Esta pesquisa objetiva analisar os procedimentos de sintagmatização sob uma perspectiva semiológico-enunciativa em produções textuais escritas. Para isso, realizamos um percurso sobre o estudo do texto a partir de uma abordagem, que evidencia as possibilidades que o texto oferece para discutirmos outras perspectivas, possibilitando outras formas de explorações e discussões, como o texto sob o ponto de vista da Linguística Textual, da Análise de Discurso, da Pragmática Linguística e da perspectiva enunciativa, a partir dos estudos de Koch (1997; 2002), Rodrigues (2012), Van Dijk (2018), Orlandi e Suzy (2015), (Pinto, 2004), Grice (1975/1982), dentre outros. Nessa perspectiva discorremos acerca da reflexão enunciativa de Benveniste (2020; 2023) e Flores (2013) sobre a linguagem e seus desdobramentos para abordagem do texto. O texto numa perspectiva enunciativa é tomado para analisar aspectos semióticos, de organização semiótica e ao mesmo tempo de organização semântica, uma vez que por meio do texto o sujeito-escrevente demonstra o seu engajamento subjetivo no desenvolvimento de textos escritos, revelando a organização semiológica do texto e construindo sentidos para a construção da referência. No plano semiótico, o signo linguístico está relacionado ao paradigma da língua, no campo formal e virtual das relações associativas, e o aspecto maior desse domínio é o reconhecimento por parte dos falantes. No plano semântico, tomam lugar as palavras efetivamente empregadas e combinadas no discurso, cujo intuito principal é a compreensão. Dessa forma, ao se apropriar do sistema da língua, o locutor se comunica pela escrita por meio de frases e o sentido da frase está na ideia que ela transmite. Esse sentido, de acordo Flores (2013), do ponto de vista do semiótico, funciona por meio do mecanismo de sintagmatização, ou seja, pelo que chama de agenciamento de palavras, pela organização sintática que é possível fazer de acordo com a função que as palavras exercem umas sobre as outras. Com isso, a frase em um texto só pode ser organizada por meio de um agenciamento sintagmático. O corpus de análise é composto por textos escritos sobre o tema "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil", produzidos por candidatos que fizeram a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em 2022. As análises realizadas neste trabalho têm um caráter qualitativo-interpretativo, por meio das quais buscamos discutir como cada participante ao colocar a língua em uso constrói a sua singularidade sintática a partir dos procedimentos de sintagmatização.

 Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar percepções de licenciandos(as) matriculados(as) na disciplina de Introdução à Libras sobre Literatura Surda e letramento literário. Quanto aos objetivos específicos elencamos: 1) Estudar concepções e características da Literatura Surda; 2) Identificar as percepções de licenciandos(as) matriculados(as) na disciplina de Introdução à Libras sobre Literatura Surda; 3) Mapear perfil de letramento literário de estudantes do Curso de Licenciatura em História, modalidade presencial, da UFRPE; e 4) Propor intervenção didático-pedagógica para abordagem da Literatura Surda no contexto da disciplina de Introdução à Libras. Para embasar esta investigação, recorremos às abordagens de autores(as) importantes, incluindo: Karnopp (2010); Sutton-Spence (2021); Rosa (2011); Muller (2012); Queiroz (2020); Bosse (2019); Carlos Mourão (2019); Helen Rocha (2022); Mourão (2011, 2016); Klícia Campos (2017); Alencar (2019); Silveira (2015); Rosa (2017), que discutem a Literatura Surda, assim como as contribuições de Candido (1995) sobre o Direito à Literatura como direito humano inalienável. Além disso, exploramos os enfoques de Cosson (2006) sobre letramento literário. No que se refere ao desenho metodológico, é uma pesquisa aplicada no contexto da disciplina Introdução à Libras na Universidade Federal Rural de Pernambuco/UFRPE, que ocorreu em dois semestres letivos 2023.1 e em 2024.1 do Curso de Licenciatura em História. O estudo configurou-se como pesquisa-ação (Thiollent, 1986), de abordagem qualitativa (Araújo, 2012), tendo em vista as etapas de planejamento didático e intervenção pedagógica. Aplicamos dois questionários em turmas diferentes do Curso de Licenciatura em História. O primeiro foi on-line, elaborado na plataforma Google Forms, instrumento de natureza semiestruturada, composto por perguntas fechadas e abertas, aplicado com discentes matriculados(as) na turma 2023.1. A segunda e terceira etapas foram realizadas de forma presencial, com aplicação de questionários impressos que continham 5 questões mistas e, em seguida, fizemos intervenção pedagógica com a turma 2024.1, para que os discentes produzissem livros de obras da Literatura Surda. A análise de conteúdo foi fundamentada na proposta de Bardin (1977). Como resultados das turmas 2023.1 e 2024.1, observamos contrastes significativos, Na turma 2023.1, verificamos que, aproximadamente, 70,8% dos participantes relataram ter conhecimento sobre a Literatura Surda. A turma 2024.1 revelou uma realidade preocupante, a grande maioria dos alunos não tem conhecimento sobre a existência desse mundo literário, com apenas seis discentes apresentando alguma familiaridade com o tema. Podemos concluir que o perfil de letramento literário dos(as) licenciandos(as) ainda precisa ser aprimorado diante das relações ainda incipientes com a literatura, principalmente, considerando o conhecimento dos discentes sobre a literatura surda. O fato de uma quantidade considerável dos alunos afirmar que leem obras literárias, com uma frequência moderada, e uma baixa adesão à leitura digital, revela que o letramento literário desses estudantes é em grande parte superficial. Na etapa final, dedicada à prática de produção de livro, observamos que, mesmo com pouco conhecimento sobre o mundo literário da comunidade surda, os grupos conseguiram alcançar o objetivo proposto.

A trajetória da autoria feminina na Literatura Brasileira é marcada por declínios e apogeus que estão intimamente vinculados à história da mulher na sociedade. A partir de 1960, as narrativas que fazem da mulher o elemento medular da trama aparecem na produção escrita nacional com mais fôlego para apresentar e discutir o universo feminil sob uma ótica de ruptura dos estereótipos engessados socialmente por intermédio do sistema do patriarcado. Dessa maneira, surge, no contexto da pós-modernidade, um grupo de escritoras encarregadas de contestar os parâmetros literários do país com vistas à consecução de uma reformulação no quadro da atividade da escrita literária brasileira. Em Bocas de mel e fel (2011), da autoria de Nilza Rezende, a protagonista, Irene, mimetiza a mulher típica da contemporaneidade, em sua construção identitária e performática, face a uma relação amorosa, eivada de erotismo, experimentada com dois homens, o primo, Antônio, e o professor universitário, Pablo. Por esse aspecto, este estudo tem como principal objetivo: analisar as representações do feminino e as faces do amor em Bocas de mel e fel (2011). Para tanto, a pesquisa, de abordagem qualitativa e de natureza teórica, busca analisar o texto da autora supracitada a partir dos princípios da Crítica Textual em consonância com a aplicação das teorias embasadas nos Estudos Culturais, com o intuito de realizar uma interpretação íntegra do texto literário, respeitando o seu caráter artístico. O aporte teórico utilizado para alicerçar as discussões, acerca das perspectivas do Feminismo e da Autoria Feminina no Brasil, reúne autoras como Hooks (2019;2024); Duarte (2003); Xavier (1996) e Zinani (2011). Ademais, para abordar as representações do feminino no texto analisado, foram consultadas as contribuições conceituais de Kolontai (2009); Teixeira (2009); Zolin (2009) e Hall (2006) e, para alicerçar as ponderações feitas sobre as faces do amor na trama, recorreu-se às epistemologias de Paz (1994); Bauman (2004); Costa (1998); Menezes (2007); Oltramari (2009); Almeida e Lomônaco (2018) e Neves (2007). Os resultados apontados na análise da narrativa estudada expressam a fragmentariedade identitária da personagem Irene justificada pelo contexto social da pós-modernidade, sendo possível classificá-la como uma mulher do tipo transitório (Cf. Kolontai, 2009). Além disso, foi também possível verificar, nessa análise, a presença de duas faces do amor personificadas nos sujeitos com os quais a protagonista se relaciona, sendo elas o amor romântico e o amor confluente. Notadamente, entre o mel e o fel da relação amorosa está a mulher em busca da ressignificação de sua própria identidade.

A pesquisa tem como objetivo principal investigar a possível influência dos gatilhos mentais na tomada de decisão dos jurados em três audiências de tribunal do júri. Especificamente, objetiva-se identificar e descrever os gatilhos mentais mais recorrentes sobretudo na fase de sustentação oral da audiência, assim como observar, com base no subprincípio da ordenação linear, se a escolha da disposição de determinadas informações na cadeia sintática pode ser utilizada como orientador argumentativo. Esse estudo apresenta tipologia de pesquisa bibliográfica e documental, método qualitativo e quantitativo e raciocínio dedutivo decorrente de uma postura analítica dos dados. Partindo do pressuposto de que, segundo Lima (2006, p. 244), “a decisão do júri não é fruto apenas da informação, mas, sobretudo da persuasão”, tem-se o seguinte problema de pesquisa: De que modo os gatilhos mentais, enquanto recursos persuasivos, poderiam influenciar a tomada de decisão dos jurados em um júri popular? O corpus é constituído pela transcrição de excertos de três audiências de tribunal do júri – órgão do Poder Judiciário responsável por julgar crimes dolosos contra a vida, quando há intenção de matar – sendo uma delas acessada pelo documentário Elize Matsunaga: Era uma vez um crime. A pesquisa está inserida no âmbito teórico da Linguística Cognitiva e Funcional e fundamenta-se, principalmente, nos seguintes autores: Aristóteles (2011 [384-322 a.C.]); Givón (2001); Lima-Hernandes (2006); Cialdini (2009, 2012 [2021]); Damásio (2011); Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014); Furtado da Cunha e Tavares (2016); Divino (2020). Os resultados apontam para o fato de que os gatilhos mentais, especialmente o da autoridade, da simpatia e do compromisso e coerência, assim como a mudança na ordenação linear podem ser utilizados de forma eficiente como recursos para influenciar a tomada de decisão.

