Projeto Pedagógico do Curso

PERFIL DO INGRESSO
São público prioritário deste curso, os/as Agricultores/as Familiares e
Camponeses/as, assentados/as da reforma agrária, aquicultores/as e pescadores/as de base
familiar, comunidades tradicionais em geral, como extrativistas, quilombolas, indígenas
etc, em acordo com a Lei da Agricultura Familiar (Lei nº 11.326, de 2006)
4, bem como
lideranças e técnicos que atuam com os movimentos sociais do campo. Poderão ainda
ingressar no curso, pessoas que busquem uma formação interdisciplinar, voltada para
conhecer e transformar os etnoagroecossistemas, numa perspectiva agroecológica,
fundamentando-se em conhecimentos de diversas áreas (ciências humanas, sociais, da
natureza, agrárias e exatas), e considerando as diversas interrelações existentes na
realidade, seja no âmbito da Agroecologia como Ciência, nas suas práticas e Movimento.

PERFIL DO EGRESSO
O curso de Bacharelado em Agroecologia tem como missão formar um/uma
profissional educador/a que possa:
Atuar em espaços profissionais formais e não formais a partir dos princípios da
agroecologia e da educação popular;
Mediar processos educativos de transformação da sociedade voltado para a
sustentabilidade do planeta;
Contribuir para a ressignificação da relação sociedade/natureza nos diversos
territórios;
Fortalecer as lutas do campesinato, principalmente no Nordeste;
Desenvolver ações educativas utilizando metodologias participativas para
empoderamento dos sujeitos e comunidades do campo;
Diagnosticar, analisar e manejar os etnoagroecossistemas locais desde uma
perspectiva multidimensional;
Elaborar, assessorar, desenvolver processos de articulação e gestão de projetos
comunitários desde uma perspectiva agroecológica;
Desenvolver sensibilidade artística, cultural e espiritual para atuar junto a Povos
e Comunidades com diferentes cosmovisões respeitando as relações de geração,
gênero e etnia;
Ter qualificação para criação e replicação de técnicas e tecnologias sustentáveis;
Articular os conhecimentos da/na comunidade dentro e fora da escola;
Diagnosticar e resolver problemas socioambientais de forma participativa, no
campo e na cidade.



VALORES, COMPETÊNCIAS, ATITUDES E HABILIDADES
Os valores, competências, habilidades e atitudes que um/a profissional educador/a,
formado/a em Agroecologia, Campesinato e Educação Popular deve ter e desenvolver,
permeiam todos os momentos do processo de ensino-aprendizagem no curso, seja por
meio da ação, das tomadas de decisões, do pesquisar, do incitar a pesquisar, do deixar
descobrir, do aprender contínuo, ou ainda dos desafios que permitem transformar pontos
fracos em fortes, defeitos em qualidades, desmotivação em entusiasmo e ação.
Neste curso, há uma valorização da articulação entre os saberes adquiridos na vida
cotidiana com os saberes acadêmicos, como fundamento para que seja possível a
formação de um/a cidadão/ã que possa estar preparado/a para a vida e para a inserção e
atuação no mundo do trabalho, dentro ou fora do mercado.
Neste sentido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) expõe a necessidade
do trabalho pedagógico por habilidades e competências, que mobilizam conhecimentos,
valores e atitudes, agindo de modo pertinente na resolução de situações problemas. Diante
disso, destacamos os valores que o Curso de Agroecologia pretende fortalecer para o
desenvolvimento das competências, habilidades e atitudes de seus/suas egressos/as:
Compreensão referente a valores inspiradores da sociedade democrática:
Reconhecer a importância da democratização da terra e dos recursos naturais;
Considerar o meio ambiente a partir de uma visão agroecológica, na formação dos
valores, comportamentos e visão de mundo, especialmente do rural.
Ressignificar a relação sociedade-natureza considerando os princípios da Vida, da
Diversidade, da Complexidade e da Transformação.
Valorizar os conhecimentos dos povos e comunidades tradicionais, promovendo
o diálogo permanente entre os saberes construídos na universidade e nos
diferentes territórios.
Prezar pela sustentabilidade desde seus princípios social, ambiental, econômico,
político e ético para garantia da existência da sociedade e das gerações futuras.

