização dos métodos contraceptivos modernos. A possibilidade de uma vida sexual não associada a procriação modificou não só as relações heterossexuais, mas também outros aspectos da vida cotidiana. Apesar disso, essas mudanças ocorriam de forma distinta dependendo da questão racial e da desigualdade social vivenciada pelas mulheres. No Brasil, esse processo fica marcado por um momento político autoritário, iniciado com o golpe civil-militar de 1964. Este cenário interferiu na forma como a pílula chegou ao país e na atuação dos movimentos feministas brasileiros. Nessa perspectiva, a partir dos trabalhos de teóricos como Michel Foucault e Paul Preciado e da documentação selecionada, são apresentados os principais temas relacionados à discussão desse contraceptivo moderno na capital pernambucana, trazendo como resultado um panorama geral sobre os comportamentos das mulheres na cidade do Recife, as disputas relativas ao corpo feminino e a presença de entidades de planejamento familiar no estado. Por meio dos jornais é possível compreender como se deu a construção do imaginário acerca da pílula e de seus efeitos colaterais e comportamentais, além da tentativa de silenciamento promovida pela imprensa sobre a relação da pílula com a liberdade sexual feminina, sendo fortalecida a associação entre contracepção e controle populacional, autorizada por discursos masculinos.

Os estudos das chamadas religiões afro-brasileiras, religiões de terreiro ou afro-ameríndias
(como aqui proposto) encontram no âmbito da Sociologia, Antropologia e Ciência das Religiões
terrenos férteis para o desenvolvimento dos mais variados debates e pesquisas no Brasil há pelo
menos um século – quando dos pioneiros textos do médico e antropólogo maranhense Nina
Rodrigues. O mesmo não pode ser dito a respeito da produção historiográfica. A História,
enquanto área de produção de conhecimento, por muito tempo não direcionou seus interesses
para com práticas culturais e dinâmicas sociais cujas realidades são dificilmente acessadas por
fontes outras que não as de natureza escrita ou cujos eventos são de difícil precisão temporal.
Posto isso, essa tese propõe, no âmbito de uma disciplina pouco afeita ao tema, analisar as
cosmopercepções, precisamente as dinâmicas da memória e dos marcadores sociais de gênero
e sexualidade nas religiões afro-ameríndias da cidade de Campina Grande-PB. Buscou-se,
compreender as concepções de mundo nos terreiros da cidade – através da história oral e de
observações participantes – e o que essas concepções informam sobre as referidas dinâmicas.
Os terreiros campinenses se constituem a partir de um complexo entrecruzamento de diferentes
práticas rituais e sistemas de crença e nessa encruzilhada os saberes ancestrais afro-ameríndios
se encontram com práticas e compreensões de mundo ocidentalizadas. Esses encontros
promovem (de maneira extremamente polissêmica) aproximações, divergências e
reelaborações cosmológicas. Analiso, como os marcadores de sexualidade e gênero coexistem
nos terreiros; a que saberes afro-ameríndios e/ou ocidentais estão associadas; quais dispositivos
de controle reiteram ou subvertem e como os sacerdotes e sacerdotisas lidam com eles. Dada a
particularidade da maioria dos terreiros campinenses – o fato de congregarem no mesmo espaço
práticas ligadas ao Candomblé e a Jurema Sagrada – perscruto e discutimos o processo de
acomodação e reinvenção histórica dos cultos na cidade na tentativa de definir como se forjam
processos de subjetivação e compreensões de mundo em espaços de contatos inter-religiosos.
É possível afirmar, a partir das observações participantes e da análise das narrativas, que os
jogos de gênero e sexualidade nos terreiros estão associados a uma relação entre: saberes
cosmológicos (construídos e/ou reelaborados nas casas a partir da relação entre os indivíduos e
o sagrado) e dinâmicas sócio históricas (que conectam os terreiros a uma realidade espacial
mais ampla e perpassada por exercícios de poder que interferem na vida religiosa). A
multiplicidade de entendimentos forjados para com o gênero e sexualidade é elucidativa das
condições sempre contingentes desses marcadores no âmbito dos terreiros.