O cinema configura-se como uma arte em evidência, merecendo atenção dos estudos em literatura, que sinalizam que, no que se refere a relação entre o literário e o cinematográfico, cada vez mais um empresta do outro elementos constitutivos, seja de enredo ou de estilo. A partir da perspectiva de intersecção entre essas duas linguagens, este estudo debruça-se sobre três obras literárias Carne Viva (1987), Tarântula (1984) e A Voz Humana (1930), que deram origem a Carne Trêmula (1997), A Pele Que Habito (2011) e A Voz Humana (2020), respectivamente, filmes de Pedro Almodóvar Caballero. A carreira artística deste cineasta espanhol caracteriza-se pelas representações do desejo e do feminino, sendo a sua ligação com o corpo retratada de forma única. Este trabalho propõe a analisar as personagens femininas literárias adaptadas para o meio cinematográfico, descrevendo a construção da imagem feminina e a sua representação artística numa nova interpretação por parte de um cineasta cujas temáticas e estilo já se encontram estabelecidos na história do cinema. Neste trabalho, será examinada a representação da mulher no cinema contemporâneo e, especificamente, no cinema de Almodóvar, focando principalmente nas adaptações fílmicas das obras literárias mencionadas. Para isso, a argumentação teórica parte da leitura de Roman Jakobson (1975), Julio Plaza (2003), Charles Sanders Peirce (1974; 1977), Linda Hutcheon (2013) e Robert Stam (2006). Serão abordados os elementos que orientam a transformação da figura feminina do plano literário para o cinematográfico e a relação do realizador com a estética. No estudo das personagens femininas adaptadas pelo diretor, será descrito o tratamento dado ao corpo e às diversas sexualidades (feminina, masculina, trans), os traços estilísticos do cineasta ao migrar as personagens femininas literárias para a sétima arte e o impacto do meio cinematográfico na adaptação das obras, analisando-se tanto aproximações quanto diferenças na construção da imagem feminina nos filmes mencionados.

Tendo em vista que estamos inseridos em uma sociedade altamente tecnológica e de nativos digitais (Prensky, 2001), os estudantes da educação básica, costumeiramente, recorrem a instrumentos que facilitem sua aprendizagem. Para essa finalidade, estes utilizam as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação, que são ferramentas tecnológicas que permitem por meio de equipamentos, programas e mídias, a comunicação entre os integrantes numa rede, em diversos ambientes virtuais, como postula Soares et al. (2015). Entre as inúmeras ferramentas digitais, está a plataforma de vídeos YouTube, que possibilita um novo modo de obter o conhecimento, o que Santaella designa aprendizagem ubíqua. Dirigidos por professores, denominado edutubers, de diversos componentes curriculares, os canais são bastantes utilizados pelos educandos, com o intuito de atender às suas necessidades de aprendizagem. Ao considerar este cenário, estabelecemos como objetivo desta pesquisa analisar as videoaulas do conteúdo gramatical do verbo ministradas por edutubers do componente curricular Língua Portuguesa que possuem um número significativo de seguidores na plataforma de vídeos YouTube, com o intuito de observar as concepções de língua e gramática dos edutubers, as estratégias de gatilhos mentais utilizadas por eles e qual tipo de mindset estes ativam nos discentes da educação básica. Esta pesquisa apresenta tipologias bibliográfica, documental e aplicada, de método qualitativo. O corpus é composto pela transcrição de doze videoaulas sobre verbos coletadas de três canais da do YouTube. O estudo é embasado pelas concepções teóricas de Prensky (2001), Veen e Vrakking (2009), SIlva Junior (2017), Santaella (2010; 20114), Almeida (2015) etc., no que se refere à cultura digital e o uso das TDIC como recursos educacionais. Para teorizar acerca dos estudos linguísticos, recorremos às vozes de Givón (1995), Castilho (2014), Cunha e Tavares (2016), Neves (2000, 2020, 2022, 2024), dentre outras sumidades. No que diz respeito ao tema da cognição, Bertoque (2018), Mithen (2002) e Tomasello (2003, 2010). Por meio da voz de Cialdini (2021) discutiremos sobre os gatilhos mentais. Por fim, para abordar quanto aos Mindset, apresentaremos Dweck (2017). Os resultados encontrados apontam para a apresentação de práticas que não condizem com as propostas linguísticas e pedagógicas vigentes regidas por documentos como a Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2018). Observa-se também que temos um acervo de aulas digitais superficiais, voltado ao ensino normativo de língua portuguesa, direcionado muitas vezes à memorização de nomenclaturas e regras em que pouco contribui para compreensão da complexidade linguística, priorizando um ensino voltado ao mindset fixo em detrimento do mindset de crescimento dos educandos. No que diz aos resultados acerca das estratégias mentais utilizadas pelos edutubers, constatamos que estes acionam no mínimo 6 (seis) gatilhos: autoridade, afeição, aprovação social, reciprocidade, compromisso e coerência e escassez.

Este trabalho consiste em uma investigação a respeito da concepção de realidade na literatura fantástica, a partir da análise de cinco contos de Murilo Rubião, publicados em edição que reúne todos os contos do escritor: Murilo Rubião – obra completa (2010). Além disso, averiguamos como o autor constroi a realidade ficcional e as estratégias utilizadas para manipular a verosimilhança e garantir a fantasticidade de sua obra. Para isso, partimos do conceito de realidade como algo não mais imutável, mas construído socialmente e sujeito às mudanças de contexto histórico – o que reverbera não apenas no julgamento do senso comum sobre o que caracteriza o real como também na concepção que a sociedade tem do que é fantástico. Em face disso, organizamos o estudo em três capítulos: 1) Rubião e as teorias do insólito e do fantástico: sobre o lugar de Rubião na literatura brasileira e as características de sua obra que a ligam às teorias do fantástico, sobretudo ao fantástico contemporâneo. 2) A mímesis e os conflitos com o fantástico: trata da problematização do termo realismo na ficção fantástica, assim como a causalidade e a construção da lógica no discurso fantástico. 3) A realidade fantástica nas narrativas de Rubião: dedicado à análise propriamente dita dos contos selecionados para este estudo, a saber: “A Diáspora” e “Os Dragões”. Para fundamentar as discussões, fez-se importante buscar respaldo em estudiosos que teorizam a respeito da mímesis, da verossimilhança e da ficção fantástica. Dentre eles, encontram-se Remo Ceserani (2024), Rosalba Campra (2008), David Roas (2014), Jaime Alazraki (1990), Luiz Costa Lima (1980). As narrativas Murilianas nos sugerem uma nova forma de concepção do real e, diferentemente do que propõe a teoria organizada por Todorov (1980), que caracteriza o fantástico pelo medo ou horror e a incerteza por parte do leitor, a ficção de Rubião aproxima-se muito mais da perplexidade ou inquietação provocadas pelo insólito das situações narradas - como defende Alazraki (1990) em sua conceituação sobre o neofantástico. A constatação de que a vida cotidiana, por vezes, está permeada por uma gama de situações estranhas, absurdas e não tranquilizadoras nos leva a crer que o fantástico pode ser tão real quanto a própria realidade que ele tenta subverter. Sendo assim, a concepção de realidade passa a ser mais complexa, já que o racional e o irracional coexistem juntos. O acontecimento insólito vem para demonstrar a anormalidade do mundo real.

A identidade negra é socialmente tida como um marco corpóreo de inferioridade. Diante disso, esta pesquisa analisa a valorização e ressignificação da identidade cultural negra na mídia brasileira, tomando como foco o filme “M-8: Quando a Morte Socorre a Vida”, dirigido por Jeferson De. Em um contexto de escassa representação positiva da negritude e de forte mercantilização da estética negra, o principal objetivo deste trabalho é analisar como as identidades culturais dos negros são representadas na mídia, com ênfase em produções a partir de perspectivas da negritude. Partindo da Análise Crítica do Discurso, de acordo com Fairclough (2016), a pesquisa considera a relevância de abordagens que descentralizam a narrativa branca e incorporam perspectivas negras, observando as estratégias verbais e visuais do cineasta que redefinem as representações da cultura negra. Com uma metodologia qualitativa e ancorada na multimodalidade, pautadas em Minayo (2007) e Kress e van Leeuwen (2001), são analisadas as escolhas estéticas e discursivas que promovem a (re)existência negra e confrontam estereótipos sociais limitantes. Assim, esta pesquisa propõe uma leitura crítica dos discursos normativos, contribuindo para a criação de uma memória cultural que legitima e valoriza as identidades negras, destacando os desafios e potencialidades que emergem em produções negras. Ao examinar como essas narrativas impactam a construção de uma identidade pós-moderna e coletiva, o estudo evidencia a importância do discurso negro na superação dos estereótipos e na luta pela emancipação social e cultural, oferecendo novas perspectivas sobre as histórias e subjetividades negras no Brasil.