Afirmar os direitos humanos e a cidadania como condição para o desenvolvimento
da prática profissional.
Considerar o uso, desenvolvimento e compartilhamento de tecnologias a partir de
uma perspectiva participativa, em processos construídos junto com a comunidade
e com respeito à natureza.
Diante disso, a compreensão referente ao domínio do conhecimento que o/a
profissional educador/a, formado/a em Agroecologia, Campesinato e Educação Popular
deve ter e desenvolver, no que diz respeito a Atitudes, Habilidades e Competências podem
ser reconhecidas por meio dos seguintes pontos:
Compreender que a produção do conhecimento é fruto de processo histórico e,
por isso, a importância da crítica, autonomia, criatividade e inovação na formação
técnica;
Caracterizar o processo de evolução da agricultura e os diversos modelos de
desenvolvimento locais;
Analisar os sistemas de produção, considerando a sustentabilidade em suas
múltiplas dimensões: econômica, social, cultural, ambiental e ética;
Conhecer e orientar o manejo agroecológico do solo, considerando os aspectos
físicos, químicos, biológico, cultural e social;
Elaborar, planejar, executar, e avaliar processos de articulação territorial para
desenvolver estratégias locais de economia solidária nas temáticas de produção,
comercialização, consumo, finanças e reciclagem;
Valorizar momentos de formação que deem importância ao lúdico, ao sonho, ao
prazer, a sedução e a esperança no processo educativo;

Identificar e valorizar a importância das culturas e do saber popular na construção
do conhecimento;
Ratificar a importância da dimensão cultural nos processos de transformação;
Conhecer os ecossistemas relacionados à atividade produtiva da agropecuária;
Conhecer os princípios da agroecologia e da educação do campo;
Compreender o campesinato como orientação epistemológica e sujeito coletivo
histórico;
Potencializar a capacidade de planejar, executar e avaliar processos de educação
popular em agroecologia, considerando as especificidades dos diferentes
sujeitos/as do campo e da cidade;
Promover processos voltados para o fortalecimento da soberania e segurança
alimentar e nutricional;
Planejar e implementar estratégias, métodos e processos de manejo sustentável;
Construir e desenvolver projetos de produção agrícola e pecuária considerando os
princípios da agroecologia;
Orientar o uso de técnicas e tecnologias apropriadas para os ecossistemas do
Nordeste – Zona da Mata, Agreste, Sertão;
Elaborar, assessorar e desenvolver processos de articulação e gestão dos projetos
comunitários e territoriais desde uma perspectiva agroecológica;
Diagnosticar, analisar e manejar os agroecossistemas familiares locais desde uma
perspectiva multidimensional;

Realizar ações técnico-produtivas em agroecossistemas familiares considerando a
interação entre os seus diferentes componentes;
Formar sujeitos/as na perspectiva da gestão dos/as atores/atrizes sociais no
desenvolvimento local;
Promover trabalho educativo com aprendizagem significativa e diálogo de
saberes;
Ter sensibilidade artística, cultural e espiritual para atuar junto às diferentes
expressões do campesinato, com diferentes cosmovisões, respeitando as relações
de geração, gênero e etnia;
Fomentar processos de articulação dos/as diferentes sujeitos/as do campesinato
com as políticas públicas relacionadas à Agroecologia.





METODOLOGIA DO ENSINO E APRENDIZAGEM
O processo de ensino-aprendizagem será orientado para formação de
profissionais-educadores/as em Agroecologia, Campesinato e Educação Popular que
possam contribuir com o desenvolvimento sustentável do campo brasileiro, colocando
em prática processos de atuação nos etnoagroecossistemas, fundados em uma formação
crítico-reflexiva-criativa e comprometida com a democratização e a transformação da
sociedade a partir do protagonismo dos agricultores familiares.
O curso está respaldado na experiência acumulada nos mais de 40 anos da
Licenciatura em Ciências Agrícolas, adotando métodos de ensino que possibilitem a
problematização da realidade do campo e da cidade, a construção participativa de
conhecimentos e a integração de conteúdos. Sua orientação metodológica se estrutura de