Esta dissertação se constitui em uma análise a respeito da repressão e perseguição aos praticantes dos cultos de matriz afro-indígena no Recife entre os anos 1889 e 1929. Partindo através dos jornais da época podemos perceber algumas das relações de sociabilidade que se constituíram em volta desses traços culturais. Representados de maneira genérica como catimbó, essas manifestações religiosas foram por várias vezes descritas pela imprensa como um mal que deveria ser extinto da sociedade. Entendendo esse veículo de comunicação não apenas como transmissor das notícias, mas também como formadores de opiniões, buscamos entender as circunstâncias que levaram as publicações de tais manchetes. Os periódicos do período se posicionavam, quase sempre, de maneira combativa e isso pode ser observado em alguns textos jornalísticas que tentavam associar essa religião aos males sociais existentes. Para tal propósito, nos auxiliam nesse estudo autores como CAMPOS (2001), MAGGIE (1992), MOURA (1988), dentre outros pesquisadores. Destarte, procuramos compreender algumas das situações que cercavam os afrorreligiosos, bem como as relações e o convívio social, que, ora reprimia, ora se aproximava dessas pessoas

Este trabalho objetiva construir uma narrativa histórica sobre a participação de crianças e adolescentes no jornal O Grito de Meninos e Meninas de Rua, em Recife, entre os anos de 1988 e 2002. O periódico, mais conhecido como O Grito, foi uma publicação produzida por meninos, meninas e educadores sociais participantes do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) em Recife. Publicado pela primeira vez em 1988, o jornal se tornou um espaço para que os meninos e as meninas que integravam o MNMMR trouxessem notícias de suas comunidades, reflexões, denúncias, e registrassem acontecidos sobre os eventos planejados pela organização. A entidade responsável pela sua publicação, o MNMMR, é uma organização popular não governamental autônoma composta, sobretudo, por meninos, meninas, educadores sociais e voluntários que buscam, através do engajamento e da participação das próprias crianças e adolescentes, a conquista e a defesa de seus direitos. O MNMMR surge na década de 1980, a partir da articulação de educadores sociais que atuavam no atendimento às crianças e adolescentes em situação de rua e que fizeram oposição à concepção assistencialista e repressora do Estado no tratamento da infância e adolescência, baseada na Política Nacional de Bem-Estar do Menor (PNBEM) que vigorou de 1964 até 1990. As informações das notícias do periódico, investigado enquanto fonte histórica, foram entrecruzadas com a documentação, as publicações de divulgação do MNMMR e os relatos de memórias de pessoas que participaram da construção do jornal. As edições publicadas possibilitam, em uma perspectiva histórica, uma análise das aflições, das tensões e esperanças de meninos e meninas que circulavam entre ruas e calçadas dos bairros da capital pernambucana e que tiveram a oportunidade de transformar seus gritos em escritos e desenhos.

O movimento abolicionista no Império Brasileiro se fez presente em diversas províncias, inclusive em Pernambuco. Os avanços tecnológicos dos séculos XVIII e XIX, como o telégrafo, contribuíram para o maior compartilhamento de projetos para o fim da escravatura. Os integrantes das organizações em prol da abolição propagaram seus ideais de liberdade a partir de práticas que ocupavam o espaço público. As instituições formais do Império, como o Parlamento, eram locais destinado a poucos, em especial, aos homens letrados. Dessa maneira, o movimento abolicionista fez uso da rua e do teatro, por exemplo, para conseguir a adesão do maior número de pessoas. Homens e mulheres, alfabetizados ou não, livres ou escravizados, pessoas de diferentes condições socioeconômicas e intelectuais participaram das conferências, dos meetings, da leitura de novos jornais e apresentação de peças teatrais, cuja temática era a luta abolicionista. Buscamos compreender como o ideal abolicionista foi propagado a partir das práticas festivas, que denominamos Festas da Abolição, e como elas determinaram a construção das memórias relativas ao fim do cativeiro. Na realização desta dissertação, constatamos que a imprensa teve grande relevância na propagação do pensamento abolicionista e, assim, escolhemos os jornais Diario de Pernambuco e Jornal do Recife como nossas fontes de trabalho. Assim como as intelectuais Marlyse Meyer, Maria Lucia Montes e Maria Clementina da Cunha, dentre outros, também compreendemos a festa como um ritual de inversão de uma determinada ordem preestabelecida. Além disso, nos apoiando em Thompson, entendemos que as festas são um campo de permanências e rupturas, que inclui trocas e conflitos.

Propomos nesta investigação analisar as ações envolvendo o juízo dos órfãos de Pernambuco, no tocante aos papéis jurídicos, administrativos e sociais dos quais eram responsáveis. Nossa abordagem sobre a justiça dos órfãos propõe uma reflexão da funcionalidade da instituição do Juízo de Órfãos a partir de uma perspectiva relacional com a instituição da tutela feminina. O exercício da tutela por uma mulher precisava percorrer um caminho burocrático via juízo dos órfãos e poderia chegar ao reino. Entendemos que, partir da correspondência com a instituição da tutela feminina o Juízo de Órfãos ganhou maior abrangência na engrenagem social da colônia. Mostrando ser um pertinente meio de verticalização para o estudo do Juízo de Órfãos. Nosso objeto de análise são requerimentos de viúvas solicitando a tutela de seus filhos órfãos ou encaminhando ao juízo uma variada gama de problemas ligados as questões familiares. Analisamos o encartamento da propriedade do ofício de juiz dos órfãos de Pernambuco, assim, compreendendo a dinâmica no serviço do ofício e a ocorrência de querelas envolvendo o juiz proprietário e o juiz de fora dos órfãos. Para tanto, as contribuições teóricas de Antônio Manoel Hespanha com a abordagem da história social das instituições, nos permite atrelar o social e o jurídico e ultrapassar o conhecimento estático destes diferentes grupos sociais. 