Pensar no campo e na cidade para além dos seus aspectos físicos, é refletir sobre as perspectivas sócio-históricas-políticas que nestes espaços se manifestam. Nesse sentido, as relações de poder e as construções de discurso de uma dada sociedade se destacam como fator responsável pelos desenvolvimentos dos espaços e pela criação de binarismos, tal qual o de gênero, que regulam o convívio social. À luz dessa convicção, o presente trabalho possui como objetivo analisar a representação das personagens femininas da obra chilena A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende, com base nos espaços em que as personagens se encontram inseridas, isto é, o campo e a cidade. Para além desse objetivo, busca-se igualmente destacar o posicionamento dessas mulheres perante um contexto sexista e apresentar como a focalização narrativa exerce influência na representação dos espaços e das personagens femininas não centrais à trama, de modo a conduzir a percepção dos leitores na construção de estigmas. Em vista disso, para alcançar os objetivos propostos, o presente trabalho de caráter bibliográfico e abordagem crítico-analítica, está embasada nos pressupostos teóricos de Henri Lefebvre (1999) e (2001) e Williams (1990), para compreensão acerca do “ideal” construído sobre os espaços campo/cidade e do processo de desenvolvimento urbano e suas consequências. José Luís Romero (2009), Prado e Pellegrino (2022), Gazmuri (2012), Bauer (1991) e Scobie (1991) para o aprofundamento sobre as cidades da América Latina e, especialmente, sobre os aspectos físicos, sociais e políticos que norteiam o país do Chile, uma vez que este se mostra como a ambientação da narrativa em análise. Beauvoir (2016), Foucault (1998) e (2022), Butler (2021), Kolontai (2011), Ferreira (2009) e Alves e Pitanguy (2003) para pensar sobre a construção cultural de gênero e sobre as consequências da dicotomia masculino/feminino no que tange ao papel social da mulher na coletividade. Garcia (2015), para refletir sobre a história das três ondas do movimento feminista, e Cypriano (2013) e Dimenstein et al. (2020) para o aprofundamento acerca do feminismo latino-americano e sobre a pluralidade das mulheres latinas. E, por fim, Spivak (2010) e Bhabha (1998) com a finalidade de refletir a respeito do conceito de subalternidade e Quijano (2011) e (2005), Mignolo (2017) e (2008), Dussel (2016) para o entendimento a respeito dos estudos decoloniais e posterior reflexão sobre a posição de subalternidade no contexto latino-americano. Nesse sentido, a partir da concretização dos objetivos propostos, foi possível considerar que em A Casa dos Espíritos a focalização narrativa desempenha um papel importante, pois, a representação dos espaços e das personagens femininas secundárias pertencentes a estes espaços são moldadas de maneira estigmatizada por meio do ponto de vista de ambos narradores, estes citadinos e de classe burguesa. Contudo, apesar das personagens femininas não centrais à trama possuírem um espaço menor, a pesquisa proporcionou a observação do posicionamento crítico das protagonistas perante um cenário sexista. Assim, embora se limitem ao status social, as protagonistas de A Casa dos Espíritos se distanciam dos aspectos da feminilidade impostos pela construção social de gênero e, de maneira mais ativa, adaptam-se a um contexto violento e opressor que dialogicamente reflete o contexto de turbulências políticas e sociais do Chile no século XX. 

Buscamos aproximar a Linguística da Literatura através da análise da obra literária Os Diários de Tulio Carella (2010) tendo como escopo a Teoria da enunciação de Benveniste. Por isso, na primeira parte fazemos uma discussão com base naa Teoria da enunciação. Cada texto de Benveniste tem o propósito e cumpre uma função social e  buscamos caracterizar uma teoria da linguagem em Benveniste  por meio da tríade homem, linguagem e cultura, pois essa tríade possibilita e mobiliza análises na linguagem. Na segunda parte, vemos que literatura se manifesta enquanto linguagem e Benveniste estabelece uma possibilidade de pensar além da escritura saussuriana e, deste modo, problematiza a língua a partir da literatura. Na terceira parte, buscamos compreender os oito capítulos do diário de Carella através da teoria da enunciação de Benveniste os diários de Tulio. Logo, sujeito da enunciação circula na categoria do estrangeiro como uma categoria estranha que não foi uma ficção literária, ao contrário, partiu da própria vivência para ficção literária. Vemos uma emaranhado da Literatura e Linguística ao esmiuçar os elementos autorreferenciais do texto. Por fim, na última parte, abordamos os elementos autorreferenciais neste texto literário, levamos em consideração que o narrador assume a primeira pessoa e com isso adquire uma nova perspectiva, sendo que algumas algumas vezes o fluxo de consciência do narrador é interrompido com a terceira pessoa para intensificar um distanciamento do narrador na cena. Este fato intrigante vai nortear o debate aqui desenvolvido.

Esta dissertação aborda a investigação do perfil docente, atrelada aos pressupostos da enunciação de Émile Benveniste (1988 e 1989) e da ergologia de Yves Schwartz (1996, 1998, 2006) e apresenta considerações acerca de aspectos que são constitutivos da atividade docente no ensino superior, a partir da interface entre a enunciação e ergologia. Nesse sentido, nosso intuito é compreender como o docente se apropria dos saberes necessários à sua prática profissional e de que forma institui a singularidade subjetiva no exercício da docência. Naturalmente, há uma série de questões implicadas nessa formulação, pois, a depender da abordagem adotada e do ângulo a partir do qual se decida observar, as respostas podem seguir direcionamentos diversos. O objetivo do nosso estudo é compreender a instauração da experiência de trabalho no ato enunciativo de docentes da educação superior e, para tanto, utilizaremos o método denominado núcleos de significação para refletir sobre a caracterização docente atrelada aos estudos enunciativos e ergológicos. Caracterizar o sujeito analisado na pesquisa é entender que o sujeito são muitos: docentes desempenhando sua atividade de trabalho, que têm níveis socioculturais e históricos diversos. Assim, entender que os referidos fatores contribuem não só para a produção de seus discursos, mas também, na construção e transformação desse sujeito, a (re)construção pela constituição de um eu que é atravessado por seu contexto cultural, econômico, histórico e social, sujeitos que refletem, agem e são na e pela linguagem e que (re)constroem a realidade com o mundo.

Maria Firmina dos Reis tem uma obra diversificada em gêneros literários, contudo, os seus textos em prosa têm a particularidade de tecer críticas às condições sociais que eram impostas as identidades divergentes a do homem branco detentor do poder. Sendo assim, a pesquisa tem como objetivo geral analisar as representações das identidades culturais nas obras “Gupeva” e “A escrava”, que foram veiculadas nos jornais do século XIX. O corpus da pesquisa é constituído pelas versões do romance-folhetim “Gupeva”, que circularam nos periódicos O Jardim das Maranhenses (1861), Porto Livre (1863) e Eco da Juventude (1865) e pelo conto “A escrava”, que foi publicado na Revista Maranhense (1887). Para isso, foram adotados os seguintes objetivos específicos: a) mapear as publicações das narrativas “Gupeva” e “A escrava” nos periódicos do século XIX; b) descrever o corpo editorial dos jornais em que foram veiculados tais textos; c) examinar as identidades dos personagens indígenas e brancos representados em “Gupeva” e d) analisar as representações de negros, pardos e brancos no conto “A escrava”. Deste modo, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, que foi realizada a partir de uma interlocução entre as teorias da História Cultural e dos Estudos Culturais, principalmente para a compreensão dos conceitos de Representação (Chartier, 2009; Hall, 2016) e de Identidade (Hall, 2006, 2014; Woodward, 2014; Silva, 2014). Posto isso, ao longo da investigação serão analisadas as seguintes categorias: a) Negro (Nascimento, 2021; Gonzalez, 2018; Souza, 2021; Fanon, 2020) a partir de uma compreensão do negro não apenas como corpo físico, mas também em termos sociopsicológicos; b) Indígena (Gonzaga, 2022; Potiguara, 2019; Krenak, 2020, 2022), considerando o que é ser indígena e os processos de violência colonial; c) Pardo (Schwarcz, 2012, Ribeiro, 2006; Carneiro, 2011) a fim de compreender a posição e trato para com as pessoas que não eram vistas como brancas ou negras, devido à miscigenação na constituição do brasileiro e d) Branquitude, (Bento, 2022; Schucman, 2014) para entender como se construiu as relações de poder entre pessoas brancas, negras e indígenas ao longo dos séculos. Os resultados da análise demonstram que a literatura produzida por Maria Firmina dos Reis não só entretia o público leitor do século XIX, como tinha interesse em denunciar o sistema escravocrata vigente, bem como evidenciar as relações de poder que eram estabelecidas entre povos de origem, gênero e etnia diferentes, ainda que, por vezes, a autora reforçasse determinados estereótipos que também circulavam nas obras literárias de seus contemporâneos.