forma inovadora desde a organização do tempo pedagógico (como apresentado
anteriormente, divididos em vivência universidade e vivência realidade/campo), até a
forma de estruturação das atividades didáticas, os métodos de ensino-aprendizagem e de
avaliação.
Alguns princípios metodológicos são estruturadores da proposta:
# O ponto de partida é sempre a leitura da realidade, do contexto onde os/as
estudantes estão inseridos/as, para que se apropriem de forma crítica dessa realidade. Essa
realidade também é um ponto de chegada, a partir do momento que o processo de
construção do conhecimento é realizado, tendo o/a participante como sujeito/a crítico,
criativo e agente de transformação da realidade.
# O percurso pedagógico tem a inter e a transdisciplinaridade como princípios,
abrindo espaço para o diálogo de saberes, que favorece processos de construção de
conhecimento e apropriação para autonomia e emancipação do sujeito.
# O curso foi estruturado de forma a garantir durante toda a trajetória formativa a
importância pedagógica do sentir, considerando os/as participantes do processo de
ensino-aprendizagem como um todo articulado, que não apenas pensa, mas sente e a
construção do conhecimento se dá também a partir deste sentir. Com isso, valorizando o
autoconhecimento, o olhar para dentro, reconhecendo-se para além da formação técnica,
considerando as expectativas e os sonhos, considerando a formação de um sujeito
integral.
# Todos/as os/as participantes do processo estão em formação: docentes,
discentes, gestores, técnicas/os-administrativas/os e parceiros/as. De forma que a
experiência educativa será vivenciada por todas/os, a partir de seu lugar no trajeto
pedagógico do curso, de forma compartilhada e corresponsável.
Para garantir estes princípios, o curso se embasa na educação popular, teórica e
metodologicamente, de forma a buscar alcançar a construção de um novo paradigma para
a ação educativa no ensino superior e nas ações pedagógicas de forma geral.
Tomando como base a educação popular, construir um novo paradigma
educacional supõe fazer uma opção epistemológica que nos permita pensar nos desafios
globais da “nossa América” (José Martí), recuperando da “visão dos vencidos” (Leopoldo
Zea) a força que emerge de um continente “infinito para criação” (J. Maria Arguedas),

onde o “realismo mágico é parte do cotidiano” (G. Gárcia Márquez) e que tem a
possibilidade de imaginar um projeto de sociedade que não seja “nem imitação nem copia,
mas criação heróica” (J. Carlos Mariátegui). Definitivamente, uma ruptura
epistemológica e uma afirmação política que supõe “optar pelo povo como sujeito” (J.
Luis Rebellato), capaz de construir “a história como possibilidade... porque não somos
simplesmente objeto da história, mas igualmente seus sujeitos” (Paulo Freire). Uma ética
solidária, um novo mundo possível no atual contexto, apenas tem sentido e viabilidade a
partir dos excluídos, os quais poderiam assumir “a responsabilidade planetária dirigida,
não à sobrevivência da espécie, mas à consecução de uma vida realmente humana,
radicalizando a democracia na sociedade mundial” (A. Ibáñez).
Assim, a educação popular latino-americana é, ao mesmo tempo, um fenômeno
sociocultural e uma concepção de educação. Como fenômeno sociocultural, a educação
popular faz referência a uma multiplicidade de práticas com características diversas e
complexas, que têm em comum uma intencionalidade transformadora. São paradoxais,
na medida em que buscam expressar relações de solidariedade em um mundo que prega
o individualismo. Inclusive, pretendem fortalecer a autoestima, a autonomia e o
protagonismo, precisamente dos setores sociais que são excluídos pela lógica que impera.
São, portanto, contestadoras, com potencial capaz de influir com profundidade; ao mesmo
tempo são frágeis e insuficientes perante a força do sistema, ao qual se opõe.
Como concepção educacional, a educação popular está apoiada em uma filosofia
da práxis educacional entendida como um processo político-pedagógico centrado no ser
humano como sujeito histórico transformador, que se constitui socialmente nas relações
com os outros seres humanos e com o mundo. Por isso, esta concepção educacional está
baseada em princípios políticos que apostam na construção de relações de poder
equitativas e justas nos diferentes âmbitos da vida e em uma pedagogia crítica e criadora,
que busca o desenvolvimento pleno de todas as capacidades humanas: cognitivas,
psicomotoras, emocionais, intelectuais e valorativas, que considera, portanto, a
interdependência entre as racionalidades e subjetividades.
Assim, é possível afirmar que, a educação popular deve ser entendida sempre
como produto da história latino-americana, particularmente vinculada aos esforços
transformadores dos setores, processos e movimentos sociais e políticos do continente,