O Mosteiro de São Bento de Olinda encontra-se numa posição privilegiada no Polígono de Tombamento do Sítio Histórico da cidade. Em 1586, os primeiros monges beneditinos chegaram à Olinda. Por volta de 1597 conseguiram comprar o terreno onde se encontra a atual abadia e iniciaram a primeira construção do mosteiro. Essa primeira construção ficou em ruínas durante a invasão holandesa. Após a expulsão dos holandeses das terras brasileiras, os beneditinos voltaram ao seu terreno e iniciaram a reconstrução de sua casa monástica. O monumento data do século XVII, tendo passado já por diversas modificações. Este trabalho pretende interpretar a versão do monumento do Mosteiro de São Bento de Olinda no governo do Abade Frei Miguel Arcanjo da Anunciação (1778 – 1786). Nossa interpretação partirá da relação da edificação do mosteiro, como um bem cultural material, com a Regra de São Bento, entendida como uma normativa de práticas sociais das comunidades monásticas beneditinas. A partir disso, construiremos diálogos sobre a composição do patrimônio cultural do Mosteiro, formado pela materialidade de sua edificação e qualificado a partir da imaterialidade da Regra beneditina.

Esse trabalho teve por objetivo geral analisar as formas como os livros didáticos de História de Pemambuco organizam e interpretam, histórica e pedagogicamente, os conteúdos referentes ao Patrimônio Cultural do estado. Para alcançar o objetivo proposto seguimos alguns questionamentos: (i) Quais os aspectos que devemos levar em conta para conjecturar o perfil de fonte histórica que possuem os livros didáticos de História, neste caso, os livros didáticos regionais? (i) Qual o lugar ocupado pelo Patrimônio Cultural nas obras didáticas regionais?: (i) Como o livro didático regional organiza suas estratégias didáticas e as perspectivas históricas para subsidiar o trabalho docente com o Patrimônio Cultural nas aulas de História?; (iv) A abordagem pedagógica das obras contribui para o desenvolvimento do saber histórico relacionado ao Patrimônio Cultural como espaço vivido e apreendido cotidianamente?; (v) Como as obras fomentam noções de identidade e memória no trabalho com o Patrimônio Cultural do estado?. Para responder a tais questões analisamos 7 obras didáticas referentes a todas as publicações presentes nos Guias do Livro Didático desde a inserção desse tipo de obra na publicação (2004, 2007, 2010, 2012). Sistematizamos as contribuições de CHOPPIN (2004) e FREITAS (2009) para pensar o livro didático e o livro didático regional, CHOAY (2004), CHARTIER (1991) e FONSECA (2009) na construção das noções de Patrimônio Cultural e Representação, e COOPER (2012), CAINELLI (2006), OLIVEIRA e CAIMI (2014:2013) e CAIMI (2010) para discutir as demandas do ensino de História Regional/Local. Diante dos empreendimentos investigativos aqui realizados, foi possivel compreender que as obras didáticas regionais, em sua maioria, apresentam o Patrimônio Cultural do estado de Pernambuco como criação simbólica, inerente a produção histórica humana, estando ele presente em momentos distintos da narrativa didática. Analisamos também que abordagem pedagógica preconiza o caráter informativo do conteúdo sobre os patrimônios, ao passo em que desprestigia o caráter de problematização ofertado pelo objeto em estudo.

Este trabalho volta os olhos para a Irmandade do Rosário dos Pretos da Vila de Santo Antonio do Recife no século XVIII, no Pernambuco colonial, com o objetivode compreender o papel social e cultural desenvolvido em seu espaço no quetange às concepções de vida e morte assimilados pelos membros da citada instituição. Nosso intento, também, é apresentar uma investigação que envolve a análise da interação dos diversos grupos africanos que conviveram no espaço da irmandade, buscando compreender suas trocas em meio a uma cultura católica dominante.O aporte teórico metodológico a ser utilizado neste estudo no tocante à coleta de fontes consiste nos paradigmas indiciários destacados pelo historiador e morfologista Carlo Ginzburg,que defende um modelo epistemológico baseado na investigação de indícios. Resíduos que se mostraram reveladores no decorrerda pesquisa.