Esta pesquisa busca analisar construções linguísticas topicalizadas nos parágrafos de introdução em textos dissertativo-argumentativos, especificamente em espelhos de redações nota mil do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), disponibilizadas em plataformas digitais. A partir desta análise, verifica-se como o candidato compartilha com o leitor, na condição de avaliador, o Espaço de Atenção Conjunta (EAC) nessas redações. Pensando em alcançar esse propósito, buscamos identificar quais padrões são mais recorrentes, a partir das construções linguísticas presentes no primeiro período tópico dos parágrafos introdutórios das redações analisadas. A fim de solucionarmos as questões: (I) Quais construções linguísticas são mais recorrentes no início dos parágrafos que constituem a introdução do texto dissertativo-argumentativo? (II) Há algum gatilho mental produzido ou predominante por parte do candidato? (III) Os candidatos envolvidos no Enem estão fazendo uso de algum padrão que denuncie o seu grau de evolução? (IV) Há algum gatilho mental produzido ou predominante por parte do candidato? (V) De que forma o livro didático contribui para o ensino de texto nas escolas? Para cumprir-se os objetivos, esta pesquisa é fundamentada nos estudos sobre a Linguística de Texto e a Cognição, a partir dos estudos de Tomasello (2003), Koch (2009), Marcuschi (2016), Travaglia (2009), Vicente (2014), Cunha (2016), Thompson; Couper-Kuhlen (2005) e Givón (1995), associado aos estudos Funcionalista com base em Defendi (2013), Lima-Hernandes (2010), Martellota (2006), Neves (2002, 2003).  Tomando como embasamento teórico o trabalho desses pesquisadores e considerando a estrutura canônica da dissertação-argumentativa, passa a investigar 55 espelhos de redações colhidas em plataformas e sites educacionais, de edições anteriores ao exame. As redações analisadas tiveram um tratamento qualitativo, e foram identificadas/categorizadas a partir de 4 padrões mais recorrentes: citação; constatação; declaração e enumeração. Neste estudo, adentramos ao ensino de texto a partir do modo que é apresentado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e, assim, verificamos como, no Livro Didático (LD), está abordado e orientado o ensino de produção textual do Ensino Médio (EM) e sua utilização como subsídio para o processo de ensino-aprendizagem dos alunos, ademais, evidenciamos que, apesar de tantos avanços tecnológicos e educacionais, os LDs continuam sendo vistos como instrumento de grande importância no contexto escolar. Se por um lado, o LD constitui um importante instrumento de ensino; por outro, identificamos que nem sempre o LD consegue cumprir e contribuir efetivamente para a aprendizagem do aluno, por esse motivo é importante que o professor considere o LD como um instrumento em sala de aula, porém não como único suporte metodológico de ensino.

Esta pesquisa tem como objetivo refletir acerca das imagens que são construídas por professores de um instituto federal de educação, ciência e tecnologia acerca do ensino de língua inglesa (LI) na educação profissional. Por meio das imagens coletadas, que chamo de representações, analiso os efeitos de sentido que são deslocados no ensino-aprendizagem da língua estrangeira (LE) e/ou da língua materna (LM), considerando as condições de produção do discurso a partir das posições que são assumidas pelos sujeitos professores. Para tanto, discuto alguns conceitos do campo da Linguística Aplicada (LA) e da Análise do Discurso Franco-brasileira, em interface com a Psicanálise Lacaniana, por meio de um entrelaçamento entre o discurso do professor acerca da língua ensinada, de sua aprendizagem desse idioma, de sua prática pedagógica e de seus dizeres sobre a prática. Como interface teórica para as refletir acerca das representações, recorremos aos Estudos Culturais por tratarmos de uma identidade não fixa, fragmentada, inacabada (Woodward, 2000; Hall, 2000), a qual se pode modificar a depender da necessidade e do momento, visto que ela, a identidade, está sempre em um constante processo de (re)construção. Procuramos, assim, investigar, interpretar e analisar as representações que surgem no processo de subjetivação dos professores de LI, a fim de flagrar momentos de identificação (Nasio, 1995; Neves, 2002; Coracini, 2003, 2007). Essa pesquisa é de natureza qualitativo-interpretativista e seu corpus foi formado por meio de depoimentos de professores acerca de sua prática docente e de sua aprendizagem da LI. Para capturar as imagens construídas em torno dessas línguas, utilizamos, como categorias de análise, a heterogeneidade mostrada (Authier, 1998, 2004) e as ressonâncias discursivas (Serrani-Infanti, [1998] 2007), o dito e o não-dito (Orlandi, 2004). Os recortes analisados foram embasados principalmente nos estudos de Coracini (1981, 1995, 2000, 2003, 2007), Lacan (1958, 1960, 1966), Loures (2007, 2011, 2014), Neves (2002, 2006, 2008, 2009), Pêcheux ([1975] 1988), Orlandi ([1999] 2009) dentre outros.

Pensar o ensino de literatura hoje, bem como as práticas que norteiam esse ensino, é pensar que discente queremos formar. Um sujeito autônomo, crítico e reflexivo requer práticas literárias que favorecem seu desenvolvimento e levem em conta sua leitura de mundo. Nessa perspectiva, nossa pesquisa se delineia a partir de questionamentos e indagações sobre a forma a qual a literatura é abordada no Ensino Médio em um mundo cada vez mais veloz e digital. Com base no exposto, o objetivo geral deste trabalho é investigar a interação de discentes leitores do 3º ano do Ensino Médio com os contos “Restos do Carnaval” e “Felicidade Clandestina”, de Clarice Lispector, considerando articulações com Recursos Educacionais Abertos (REA) para repensar o ensino de literatura na cultura digital. Coadunando com o objetivo geral, os objetivos específicos são: 1) Mapear portais de Recursos Educacionais Abertos – REA para apoiar planejamentos didáticos no campo artístico-literário; 2) Desenvolver sequência didática para abordar os contos “Restos do Carnaval” e “Felicidade Clandestina” , de Clarice Lispector, na turma do 3º ano do Ensino Médio, com apoio de REA; 3) Avaliar as percepções dos discentes leitores do 3º ano do Ensino Médio, considerando as experiências literárias vivenciadas durante a sequência didática aplicada. Quanto ao aporte teórico, a pesquisa está norteada pelas seguintes abordagens: na Estética da Recepção, nos debruçamos em Iser (1979, 1996); Jauss, (1976, 1994) e nas considerações críticas de Zilberman (2015) sobre tal vertente teórica, no ensino de literatura em Cosson (2009, 2020); Dalvi, Rezende, Jover-Faleiros (2013) Silva (2003, 2005, 2006, 2014, 2017) entre outros, quanto às reflexões sobre a cibercultura, recorremos ao enfoque de Lévy (1999). No eixo temático dos Recursos Educacionais Abertos - REA, contemplamos os estudos de Pretto (2012); Starobinas (2012); Baraniuk (2015); UNESCO (2011), Amiel (2010), entre outros. Em termos metodológicos, a presente investigação é de natureza aplicada, pois trata-se de pesquisa-ação, desenvolvida por meio de estudo de campo em uma escola pública da rede estadual de Ensino Médio de Pernambuco. Quanto à organização da sequência didática para ensino de literatura, recorremos aos estudos de Cosson (2009), por meio da proposta da Sequência Básica, constituída de quatro etapas: motivação, introdução, leitura e interpretação. A pesquisa destaca a abordagem qualitativa, com alguns dados quantitativos e possui como instrumento para a coleta de dados um Roteiro de Avaliação Diagnóstica – RAD para identificação do perfil leitor da referida turma. Quanto aos objetivos propostos, a pesquisa enquadra-se no desenho descritivo/interpretativo. Os resultados nos mostram que é possível repensar o ensino de literatura, e que os discentes, quando engajados, conseguem se tornar leitores ativos. Os depoimentos dos discentes nos trazem possíveis caminhos sobre como o trabalho com contos na escola pode motivá-los no “jogo da leitura literária” (Iser, 1979), por meio de aulas de literatura subsidiadas pelo uso de REA.

Compreendemos que o ensino de literatura, na escola, necessita de mais espaço e renovação em todos os aspectos pedagógicos possíveis, do planejamento às vivências. No cenário da Educação Básica, sobretudo no que se refere ao Ensino Médio, a literatura parece ser abordada como proposição historiográfica das escolas literárias, com trechos de obras em dissonância contextual e sem diálogo com os autores e produções contemporâneas. Na maior parte das vezes, os interesses e conhecimentos prévios dos estudantes não são valorizados para a composição das aulas, entre outras inúmeras questões, que desembocam na frágil formação de leitores literários. Diante disso, buscamos, neste trabalho, como objetivo geral, investigar as potencialidades didático- pedagógicas da literatura viva na escola, com foco nas obras Estão matando os meninos (2020) e A luta verbal (2022), de Raimundo Carrero, à luz de processos de ensinagem da leitura literária no Ensino Médio. Em alinhamento ao objetivo geral, apresentamos como questão norteadora da pesquisa: Como abordar a obra de Raimundo Carrero pode contribuir nos processos de ensinagem da literatura no Ensino Médio, tendo em vista as leituras críticas de Estão matando os meninos e A luta verbal? Quanto ao aporte teórico, nos pautamos nas conexões dialógicas entre literatura, educação e sociedade, pelas abordagens a respeito do direito à literatura, de Antonio Candido (1995, 1999, 2011) e Bourdieu (1989, 1998, 2015) com foco na perspectiva da crítica social no âmbito da educação. Com relação à literatura e sua conjuntura no Ensino Médio, ensino de literatura e leitura literária, tomamos como base Zilberman (1991), Silva (2006), Rouxel (2013, 2021), Dalvi (2011), Moisés (2016) e Lajolo (1993). Recorremos à abordagem de Anastasiou (2002, 2015) sobre o termo ensinagem aplicado ao trabalho com a literatura na escola, e a Cosson (2007, 2020, 2023) nas práticas de letramento literário. Para as leituras críticas de A luta verbal (2022) e Estão matando os meninos (2020) em conexões com a literatura, educação e sociedade, recorremos a Antonio Candido (2002, 2006, 2011) e Silva (2003, 2006); além de trazer para o escopo literário com relação ao contexto de violência na obra carreriana Paviani (2016) e Chauí (1998). No tocante ao desenho metodológico, trata-se de pesquisa-ação realizada na Erem Padre Nércio Rodrigues, na cidade do Recife, Pernambuco, com discentes do Ensino Médio. Por meio de avaliações diagnósticas das demandas de aprendizagens dos discentes, foram realizados planejamentos didático-pedagógicos direcionados a processos de ensinagem de literatura na escola, com foco na formação de leitores críticos no campo artístico-literário. Propomos abordar estratégias e metodologias para oferecer desenho didático-pedagógico, visando à formação de leitores literários; descrevemos, ainda, vivências pedagógicas no processo de ensinagem da literatura no ambiente escolar, considerando aplicação de projeto didático com discentes. 