que sofrem, lutam por eliminar as assimetrias de todo tipo. Por isso, acreditamos que é
função dos desafios históricos figurar os esforços de análise crítica e de re-fundamentação
produzidos a partir do campo da educação popular.
Por essa razão, nosso desafio no curso é “ressignificar” a educação popular latinoamericana. Ou seja, redescobrir e recriar os seus sentidos (utópicos e concretos), em
função dos dilemas e desafios que enfrentamos, tanto nos contextos particulares dos
diferentes etnoagroecossistemas locais, como em relação ao contexto global. Realizar um
olhar crítico, situado historicamente, que promova diálogos e debates profundos e
construtivos, teóricos e práticos, levando em conta as diversidades, da mesma forma que
as buscas paradigmáticas comuns.
Nessa perspectiva, o curso se propõe a um tipo de educação que possibilite às
pessoas se desenvolverem como sujeitos/as e atores/atrizes sociais:
a) Capazes de romper com a ordem social que impera e que nos é imposta como
única possibilidade histórica (o modelo de globalização neoliberal);
b) Capazes de imaginar, propor e criar novos espaços e relações no nosso
ambiente local, nas nossas cidades, no nosso estado, na nossa região, no nosso país e nas
instâncias internacionais;
c) Capazes de questionar os estereótipos e padrões ideológicos e de valor vigentes
como verdades absolutas (o individualismo, a competência, o mercado como regulador
das relações humanas...);
d) Capazes de desenvolver nossas potencialidades racionais, emocionais e
espirituais como homens e como mulheres, superando a socialização de gênero patriarcal
e machista e construindo novas relações de poder na vida cotidiana e no sistema social;
e) Capazes de aprender, desaprender e reaprender permanentemente
(apropriando-se de uma capacidade de pensar e de uma propedêutica e metodologia, mais
do que de conteúdos terminados);
f) Capazes de suscitar uma disposição vital solidária com o entorno social e com
o meio-ambiente como expressão e hábitos cotidianos;
g) Capazes de se afirmarem como pessoas autônomas, ao mesmo tempo em que
como seres dialógicos, na busca e na construção coletiva.

Para isso, buscamos inspiração em algumas das chamadas metodologias ativas,
que se propõem a qualificar os processos de ensino-aprendizagem, com métodos
inovadores, nos quais os/as estudantes assumem uma postura ativa no processo de
construção do conhecimento. Alguns exemplos destas metodologias estão nas propostas
da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e na Pedagogia de Projetos (PP).
Em relação a ABL, Mitre et al (2008) nos explica:
Na ABP, parte-se de problemas ou situações que objetivam gerar dúvidas,
desequilíbrios ou perturbações intelectuais, com forte motivação prática e
estímulo cognitivo para evocar as reflexões necessárias à busca de adequadas
escolhas e soluções criativas. (...)
(...) Com efeito, podem ser pontuados como principais aspectos da ABP: (1) a
aprendizagem significativa; (2) a indissociabilidade entre teoria e prática; (3)
o respeito à autonomia do estudante; (4) o trabalho em pequeno grupo; (5) a
educação permanente; (6) a avaliação formativa.
De acordo com a autora, o elemento central desta proposta está na promoção da
autonomia dos estudantes, com consciência sobre seu próprio conhecimento e habilidades
para trabalhar coletivamente. Além disso, “a perspectiva de não-completude da formação
(expressa no conceito/práxis de educação permanente) e a estruturação do processo de
avaliação formativa e contínua - os quais esmaecem, de fato, as diferenças entre as vidas
universitária e profissional” (p.).
Sobre a Pedagogia de Projetos, ao caracterizá-la, Nogueira (2007) afirma que é
preciso diferenciá-la do simples ato de realizar ações previamente discutidas pelas
coordenações pedagógicas e delegadas à execução pelos/as estudantes. Nos termos do
autor:
Numa visão macro, um projeto, por exemplo, temático, é antecedido de um
sonho, uma necessidade, um interesse em projetar, uma vontade de conhecer
mais e, portanto, investigar um tema e/ou assunto(...) são esses os fatores
impulsionadores que levam o sujeito a iniciar sua busca, sua pesquisa, a
caminhada para descoberta e as ações de investigação, dando espaço para o
surgimento do novo. Todo esse processo é permeado por ações, do sujeito ou
de um coletivo, que levam à efetiva realização do projeto (NOGUEIRA (2007,
p:77)).
Com esses aportes, seja trabalhando com ABP ou com a Pedagogia de Projetos
ou com outra metodologia ativa, cada eixo será planejado e executado por um Coletivo
Docente (com uma média de seis a oito professores/as), organizado de acordo com os
conhecimentos que se deseja construir naquele eixo/semestre.

Nesta escolha metodológica, o território é o ponto de partida e chegada para o
processo de construção do conhecimento através da ação de extensão que fornecerá
elementos para as atividades de ensino e pesquisa. O território aqui entendido não apenas
como o conjunto de sistemas naturais e materiais, mas como identidade, pertencimento,
como “o fundamento do trabalho, o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais
e do exercício da vida” (SANTOS, 2002, p.10), definido e delimitado por e a partir de
relações de poder, sendo essencialmente um instrumento de exercício de poder (SOUZA,
1995, p.78-79). Nossa estrutura metodológica está apoiada na necessidade de aprofundar
essa relação com o território por parte dos/as sujeitos/as que fazem parte dele.
Três elementos são fundamentais para isso:
1.
A organização em tempos pedagógicos: Vivência realidade/campo e Vivência
universidade. Estes tempos garantem a efetivação do diálogo de saberes, articulando
permanentemente universidade e sociedade. O tempo pedagógico da vivência
realidade/campo é realizado durante todo o curso, fazendo do território onde o/a estudante
reside e/ou atua o espaço/lugar de estudo, análise e atuação profissional. Esse território é
reconhecido como um lugar de produção de conhecimento, que a partir do diálogo com
os saberes acadêmicos durante o tempo pedagógico da vivência-universidade poderá ser
potencializado, ampliando e qualificando-o.
Entendemos o agroecossistema familiar no qual o/a estudante está imerso, seja
rural ou urbano, como uma unidade pedagógica. Propomos que cada estudante, “adote”
um agroecossistema como um lugar especial de estudo e atuação, onde realizará suas
pesquisas, exercícios e vivências. Com isso, estimulamos o pertencimento e a valorização
dos/as estudantes ao agroecossistema em que vivem, iniciando com a observação do seu
território nas suas diferentes dimensões: sociais, ambientais, econômicas, culturais e
políticas. É nestes lugares (agroecossistemas rurais ou urbanos) que, ao longo do curso,
cada estudante poderá exercitar processos educativos coletivos de atuação e
transformação.
Outro aspecto importante é que a perspectiva orientadora do processo de
construção do conhecimento é o "Território Vivo", ou seja, um lugar onde se possa
experienciar cada vez mais as diferentes dimensões da sustentabilidade. E isso acontece
sempre através de processos coletivos, envolvendo diferentes atores. Assim, o