O presente trabalho tem como objetivo investigar e refletir sobre a prática de escrita ao tratar um corpus de sincronia passada formado por 50 cartas pessoais escritas por um casal de missivistas pernambucanos durante a primeira metade do século XX. Em especial, esta dissertação dedica-se: (i) à reconstrução do perfil sócio-cultural dos escreventes, dada a partir do cruzamento das memórias do casal, registradas por meio de uma entrevista gravada e de informações recolhidas nas próprias missivas; (ii) à tradição na escrita de cartas pessoais, ao observar a estrutura e a temática nas cartas escritas pelo jovem casal pernambucano; e (iii) à caracterização do grau de habilidade, ao investigar a produção escrita dos redatores pernambucanos. Sob o aparato teórico-metodológico da História Social da Cultura Escrita (Petrucci, 1978, 2003; Martínez, 1988; Castillo Gómez e Sáez, 2016; Castilho Gómez, 2020), diante da caracterização das mãos dos redatores (Marquilhas, 2000; Santiago, 2012; 2019), e do Modelo de Tradição Discursiva (Koch, 1997; Kabatek, 2004, 2006; 2012; Longhin, 2014), os resultados alcançados apontam para um corpus representativo quanto a prática de escrita de cartas de amor, revelando que a temática amorosa assume nuances particulares e que contribui para a complexidade e profundidade das experiências afetivas entre N (a noiva) e Z (o noivo), além de observar que os elementos estruturais perpassam o tempo mediante a sua função sociocomunicativa. De modo que, apesar de ambos os missivistas apresentarem dimensões de inabilidade com a escrita, as mãos também revelam a capacidade de escrever cartas amorosas, sendo entendida como uma tradição cultural, demonstrando que a prática de escrita de cartas não é apenas individual, mas uma herança cultural construída historicamente para atender a demandas sociais relacionadas à comunicação amorosa por meio da correspondência escrita. Portanto, a investigação realizada contribui para as discussões que se detém tanto ao campo da História Social da Cultura Escrita quanto ao Modelo de Tradição Discursiva ao apresentar dados significativos de escreventes pernambucanos inábeis com a produção de escrita de cartas amorosas na primeira metade do século XX.

A noção de identidade parece sempre acompanhar e desestabilizar a humanidade. Particularmente na modernidade líquida em que nos encontramos, a influência das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) tem contribuindo fortemente para o aumento de interesse sobre o termo e a sua flexibilização para novas discussões a seu respeito. Uma vez que a questão da identidade dialoga com diversas áreas do conhecimento, o termo se torna de difícil definição. No entanto, nos Estudos Culturais, teóricos como Stuart Hall (1992), Homi Bhabha (1994) e Zygmunt Bauman (2001), dentre outros, contribuem para as novas reflexões quando, através da perspectiva da cultura, se propõem a estudar as transformações as quais as sociedades modernas tem sido submetidas, bem como o impacto que tais mudanças tem sobre a construção da identidade do sujeito moderno nesse contexto. Na conjuntura contemporânea em que nos encontramos, onde a flexibilização dos limiares culturais desloca os indivíduos física e simbolicamente, faz-se interessante apoiar o estudo da identidade na concepção de cidade, por exemplo, especialmente, quando a consideramos enquanto um espaço de materialização do conjunto simbólico de uma sociedade. Na tentativa de dar sentido a uma complexa realidade de sentimentos que emergem dos vários loci identitários sociais, a figura do poeta emerge investido da tarefa de, por meio do texto poético, captar e registrar o cenário social e oferecer de volta a sociedade, a oportunidade de transformar a si mesma e ao panorama no qual se encontra. Nesse contexto, a escritora chicana Gloria Anzaldúa auxilia no debate ao introduzir em seu famoso poema ‘‘To Live in the Borderlands means you’’, a ideia da consciência mestiza e da fronteira como seu local de nascimento. Ao fazer isso, não apenas ela apoia as proposições de Hall, Bhabha e Bauman de que a modernidade líquida contribui para a emergência de identidades fragmentadas e híbridas, como também atribui grande relevância ao entrelugar na dimensão simbólica para a formação da nova consciência. De modo semelhante, em ‘‘rooting’’, parte da coletânea de poemas the sun and her flowers (2017), a poeta indiana-canadense rupi kaur explora a experiência de uma identidade mestiza imigrante e seu sentimento de ser ‘‘ponte’’ entre a Índia e o Canadá. A temática compartilhada entre os dois textos nos conduz a compará-los. Através de análise comparativa, percebemos que, embora haja diálogo entre os poemas, as diferenças quanto as fronteiras temporais, geográfica e linguísticas promovem um certo distanciamento entre as autoras e as respectivas obras que impedem os textos de contribuírem para o avanço da discussão a respeito da identidade híbrida/mestiza que é formada na flexível e líquida modernidade.

Dentre os estudos da linguagem inseridos no hodierno, os estudos da Análise do Discurso Crítica (ADC) estão entre os de maior destaque por observar as relações de poder na sociedade e em como essas relações são construídas e constituídas pelos elementos discursivos. Dessa  maneira, com a finalidade de fomentar os estudos que já possuem grande espaço na academia, a presente pesquisa buscou como mote de observação os fenômenos discursivos que ocorrem na internet, mais especificamente os fenômenos  intrínsecos à produção e transmissão dos memes. Além disso, objetivando expandir a transdisciplinaridade e poder contemplar o social por uma perspectiva mais coesa, houve a escolha de uma análise dos fenômenos discursivos não apenas pela ADC, mas também pelos postulados nas ciências jurídicas. Com o propósito de possibilitar tal estudo, portanto, delimitou-se a um processo de investigação cujos corpora são as reproduções/produções e transmissões de memes em que discursos de ódio ao feminino (misóginos, homofóbicos e transfóbicos) estão imiscuídos em seu conteúdo, descaracterizando o que seria uma produção da internet voltada ao humor e compondo um possível ato típico,  antijurídico e culpável.  Dessarte, objetivou-se no estudo a) identificar o que seriam os memes, e os mecanismos usados nos memes para que haja a disseminação dos discursos de ódio ao feminino sob a tergiversação do humor; b) comprovar que determinadas produções de memes não se enquadram dentro da legalidade, e sim cometem um ilícito, usando como corpora os memes que discursivamente violentam o feminino; c) refletir sobre a impunidade existente para a criação e disseminação dos memes e apontar possíveis efeitos desses memes sobre as relações sociais. Para possibilitar a realização dos estudos, tomou-se uma metodologia de pesquisa qualitativa, por meio da revisão das literaturas já existentes como teses, artigos, dissertações e os postulados teóricos dos autores centrais das áreas da memética, da ADC, da sociologia e do direito penal e constitucional. Por fim, após as pesquisas e considerações, realizou-se uma análise tridimensional dos corpora — sociológica, linguística-discursiva e jurídica. Alcançando, dessa maneira, resultados  conclusivos e provocativos ao Estado e à comunidade acadêmica em relação aos fenômenos discursivos e jurídicos relacionados ao meme.

O presente trabalho objetiva discutir o conceito de memória nas perspectivas individual e coletiva, em “Sonhadora” (2002) de Adriana Lunardi, para observar como a voz feminina silenciada no enredo contribui com a reconstrução de uma memória social. Por meio da protagonista Júlia, busca-se perceber como suas lembranças e a de outras personagens se presentificam na narrativa representando valores e mentalidades de variados perfis da sociedade. Com vistas a problematizar como o texto transfigura o contexto dos estratos sociais presentes no conto, foram utilizados pressupostos teóricos de Jeagger (1994), Aristóteles (2008), Lukács (2009) e Antonio Candido (2014), de modo a registrar um panorama histórico sobre a configuração dos heróis e dos personagens ao longo do tempo. No que tange a memória foram consideradas as ideias de Weinrich (2001) sobre o lembrar e o esquecer; Bergson (1999) e sua perspectiva sobre memória individual; e, tratando-se da memória enquanto manifestação coletiva, foram seguidos os postulados de Halbwachs (1990) e Ecléa Bosi (1979; 2003). Esta pesquisa teve um caráter bibliográfico e uma abordagem qualitativa, e as análises permitiram perceber que duas histórias integram o conto: a narrativa lunardiana e a da protagonista. Na história de Júlia, foram identificados aspectos que se voltam para o processo de contação oral, bem como a importância do ato do narrar na transmissão das experiências. Tratando-se da memória individual, constatou-se que as lembranças da protagonista delineiam seu comportamento e servem de guia para o desenvolvimento de suas ações. Vivendo sem enxergar o mundo, as lembranças individuas funcionam como uma forma de manter o mundo e a memória vivas enquanto a morte se aproxima. Quanto à memória coletiva, as representações que cada mulher desempenha ao longo da narrativa rememoram condições de silenciamento e de falta de representação feminina na literatura, referenciando uma condição: que a memória das mulheres sofreu tentativas de apagamento ao longo da história. Dessa forma, a memória individual se converte em coletiva ao passo que propicia reflexões que se voltam para a representatividade de uma coletividade feminina.

Neste estudo, busquei verificar a percepção de alunos do Ensino Fundamental acerca da representatividade da mulher no cenário do brega-funk, gênero musical subestimado no âmbito escolar, a partir da análise de uma intervenção didática, onde, numa roda de conversa, os alunos analisaram uma música do gênero e, em seguida, compartilharam suas percepções acerca dos elementos linguísticos e discursivos que representam a mulher no texto, bem como os elementos inerentes ao meio de produção da canção. O trabalho foi desenvolvido sob a ótica dos gêneros (BAKHTIN, 2000) e (MARCUSCHI, 2008); da perspectiva do ensino dos gêneros por (SCHENEUWLY; DOLZ, 1995); e da Análise Crítica do Discurso (FAIRCLOUGH, 2001, 2016) para subsidiar a análise dos dados contidos na resposta dos alunos. A pesquisa aborda, ainda, a construção social da imagem feminina com base em HALL (2006). As análises linguísticodiscursivas partem da historicidade desse estilo de canção e sua variedade linguística, os diferentes efeitos de sentido motivados pelas escolhas lexicais, as estratégias de verbalização e seus efeitos discursivos, dando um enfoque à análise crítica do discurso. O objetivo geral é analisar a percepção dos alunos do 8° ano do Ensino Fundamental do Município do Paulista acerca da representação da mulher nas músicas de brega-funk. Os objetivos específicos são: 1. Traçar a historicidade do bregafunk, considerando os estilos musicais anteriores; 2- Identificar marcas linguístico-discursivas que evidenciem a representação da mulher nas letras de brega-funk; 3. Analisar o ponto de vista dos alunos acerca da representação da mulher sob a óptica da análise crítica do discurso. Adotei o método de abordagem indutivo; método de procedimento comparativo; a pesquisa, do ponto de vista de sua natureza, é aplicada; do ponto de vista da abordagem, é qualitativa; do ponto de vista dos objetivos, é exploratória; do ponto de vista dos procedimentos, é pesquisa-ação (LAKATOS; MARCONI, 2003). Este estudo mostra-se relevante porque busca não apenas discutir os novos espaços conquistados pela mulher contemporânea na sociedade, mas também o de agregar novas perspectivas ao ensino de língua portuguesa, trabalhando um gênero excluído pelo sistema de ensino elitista vigente.

A pesquisa intitulada “Livros cartoneros^[1]: um mecanismo pedagógico para o processo de produção textual e leitura/escuta da alma” foi desenvolvida na linha de pesquisa Análises linguísticas, textuais, discursivas e enunciativas – estudos sob diferentes perspectivas teóricas, do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem – PROGEL/UFRPE. O estudo versa sobre a necessidade de um trabalho com a língua(gem) pautado nos múltiplos gêneros textuais, os quais permitam compreender as vozes dos sujeitos sócio- históricos e ideológicos em diversas situações comunicativas. Dessa maneira, visa investigar as contribuições do livro cartonero como estratégia pedagógica do(a) Professor(a) de Língua Portuguesa (PLP) para uma prática de produção textual que propicie a escuta das vozes internalizadas do(a) educando(a). A pesquisa foi realizada em uma escola pública, localizada na cidade de Recife – PE e os sujeitos do estudo foram uma professora de Língua Portuguesa e os seus(suas) educandos(as) do 1º ano do Ensino Médio. A escolha desses estudantes justifica-se pelo fato de praticarem, nos últimos anos da formação básica, inúmeras atividades de produção textual escrita voltadas para a redação escolar, invisibilizando outros gêneros textuais escritos, que cooperam com o desenvolvimento da língua(gem) e, consequentemente, para a expressão do sentir, do agir e do pensar dos(as) educandos(as). Nesse sentido, a problematização consiste na seguinte reflexão: o uso de livros de livros cartoneros, em sala de aula, pode se configurar como uma estratégia do PLP capaz de fortalecer o processo de produção textual e contribuir para a leitura/escuta das vozes internalizadas do(a) educando(a)? Valendo-se do método da pesquisa-ação, foram utilizados os seguintes procedimentos: análise documental, observação exploratória, entrevista semiestruturada, oficina para a professora da área de linguagem, para o uso do livro cartonero, e observação participante. Inserida numa abordagem qualitativa, a pesquisa tem, em sua base epistemológica, autores como Abreu (2003), Antunes (2003), Bakthin (1990), Bentes (2014), Benveniste (2005), Chartier (2019), Dezerto (2010), Fiorin (2015), Freire (2011), Geraldi (1984). Leal (2020), Marcuschi (2008), Saussure (2015), Orlandi (1998) entre outros, que cooperam com as discussões das seguintes categorias: (1) o sujeito; (2) a ideologia; (3) A formação discursiva e (4) o discurso. Portanto, a ideia defendida é a de que o trabalho com os gêneros textuais escritos deve ocorrer numa perspectiva de língua(gem) interativa, que permita a leitura/escuta das vozes internalizadas do sujeito. Assim, os livros cartoneros são suportes que podem auxiliar o PLP para um trabalho rico e vasto assentado nessa perspectiva.

A abordagem enunciativa no ensino de língua é relativamente recente e ainda se encontra em processo de consolidação, sobretudo se considerarmos a perspectiva enunciativa baseada nos postulados teóricos de Benveniste. Por outro lado, uma abordagem dessa natureza possui amplitude considerável, pois está assentada em  princípios que comportam aspectos regulares do sistema da língua e, ao mesmo tempo, sustentam as singularidades subjetivas na unicidade do ato discursivo. Logo, o ensino de língua a partir desse olhar enunciativo pode promover o desenvolvimento das capacidades linguísticas, textuais e discursivas do aluno, como postulam os documentos oficiais da educação como a Base Nacional Comum Curricular, a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional 9495/96, os Parâmetros Curriculares Nacionais. Nesse sentido, a presente pesquisa se volta para a categoria de tempo a partir de uma perspectiva enunciativa, buscando discutir suas dimensões e formular princípios para abordagem dessa categoria no ensino de língua. Do ponto de vista enunciativo, a categoria de tempo apresenta diversas dimensões ligadas ao ato discursivo e aos elementos a ele subjacentes, como a experiência, a alteridade, a história e a cultura do homem na e pela linguagem. No caso do texto escrito, a atualização da categoria temporal também apresenta outras particularidades relacionadas ao sistema significante da escrita. Esta dissertação tem por objetivo analisar a construção e a organização da categoria de tempo em produções de narrativas textuais escritas de alunos do Ensino Fundamental I com o intuito de pensar em elementos para uma abordagem enunciativa da temporalidade no ensino de língua materna. O trabalho está fundamentado nos estudos de Émile Benveniste para quem a escrita é uma forma complexa de discurso, que exige do enunciador-escrevente uma atividade voltada ao nível semiótico da língua para lhe permitir estabelecer relação com o outro por meio de signos. O corpus da pesquisa foi composto por narrativas escritas e reescritas por alunos do Ensino Fundamental 1. As análises têm caráter qualitativo-interpretativista e voltam-se à observação do funcionamento da categoria de tempo e da construção de referência em narrativas textuais escritas, buscando compreender a subjetividade e a intersubjetividade do enunciador-escrevente. Com base nas perspectivas de Benveniste, concluímos que, na enunciação escrita, a criança promove ajustes a sua escrita por meio da referência e da construção de sentidos no texto narrativo escrito. Desse modo, a criança ao enunciar-se na língua revela o seu lugar no ato enunciativo escrito através de procedimentos de sintagmatização utilizados para a construção de sentidos no texto escrito na relação entre locutor e alocutário. No ato de escrita a criança mostra toda a sua singularidade referente ao sistema e estrutura da língua em virtude do processo de autorreferência realizado pela criança ao apropriar-se da língua para estabelecer a enunciação escrita.

O presente estudo destaca a variação regional como uma de suas dimensões, que se caracteriza pela evidência de formas de palavras, pronúncias e estruturas sintáticas distintas entre as regiões, o que também ocorre em Língua de Sinais. Os autores Brito (1995), Felipe (2001), Quadros e Karnopp (2004), Diniz (2011), Castro Júnior (2014) entre outros, discutem a variação linguística nas Línguas de Sinais na comparação das formas: a) Configuração de Mãos (CM); b) Locação (LOC); c) Movimento (M); d) Orientação de palma de mão (OP) e e) Expressão facial e não manual (EXNM). O objetivo deste trabalho é analisar e descrever a história da mudança das Línguas de Sinais na cidade do Recife, esse fenômeno linguístico denominada variação linguística, que pode gerar novos sinais. Os sinais cuja forma pode ter mudado por motivos definidos pela própria linguística. Este estudo investigou a variação linguística que ocorre espontaneamente nas línguas humanas naturais, que foi iniciada por William Labov, o fundador da teoria da sociolinguística variável, percebendo que os falantes não falam de forma homogênea, mas sim de maneira heterogênea, considerando o fator social para estudar o fenômeno. Para atingir este objetivo, a metodologia qualitativa foi escolhida para quantificar os dados da amostra, verificar e analisar a variação linguística apresentada com sinais gerados por falantes surdos em Recife, com o objetivo de encontrar variação diatópica (variação regional ou geográfica) e variação diacrônica (história) nas Línguas de Sinais.