agroecossistema torna-se um desafio no sentido de repensar este lugar, de socializar e de
partilhar, considerando os processos de troca e transformação da realidade.
As ferramentas das TICs têm um papel fundamental como elo entre esses tempos
pedagógicos, sendo utilizadas para registro e arquivo das tarefas e produções realizadas,
comunicação entre os/as envolvidos/as no processo e acompanhamento e orientação das
atividades no campo.
2.
Todo primeiro tempo pedagógico de vivência-universidade do semestre
consiste numa vivência de campo
, tomando territórios específicos como exemplos para
estudo, análise, atuação e avaliação durante todo o curso. A partir desses exemplos, os/as
estudantes podem analisar com maior propriedade as suas próprias realidades.
3.
A existência de um Conselho Consultivo com representantes de movimentos
sociais e entidades governamentais e não governamentais, que atuam de forma
permanente nos territórios, e que planejam, monitoram, apoiam e são apoiados pelo curso.
Destarte, o curso garante os 10% de extensão previstos na Resolução 220/2016,
para atender a meta 12.7 do Plano Nacional de Educação para os cursos de graduação,
estabelecendo um processo de diálogo permanente com a sociedade, de forma orgânica e
articulada, efetivando a chamada curricularização da extensão, viabilizando “a relação
transformadora entre Universidade e Sociedade”, conforme compreensão de extensão
universitária do Fórum de Pró-reitores (I FORPROEX, 1987), presente na Resolução Nº
148/2004 da UFRPE. Além disso, estabelece condições para possibilitar a prática da
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Ao longo do processo formativo (contemplando cada um dos eixos), a construção
de conhecimento no curso se dá, fundamentalmente, a partir do uso de quatro ferramentas
pedagógicas:
1)
Seminários Teóricos e Práticos (Sementes)
São as diferentes formas de pesquisa, discussão e construção sobre/de
fundamentos, conceitos, princípios e habilidades. Eles são planejados utilizando-se das
diferentes técnicas de ensino, no espaço físico da UFRPE ou fora dele. São também
considerados todos os espaços que permitam vivências práticas agroecológicas, na
amplitude e complexidade de sua interdimensionalidade (Estágios Interdisciplinares de

Vivência; Jornada dos Povos; Caravanas Agroecológicas, Diálogos sobre Agroecologia,
Assembleia Xucuru, Intercâmbios, Imersão em campo, dentre outros).
2)
Atividades Humanísticas e Culturais (Seivas)
Voltadas para fomentar a formação integral dos/as estudantes, permitem que o
processo formativo extrapole a dimensão da técnica, tão enfatizada nos bacharelados.
Estas atividades estimulam a criação artística, o autoconhecimento, o cuidado e a busca
da espiritualidade, através da reflexão mística, das terapias holísticas em grupo, do teatro,
da dança, da música, da poesia, do desenho em quadrinhos, do bordado etc, através de
ferramentas didáticas usadas pelos/as professores/as, das ações dos/as discentes a partir
dos grupos de autogestão e/ou projetos de ensino, pesquisa e extensão. Além disso, estão
presentes de forma permanente nas Semanas de Culminância.
3) Semana de Culminância (Flores)
A cada semestre, o último módulo é destinado à realização da Semana de
Culminância do semestre. Ela consiste em uma atividade nos moldes das que eram
realizadas no curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas, como um exercício
multidisciplinar que envolve todas as temáticas de cada período. Durante a Semana de
Culminância, as/os estudantes matriculados/as naquele período buscarão apresentar uma
síntese de aprendizagens a partir do objetivo definidor de cada semestre. Os/as estudantes
de cada período se reunirão para definir entre si o tema do trabalho a ser apresentado.
Eles/as assumem papel ativo no processo de aprendizagem, de forma cooperativa, pois
deve ser uma construção coletiva envolvendo todos/as da turma, organizados a partir dos
territórios. As apresentações podem ser realizadas em diferentes linguagens, devendo
apresentar as principais ideias discutidas no semestre. Como atividade oficial do
calendário acadêmico do curso, é considerada como parte do processo de avaliação da
aprendizagem.
4) Projeto Interdisciplinar de Construção do Conhecimento - PICC (Frutos)
Ao ingressar no Bacharelado em Agroecologia da UFRPE cada estudante será
orientado/a por um/a docente que o acompanhará ao longo de cada semestre. Esse/a
orientador/a terá o papel de colaborar na construção e acompanhamento do Projeto
Interdisciplinar de cada estudante, que deve ser atualizado semestralmente, dependendo
da necessidade, buscando contemplar o diálogo das intenções individuais com as

temáticas/conteúdos de cada eixo. O PICC pode contemplar atividades de extensão,
pesquisa e ensino, aprofundando temáticas específicas de cada estudante,
contextualizando conhecimentos e fomentando capacidades particulares de cada um/a
deles/as. Para viabilizar a operacionalização, cada orientador/a pode oferecer Grupos de
Produção do Conhecimento, que podem computar a carga horária destinada ao PICC em
cada Eixo/Semestre nas Atividades Complementares.
Ao final do curso, cada estudante realizará um Trabalho Final com a
sistematização da experiência vivenciada no curso, incluindo o estágio obrigatório, que
será apresentado a uma Comissão Avaliadora composta por três docentes do curso
(orientador/a do PICC e mais dois/duas), podendo ser incluídas outras pessoas na
comissão que tenham se envolvido diretamente na formação do estudante.