Este trabalho examina as marcas dos conflitos, de cunho político e ideológico, impressos na construção discursiva e na constituição histórica que aparecem na prosa folhetinesca Juan Moreira, de Eduardo Gutiérrez, publicada por entregas nos anos de 1879 e 1880. A partir dessa demanda, pesquisa-se como se dá a inserção dessa obra imersa em um pacto ficcional muito próximo à realidade, uma vez que se trata de uma narrativa que conta momentos violentos de um protagonista exemplar, forjado pelo autor dentro de valores exaltados pela cultura gauchesca argentina. Assim, são mostradas as nuances e os percursos estudados que revelam como se deu a construção de um prófugo, procurado e morto pela polícia, em um bandido-herói dotado com valores gauchos, que tem a capacidade de carregar virtudes e aspectos simbólicos inerentes à fundação de uma comunidade imaginada. Além disso, este trabalho anota os conflitos revelados entre distintas ideias e discursos no campo literário, em obras que dialogam no século XIX, assim como analisa os conflitos no interior da narrativa, a partir da categorização e tipificação dos personagens, que representam papéis sociais dentro de um padrão alegórico em uma nação, recém-fundada e já dividida, configurada no estado modernizante que conta com um público leitor da mídia impressa. Para tanto, são utilizadas principalmente as contribuições teóricas sobre a prosa folhetinesca de Martín-Barbero (1997), Marlyse Meyer (1996), Thomasseau (2005) e Eco (1991); as colaborações dos estudos sobre gauchismo e criollismo argentino de Adamovsky (2018), Laera (2003), Ludmer (1988), Prieto (1988) e Shumway (2008); e os aportes sobre banditismo e fundação de comunidades imaginadas de Anderson (1993) e Hobsbawn (2015).

Na literatura, a figura masculina, quase sempre, representou liderança e ocupou uma posição de superioridade, isso refletiu na maneira como as mulheres eram representadas na literatura. Apesar da invisibilidade da voz feminina e de o corpo feminino ser apresentado no campo literário, geralmente, de modo sexualizado e na condição de submissão à religião cristã, alguns autores promoveram uma ruptura desse sistema canônico, e trouxeram personagens femininas que eram “senhoras de suas vontades”, sugerindo a quebra do pensamento que se baseava no cânone, promovendo, então, a neutralização da ordem de força masculina, tida como universal e legitimada através dos discursos. Jorge Amado, por exemplo, foi um dos autores da Literatura Brasileira que rompeu com as fronteiras nacionais e ganhou notoriedade mundial com sua vasta produção literária e diversos romances que narram histórias permeadas por questões históricas, sociais e culturais do país. Nesse sentido, desenvolvemos a análise literária da obra O Sumiço da Santa, de Jorge Amado, a fim de compreender como se dão os processos culturais relativos à sexualidade e à religiosidade das personagens Adalgisa e Manola, e a representação feminina no campo dos estudos literários. Para isso, a pesquisa foi orientada a partir dos Estudos Culturais da Pós-Modernidade, com destaque para questões referentes à identidade, às representações sociais e à sexualidade feminina. O objetivo geral da pesquisa é compreender de que forma a religião influencia a construção da sexualidade feminina na obra já mencionada. Quanto aos objetivos específicos, investigamos como se deu a compreensão dos processos culturais relativos à sexualidade e à religiosidade das personagens Adalgisa e Manola, como esse processo é representado na literatura e como a figura feminina é representada no campo literário. Sendo assim, com base na seguinte questão norteadora: Como a religiosidade influencia a construção das personagens femininas na obra O Sumiço da Santa: uma história de feitiçaria?, buscamos comprovar que, na obra em questão, os processos relativos à sexualidade sofrem influência da religião patriarcal e que se apresentam de forma menos libertadoras para as mulheres da obra.

Dentre os livros indicados "para crianças", há uma bem-vinda infinidade de histórias que ultrapassam delimitações etárias. Histórias que nos dão a ler as infâncias não como uma idade, mas um modo de estar e um objeto cultural. Essas infâncias alargadas habitam as literaturas que vão além de um público previamente calculado e oferecem aos leitores uma “brecha” libertária, a de se encontrar (também) com os livros fora das rotas pré-programadas. Esta pesquisa busca retratar como a literatura transetária, isto é, que vai além do elemento etário, a partir da chamada crossover fiction (Beckett, 2009), pode ser identificada na obra “Contos de lugares distantes” (2012), do escritor e ilustrador australiano Shaun Tan. Na perspectiva metodológica de Minayo (2007), realizamos uma pesquisa exploratória de base bibliográfica analítica, dividida em três eixos: 1) A partir de um estudo da obra em análise, pensar os múltiplos destinatários de literaturas com potencial de recepção infantil, a partir do conceito de “leitor implícito”. Com apoio em pressupostos da Estética da Recepção, recorremos a Iser (1996 e 1999), Jauss (1994), e também à leitura crítica de Zilberman (2015). Dialogamos, também, com perspectivas contemporâneas a respeito das relações entre livro e leitor, tais como: Penelas (2023), Squilloni (2023) e Bajour (2018). 2) Revisitar produções teóricas a respeito de livros que não se subscrevem a audiências únicas. Para isso, partimos de uma revisão bibliográfica que explora diferentes visões sobre as questões do destinatário na literatura, sobretudo em Beckett (2009) e Andruetto (2012 e 2017); 3) Apresentar as percepções do escritor e ilustrador Shaun Tan, a partir de uma entrevista inédita realizada para esta dissertação. Utilizamos como corpus literário os contos "Eric", "Ressaca" e "Os gravetos". Nessas leituras, mapeamos o modo como cada texto – encontro entre verbal e visual – invoca múltiplos leitores, buscando em todo potencial leitor um diálogo possível com o elemento infância. Ao notar elementos associativos de universos etários plurais, enxergamos nos contos possibilidades de ampliar a mera associação criança-infância para encontrar infâncias que povoam literaturas transetárias. Na entrevista com Tan, revisitamos os preceitos da base teórica utilizada e também do livro de não ficção "Creature" (TAN, 2022b), a fim de oportunizar uma visão sobre literaturas transetárias a partir da dimensão da autoria. Esperamos contribuir com a produção científica deste campo em expansão que é a teoria e a crítica literária voltadas às produções para as infâncias, tendo em vista a relevância de colocar em cena seus múltiplos destinatários; um campo que se situa, cada vez mais, como um lugar de fronteiras paradoxalmente inclassificáveis, de transições e subjetividades, como o são os próprios sujeitos que a coabitam.

A presente pesquisa procura investigar como se dá a relação entre a desigualdade socioeconômica da cidade do Recife e o discurso presente em canções de brega-funk. Para tanto, dados recentes sobre o tema envolvendo a capital pernambucana foram levantados e debatidos, sobretudo a partir das contribuições de Soares (2021). Também foram realizadas uma contextualização histórica da fundação da cidade e do estabelecimento de sua atual configuração centro-periferia. Tendo como base os estudos de Orlandi (2004; 2017), o brega-funk foi apresentado como um fenômeno que reflete e produz conflitos entre as classes socioeconômicas recifenses e como uma prática que estabelece uma intrínseca equivalência entre a periferia e os/as periféricos/as da cidade. O corpus é composto por cinco canções de diferentes autorias que possuem mais de um milhão de visualizações na plataforma de vídeos YouTube, tendo sido lançadas a partir de 2018, o qual é tido como o ano em que o brega-funk atingiu sucesso nacional. As canções foram analisadas com base na Análise Crítica do Discurso, mais especificamente na abordagem de Norman Fairclough (2003) acerca do discurso como representação dos eventos sociais, tendo como critério linguístico o sistema de transitividade oracional, segundo as diretrizes da Linguística Sistêmico-Funcional de Halliday e Matthiessen (2014).

RESUMO
Esta dissertação tem como foco a construção da personagem feminina na obraMuito
Além do Corpo, da escritora pernambucana Luzilá Gonçalves Ferreira. Para realizar esta
investigação,buscou-se,primeiramente,traçaropercursodaconstruçãoidentitáriada
personagem, que a partir de suas próprias reflexões e experimentação de mundo, define o que
lhe é favorável ou não, para o seu bem-estar e liberdade. Este trabalho tem o intuito de analisar
a corporalidadeda personagem,aproximando-lhe da ideiade corpoliberado. Para tal
utilizaremos como embasamento teórico principalQue Corpo é esse? O corpo no imaginário
feminino(2021), de Elódia Xavier. Além de nos determos em Michael Foucault (1987 ), Simone
de Beaouvir (1967) , Bourdieu (2002); fazendo um levantamento histórico e social da questão
corporal na sociedade e como a dicotomia mente/corpo contribuiu para a separação do homem/
mulher de maneira negativa. Para tratar do feminismo no Brasil, nos valemos deA História do
Feminismo no Brasil(1999), Constância Duarte (2009), Chimamanda Adchie (2014), Woolf
(2014) entre outros nomes não menos importantes. A partir dessas e de outras bases teóricas,
buscaremos apresentar a construção histórica e social do corpo feminino na sociedade e como
o corpo da personagem na obra supracitada é dotada de um corpo liberado. Observando também
como a sua construção identitária se volta no sentido contrário do esperado pelo escopo social
imerso em ideiais masculinistas.

A partir do entendimento do jornalismo enquanto agente social que promove e repercute certas formas do senso comum e serve ao poder como mantenedor das estruturas sociais, este trabalho propõe-se a analisar de modo crítico a forma como os casos de violência e violações dos direitos humanos contra a população trans são divulgados nos jornais, a fim de entender/questionar as estratégias linguísticas usadas para anunciar tais crimes e as possíveis consequências do uso dessas estratégias para o debate do assunto na sociedade. Por meio da Análise Crítica de Discurso (ACD), foram examinadas 4 notícias veiculadas nos portais G1 e UOL, entre o período de 2017 a 2021, cenário de recrudescimento da LGBTfobia e de legitimação de discurso de ódio e violência, notadamente relacionado à narrativa político-eleitoral. Para nortear o percurso analítico, as reflexões aqui tecidas ancoram-se nos pressupostos teórico-metodológicos da Análise Crítica do Discurso (ACD), nas perspectivas de estudos sobre Gênero e Sexualidade, bem como teorias sobre o Jornalismo. Os resultados apontam que os discursos jornalísticos reproduzem relações de gênero e de poder hegemônicas que contribuem para invisibilizar a identidade das pessoas trans, através de mecanismos usados na produção de sentidos violentos na/pela linguagem, produzindo e reforçando estereótipos que podem ser responsáveis pela manutenção das desigualdades e preconceito. Acreditamos que este estudo se justifica diante de um cenário de violências e restrições de direitos e do boom de neoconservadorismos que estamos vivenciando, em que o gênero, como um dispositivo social de controle da maior importância, não ficou de fora. Portanto, torna-se imperativo ampliar as pesquisas relacionadas às noções engessadas acerca das identidades de gênero e sexualidade, mostrando a necessidade de discussões sobre a pluralidade de vivências de gênero e de sexualidades e do quanto ainda precisamos avançar nesse debate.

O objetivo deste trabalho é identificar, a partir de coleta de vídeos do Youtube, padrões de choro nas fases iniciais do desenvolvimento do bebê na primeiríssima infância materializados via emoção. Acerca do desenvolvimento humano e da aquisição da linguagem, tomaremos por base Tomasello (2003), segundo o pesquisador o conhecimento humano não é apenas um fruto genético (ontogênico) que foi se propagando ao longo do tempo, mas que carrega, além disso, em sua essência, marcas culturais e eventos sociais (filogenia) para seu desenvolvimento. Já, Vygotsky (2000 [1934]) enfatizava o papel da linguagem e do processo histórico social no desenvolvimento do indivíduo. Segundo o autor russo, a aquisição de conhecimentos se dá pela interação do sujeito com o meio. Para ele, o sujeito é ativo e interativo, pois é na troca com outros sujeitos que o conhecimento e as funções sociais são assimilados. Clark (2009) acredita que o uso da linguagem é a parte integrante da vida cotidiana em que transmitimos desejos e necessidades, pensamentos, preocupações e planos. Por fim, para Damásio (2009), o processo da emoção e do sentimento dissemina-se então para outras partes do cérebro e pelo corpo propriamente dito, desenvolvendo o estado emocional. Usar a linguagem parece tão natural quanto respirar ou caminhar. Mas os bebês não nascem falando. Eles aprendem a língua, a partir do nascimento. Ekman (2011) conseguiu detectar, em seus estudos na década de 60, que existem 06 emoções básicas. Mais de 20 anos depois foram acrescentadas outras expressões. Ekman (2011) conseguiu detectar também mais de 10.000 mil microrregiões faciais em contextos emotivos. Para a concretização deste trabalho, estamos realizando um estudo longitudinal. Esse é um método de pesquisa que visa analisar as variações nas características dos mesmos elementos amostrais (indivíduos), ao longo de um determinado período. Neste trabalho, estudaremos as transições individuais, os efeitos cumulativos das transições do ciclo de vida do bebê na primeiríssima infância, acompanhando e avaliando as diferenças e mudanças culturais.

Partindo do pressuposto que, na atualidade, a exposição midiática potencializada pelas conexões online é um poder nas disputas ideológicas que atravessam a sociedade que, por consequência, condicionam a produção de sentido e as relações hegemônicas, este trabalho tem como objetivo principal analisar as formas simbólicas construídas nas reportagens sobre as “comemorações devidas” aos 55 anos do golpe militar, propostas pelo presidente – em exercício – Jair Messias Bolsonaro, no ano de 2019, e como estas sustentam relações de poder/dominação na construção do pensamento político-social através da mídia. Ancorados nos preceitos da Análise Crítica do Discurso, principalmente nos estudos de Thompson (1995) e Dijk (2012, 2017), analisamos treze reportagens que veiculam a temática das “comemorações devidas”, sendo seis do jornal Folha de S.Paulo (o de maior circulação no país) e sete do jornal Diario de Pernambuco (o maior do estado), a fim de entendermos como os modos gerais de operação da ideologia constroem relações hegemônicas entre os jornais para com seus leitores e o momento em que essas relações se tornam abuso de poder. A partir das análises, evidenciamos que a mídia funciona como uma engrenagem que não apenas constrói, mas sustenta relações de dominação – dado seu poder de atribuir visibilidade a interesses que podem ser mais ou menos convergentes dentro das esferas de poder, sendo, nosso foco, a esfera histórico-política brasileira. Com isso, evidenciamos também que fatos históricos que marcam a população, como a ditadura militar, devem ser discutidos, analisados e percebidos não só no âmbito científico, mas no social, para que possamos nos tornar, a cada dia, não apenas pesquisadores, mas pesquisadores críticos que entendem seu papel na missão de repelir a possibilidade de uma ciência não valorativa.

Este trabalho tem como objetivo analisar os pronunciamentos de posse dos ex-presidentes do Brasil durante o período da Ditadura Militar como forma de contribuir para os estudos linguísticos atuais. Buscamos, assim, debater o conceito de esperança que é fortemente apresentado nessas estruturas discursivas, propriamente ditas do campo político. Em qualquer contexto social, poder e discurso são ferramentas fundamentais para se comunicar, se posicionar e, principalmente, influenciar outras pessoas. Portanto, estudar o discurso de posse dos ex-chefes de Estado e de governo faz-se necessário para identificarmos quais os direcionamentos ideológicos, as formas de governo e suas expectativas de gestão. Além disso, o importante é perceber quais valores ideológicos estão sendo veiculados nesses discursos políticos. Tomamos como base, especialmente, as ideias de Thompson (1990), Charaudeau (2008, 2015, 2016), Fiorin (1988), Orlandi (1993, 2020), Pêcheux (1995, 1997). Selecionamos os discursos de posse de Humberto de Alencar Castello Branco, Arthur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Baptista de Oliveira Figueiredo, pois representam os 21 anos desse triste e conturbado capítulo da história brasileira. Ao final, percebemos que a noção de democracia, tão enfatizada, tem um papel fundamental, que é o de encobrir a estrutura de um regime marcado pela repressão, perseguições e torturas alinhado a um viés argumentativo perpassado por uma “retórica da esperança”. Além disso, durante o processo de análise, percebemos tendências discursivas e ideológicas da época, além de conhecer a conjuntura sócio-histórica do país.

Considerando a figura de Graciliano Ramos, não apenas entre aqueles representantes da geração de 1930, mas também, no que diz respeito à tradição na literatura brasileira, este trabalho consiste na análise dos elementos expressivos que arquitetam a narrativa do livro Angústia. No romance, o autor aborda a trajetória do burocrata Luís da Silva (narradorpersonagem-protagonista), por meio de suas memórias fragmentadas, cujo objeto principal é a reconstrução do percurso de sua vida desde a infância na fazenda, passando pela adolescência, culminando no romance com Marina, até o estilhaçamento do seu eu. A falência deste relacionamento, por sua vez, promove a ira de Luís, que descontrolado enforca o suposto responsável pela sua derrocada: Julião Tavares. Diante desse cenário, procuramos discutir como o uso de figuras retóricas (metáfora, metonímia/sinédoque) pelo autor alagoano age como elemento de representação das personagens em seus contextos sociohistóricos. Para tal, seguimos as ideias de Antonio Candido (1975; 1999; 2006), Otto Maria Carpeaux (1942; 1952; 1953; 1978) e Sônia Brayner (1978), entre outros teóricos como Michel Foucault (1966; 2006), Eric Hobsbawm (1997), Immanuel Kant (2008) e Paul Ricoeur (2000). Como resultado, percebeu-se que Graciliano Ramos, através da utilização das figuras de linguagem, apresenta seres humanos num processo de conversão em coisas, onde suas individualidades são apagadas em detrimento de um trabalho que não representa suas subjetividades, equiparando-se a automatos. A análise de figuras retóricas atua em paralelo com a apresentação crítica do Brasil no início do século XX, envolto em clima de modernidade, mas herdeiro das oligarquias, das famílias escravocratas e do capitalismo. Assim, analisou-se a ideia filosófica da coisa em si e a influência na construção do pensamento ocidental, as figuras retóricas como protagonistas na arquitetura da narrativa, os personagens vistos como pedaços, o narrador-protagonista e seu discurso no caminho da desumanização, num processo de simbiose entre seres humanos e máquinas, através da figura angustiada e fragmentada de Luís da Silva.