GRUPOS DE AUTOGESTÃO
Para garantir o protagonismo dos/as estudantes no fazer pedagógico cotidiano do
curso são propostos Grupos de Autogestão. Consideramos que na vivência da
agroecologia, os processos educativos estão por toda parte e é sempre importante discutilos a partir da capacidade coletiva de um grupo de organizar, coordenar e gerir cada
momento pedagógico, envolvendo educadores/as e educandos/as na construção do
conhecimento e na gestão do trabalho pedagógico, seja ele dentro ou fora da sala de aula,
na educação formal ou na educação popular. Buscamos trabalhar no sentido da pedagogia
da autogestão a partir da experiência de educação popular de diferentes movimentos
sociais que buscam democratizar as relações educativas a partir do “
fortalecimento dos
princípios da igualdade e liberdade na incidência na construção de processos
pedagógicos construindo estratégias de partilha e corresponsabilidade no processo de
ensino-aprendizagem quanto aos conteúdos, às ferramentas pedagógicas, à produção
das sínteses resultantes das reflexões, entre outras questões
.” (Vilaça e Dubeux, 2018).
Os grupos de autogestão devem promover a incorporação da corresponsabilidade entre
estudantes, docentes e parceiros/as no percurso formativo, buscando construir juntos as
trilhas do conhecimento.

Assim, o curso propõe uma organização inicial em 04 grupos:
1) Cuidado e Infraestrutura
Tem como objetivo orientar pedagogicamente o grupo para o cuidado com: a) o
ambiente, os diversos espaços de realização das atividades do curso; b) com o tempo das
atividades, ajudando na pontualidade, início, retomada e conclusão dos trabalhos; c) com
o material pedagógico utilizado nas atividades; d) com as pessoas, quanto a
disponibilidade de água, alimentos, ventilação ou outras necessidades do grupo
relacionadas à infraestrutura. Esta comissão fica também responsável pela facilitação do
bem-estar humano, apoiando em casos de pequenos problemas de saúde, com auxílio da
coordenação quando necessário, ou ainda prevendo momentos de relaxamento,
massagem, toques, entre outros. A comunicação sobre isso pode ser feita de diversas
formas: com informes visuais (placas, cartazes, etc), com mensagens virtuais, avisos
durante as aulas, entre outros.
2) Avaliação
Tem como objetivo orientar pedagogicamente o grupo para a realização
permanente da avaliação do processo educativo em curso, visando aperfeiçoá-lo
cotidianamente. Isso pode ser feito a partir de diversas estratégias: questionários,
dinâmicas, entre outros. Deve envolver todo o grupo e ter uma sistematização frequente
dos acordos/procedimentos a serem realizados, reforçados ou evitados a partir da
avaliação.
3) Registro, sistematização e Comunicação
Tem como objetivo orientar pedagogicamente o grupo para o registro e
sistematização do conteúdo e das atividades realizadas pelo grupo ao longo do curso,
visando garantir o acompanhamento consciente por todos/as do processo formativo
cursado, além de registrar historicamente o percurso vivido. Isso pode ser feito por
diversos meios: áudio, vídeo, material escrito, entre outros, devendo a comissão manter
organizado e fazer uma sistematização no final de cada tempo universidade a partir do
que foi registrado.
4) Cultura e mobilização
Tem como objetivo orientar pedagogicamente o grupo para a animação cultural
do processo educativo. Este grupo deverá planejar e realizar as místicas diárias, buscando

sempre a conexão com o processo educativo como um todo. Além disso, propõe
momentos de celebração, para integração do grupo e socialização de saberes. Pode ainda
realizar estratégias de ampliação do acervo cultural do grupo, por meio do acesso a bens
culturais e artísticos diversos ao longo do percurso formativo. Isso é feito por diversos
meios: organização de passeios, festas, mostras artísticas, entre outros. A comissão deve
ainda buscar organizar processos de mobilização do grupo, de atores nos territórios, entre
outros, no sentido de fortalecer o processo pedagógico e permitir que o grupo caminhe de
maneira mais coesa.




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